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“Ourém deve apostar na internacionalização do concelho e da marca Fátima”

Advogado Nelson Faria de Oliveira foi distinguido com a Medalha de Ouro do município de Ourém

Nelson Faria de Oliveira nasceu a 6 de Fevereiro de 1958, em São Paulo, depois dos pais terem emigrado para o Brasil três anos antes. A irmã, mais velha, ainda nasceu em Ourém, de onde a família é oriunda. Aos 12 anos veio com a família para Portugal, onde viveram dois anos. Depois do 25 de Abril de 1974 voltaram ao Brasil, embora o sonho do pai sempre fosse regressar definitivamente à terra natal. Advogado, radicou-se definitivamente em Lisboa, onde a família mora mas vive numa ponte aérea entre Brasil e Portugal. Desloca-se a Ourém todos os meses, onde tem o seu porto de abrigo.

A marca Fátima está devidamente potencializada?Ainda não, mas o presidente da Câmara de Ourém, Paulo Fonseca, está a desenvolver um trabalho muito importante na consolidação da marca Fátima no sentido de internacionalizá-la. Se a marca Fátima for bem trabalhada temos condições de ampliar o turismo, os negócios e todas as oportunidades que vão surgir com essa aposta. O grande milagre de Fátima foi ter acontecido no concelho de Ourém. (risos)O que deve ser feito para promover Fátima?Apostar na internacionalização como o presidente da autarquia está a fazer. A religião é um caminho especial e está bem definido. O Brasil tem 270 milhões de habitantes e para os brasileiros Fátima tem uma energia, um carisma muito especial. É raro o brasileiro que não tem raízes portuguesas e por isso existe um carinho grande por este país. Há que apostar no mercado brasileiro para que venham conhecer Fátima. Trabalhando um pouco mais a marca Fátima no Brasil podemos trazer muito mais turistas para conhecer esta região. O Brasil é o futuro para Portugal.Porquê?Porque os brasileiros gostam muito dos portugueses e o facto de partilharem a mesma língua faz com que haja uma ligação muito forte entre os dois países. Portugal tem grandes potencialidades que tem que aproveitar, como por exemplo ser uma central de compras para os brasileiros no sector das roupas.Como assim?Os brasileiros vão muito a Miami [Estados Unidos da América] fazer compras e sempre que os brasileiros deixam de ir há sinais de crise na cidade, tal é o volume de negócios. Os brasileiros também vêm muito a Portugal mas sobretudo para fazer turismo e acabam por não comprar roupa que podiam comprar. Há uns meses vim com um grupo de brasileiros e levei-os ao Freeport [centro comercial em Alcochete] e eles ficaram encantados porque os preços eram bem mais baratos do que em Miami, por exemplo. O problema é que não têm conhecimento disto.O que falta fazer para os brasileiros virem a Portugal como vão a Miami?Criar um plano estratégico que desenvolva a ligação Brasil-Portugal. Isso será uma mais valia que vai desenvolver Portugal. Portugal é um país forte. O problema é que não acreditamos muito nisso. O brasileiro é mais optimista que o português. Temos que ser mais optimistas, acreditar e insistir mais. E temos que ser mais unidos. Se os portugueses fossem mais unidos nos projectos teríamos mais sucesso.Como correu a viagem dos empresários de Ourém a São Paulo em Maio deste ano?Conseguimos reunir um grande grupo de oureenses, o que acabou por nos surpreender porque não estávamos à espera de muita gente. Apareceram alguns empresários de topo no Brasil que construíram lá a sua vida, que são dos maiores empresários do Brasil e que são naturais de Ourém, ou têm raízes familiares no concelho. Fizeram questão de estar presentes neste encontro com conterrâneos. Foi um dos responsáveis dessa viagem. Que vantagens trouxe este encontro?O objectivo principal foi que todos se conhecessem, para haver um amadurecimento de ideias para futuros negócios. A reunião com a Associação Paulista de Supermercados, a maior associação de supermercados da América Latina, que congrega o grande universo de supermercados, serviu para estabelecer uma aproximação. Agora é mais fácil os empresários portugueses apostarem na exportação no Brasil. É esse o objectivo destas reuniões, fazer a ligação inicial para promover negócios no exterior. Também reunimos com a Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) que é a maior federação da América Latina no ramo da indústria. Estas ligações são muito importantes para promover a internacionalização dos empresários de Ourém.Já se estabeleceram negócios?Ainda não. Houve uma aproximação e isso é o mais importante. A partir daqui as coisas vão desenvolver-se. Depois da viagem a São Paulo, já alguns empresários brasileiros tiveram curiosidade, visitaram Ourém e adoraram. É esta ligação que pretendemos promover. Os Encontros dos Descobrimentos que decorrem esta semana, e que no último dia (7 de Julho) se realiza em Ourém, será muito importante para as pessoas começarem a falar de Ourém. Este evento está a ser divulgado em todo o mundo.Os turistas só conhecem Fátima, não têm interesse em conhecer Ourém?Até agora é o que tem acontecido e é isso que queremos mudar. Queremos que as pessoas também tenham curiosidade em conhecer Ourém. Que venham a Fátima, fiquem uns dias e conheçam o concelho e todos os locais bonitos que existem à volta. Temos que fazer publicidade a uma escala maior e dar a perceber que Fátima tem muita coisa para ser vista. Fátima não é só o santuário. Há muita coisa à sua volta. “Justiça está a ser manipulada pelas forças políticas”Como vê o estado da justiça portuguesa?A justiça, não só em Portugal como no mundo inteiro, está a passar por uma crise. Hoje já não existe a tripartição dos poderes (legislativo, executivo e judiciário) como existia, sendo que os poderes passam a actuar de forma conjunta, fugindo do espírito com que foi criado. O mundo mudou muito mas a justiça não. Os cientistas políticos têm que criar uma nova forma de administração.Existe a ideia de que muitos crimes passam impunes?Infelizmente existe e é péssimo porque tem que haver punição para quem comete crimes, senão a sociedade vira um caos onde tudo é permitido. Tem que haver uma punição, mas o mais importante é trabalhar a parte ética e a protecção da justiça. O que está a ser ameaçada é a própria justiça. O estatuto da justiça está a ser mal utilizado.O que deve ser feito?Devemos ir junto das escolas e ensinar às crianças o que é ética. Tem que haver uma nova formação ética junto dos mais novos para podermos mudar qualquer coisa. Tem que haver uma punição dura para quem comete os crimes. A justiça está a ser manipulada e mal utilizada.O encerramento dos tribunais um pouco por todo o país é o método mais acertado?A ministra da Justiça tem deixado bem claro que não há condições de se manterem tantos tribunais a funcionar, mas essa não é a saída. O Estado tem que proporcionar justiça, e justiça célere. Pode-se até encerrar um tribunal ou outro mas tem que se garantir mecanismos para que essas pessoas tenham segurança e que haja justiça. Não adianta possuir uma estrutura tão grande e não dar justiça de qualidade aos cidadãos. Se a justiça não é ágil nem célere não é justiça.Fechar tribunais no interior do país não prejudica a população?Prejudica e é um incentivo à criminalidade. Se as pessoas estão muito longe de um tribunal nem se dão ao trabalho de apresentar queixas porque vão gastar muito dinheiro. Recentemente tive um cliente, com 82 anos, que acabou sendo lesado e ele disse-me que não valia a pena entrar com uma acção em tribunal porque esta acção pode demorar dez anos e com a sua idade não adiantava nada. As pessoas estão desacreditadas da justiça.Como é que Portugal é visto no estrangeiro?Apesar da crise que o país está a atravessar, Portugal é muito bem visto no estrangeiro sobretudo depois da entrada na União Europeia. Há cada vez mais pessoas a quererem conhecer o país. No mundo judiciário as universidades do Brasil estão cheias de advogados, juízes, desembargadores que pretendem fazer mestrado, pós-graduação em Portugal.Objectivo sempre foi regressar à terra natalO sotaque adocicado não engana. Nelson Faria de Oliveira nasceu a 6 de Fevereiro de 1958, em São Paulo, depois dos pais terem emigrado para o Brasil três anos antes. A irmã, mais velha, ainda nasceu em Ourém, de onde a família é oriunda. Aos 12 anos vem com a família para Portugal, onde viveram dois anos. Depois da revolução do 25 de Abril de 1974 voltaram ao Brasil, embora o sonho do pai sempre fosse regressar definitivamente à terra natal. “Ele disse sempre que o nosso lugar era em Ourém, que tínhamos que voltar”, recorda o advogado.O pai não conseguiu cumprir o sonho mas a família fê-lo. Faria de Oliveira decidiu montar um escritório de advocacia em Lisboa e em 2000 toda a família se mudou definitivamente para a capital portuguesa. Casado há 24 anos, tem duas filhas, que sempre adoraram Portugal e contavam os dias para as férias passadas no nosso país. Nelson Faria de Oliveira vive numa constante ponte aérea entre o Brasil e Lisboa.Todos os meses visita Ourém, o seu porto de abrigo quando precisa de descansar. Diz que Ourém tem uma energia muito positiva, com muitas áreas verdes, que mistura a modernidade com o antigo. Não dispensa a boa comida portuguesa e o afecto das pessoas. Conta que pertence à primeira família Marista de Portugal que surgiu na zona do Cardal, em Ourém, onde o pai nasceu, durante o período das aparições de Fátima. Uma família que deu origem ao Colégio dos Maristas.Dos anos que viveu em Portugal, no início da adolescência, recorda as amizades que fez e os tempos da escola. Os intervalos das aulas em que aproveitavam para ir para os cafés. “Naquela altura não havia muito dinheiro mas convivíamos e divertíamo-nos muito. Ainda guardo algumas amizades dos tempos de escola”, recorda o advogado.Nelson Faria de Oliveira não se lembra de querer seguir outra profissão que não a de advogado. Após a licenciatura abriu um escritório em São Paulo e quando surgiu a possibilidade apostou num escritório em Lisboa. A família vive na capital portuguesa e os seus impostos são pagos cá. Não se importa de viver numa constante ponte aérea porque gosta do que faz. E assim consegue manter amizades nos dois países. Apesar do corrupio garante que nunca teve que dormir em aeroportos. Tem tido a sorte de conseguir vagas em hotéis quando há atrasos nos voos. Problemas com aviões só aconteceu uma vez e só teve noção da gravidade meses depois em conversa com o director da companhia aérea pela qual tinha voado. “Quando o avião chegou à Madeira tivemos que voltar para trás. O director da companhia contou-me que o avião não caiu por pouco. Foi a único problema que houve e no momento nem me apercebi”, recorda com um sorriso bem-disposto. Apaixonado por Ourém, o advogado diz que apesar de ser uma cidade pequena tem tudo o que uma cidade grande também tem. Faltam, no entanto, oportunidades de trabalho. Homem com pensamento sempre positivo diz que os portugueses têm que acreditar que as coisas vão correr bem. “A crise veio mas também vai embora. O meu pai dizia-me sempre: quando a coisa está ruim, acorda uma hora mais cedo. No fim do mês trabalhaste mais e os resultados positivos vão aparecer”, afirma.Nelson Faria de Oliveira foi distinguido pela Câmara de Ourém com a medalha de ouro do município. O advogado não esconde o orgulho pela distinção e considera que é também uma homenagem ao seu pai e ao seu sonho de regressar à sua terra natal.

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