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“Não troco o meu emprego por nada deste mundo”

“Não troco o meu emprego por nada deste mundo”

Dina Teresa Duarte é assistente operacional na Escola Secundária Alves Redol

Aos 58 anos Dina Duarte é um dos rostos mais populares que se encontram nos corredores da Escola Secundária Alves Redol, em Vila Franca de Xira, onde é assistente operacional. Adora o seu emprego e não o trocava por nada deste mundo. Mas fica triste quando vê cada vez mais alunos a passar fome. São sinais da crise, lamenta.

A vilafranquense Dina Teresa Duarte, 58 anos, é um dos rostos mais populares da Escola Secundária Alves Redol, onde é assistente operacional. O nome dado à profissão é novo mas o trabalho já é velho. Dina é o que antigamente se chamava de “contínua”, uma funcionária responsável pela limpeza e auxílio às actividades lectivas. Por ela passaram milhares de jovens que hoje são pais e têm os seus filhos a estudar na mesma escola.A pele envelheceu, os cabelos mudaram de cor mas o sorriso permanece espontâneo como há 29 anos, quando começou a trabalhar na principal escola da cidade. Dina Duarte nasceu em Vila Franca de Xira e considera-se uma privilegiada. “Tive uma infância pobre mas muito boa. Tive a sorte de ter uns pais maravilhosos. Naquela altura ninguém ousava tratar os pais por tu mas eu podia fazê-lo”, revela.Sempre gostou de estar rodeada de crianças e nunca pensou fazer outra coisa. Ainda hoje garante que não trocava o seu emprego por nada deste mundo. “Tive diversas oportunidades de mudar de emprego e nunca quis. Não me estou a ver atrás de um balcão ou de uma repartição de finanças. Gosto mesmo de fazer isto e dá-me imenso prazer entrar na escola”, garante.Dina começou a trabalhar aos 16 anos num infantário. Foi a sua primeira experiência com os mais novos. Estudou na escola comercial de Vila Franca e depois foi trabalhar para um hotel em Londres, cidade onde esteve durante dois anos e meio e onde já tinha família. “Adorei a cidade, as pessoas, a comida e o dinheiro que lá ganhava”, diz com uma risada. Regressou com a morte do pai para trabalhar novamente na área do ensino. Ficou-se pela Secundária Alves Redol. Actualmente serve no quarto piso sul da escola, tem salas a seu encargo e o trabalho consiste em fazer a limpeza dos espaços, tomar conta dos alunos e ajudá-los no que precisem. A alegria do rosto desaparece durante momentos quando fala do comportamento dos novos alunos da escola. “Agora são muito diferentes. A maioria são bons e certinhos mas muitos são de trato difícil, desinteressados e malcriados connosco. É preciso alguma paciência”, lamenta. Num tom mais baixo confessa que às vezes tem vontade de dar uns estalos nos rufiões. Mas nunca o fez.Em contraste o que mais aprecia são os filhos que encontra de antigos alunos. “Uma vez tive um miúdo chamado Miguel Pinto Paiva, que acompanhei no infantário, ele foi para a primária, andou aqui na escola a tirar o 12º ano, foi para a universidade e regressou uns anos mais tarde como professor aqui. Até foi professor da minha filha mais nova. É uma grande emoção”, partilha.Em jeito de brincadeira confessa que nunca foi trancada num armário pelos alunos. “Muitos jovens respeitam-me mais do que respeitam alguns professores, pode meter isso no seu texto”, garante. Dina diz ficar preocupada com a quantidade de jovens que atravessam dificuldades. Muitos passam fome e o caso só não é pior porque as auxiliares têm sempre uma sandes ou um chá à mão para as urgências. “Mas fico triste, nota-se que é um problema que se tem agravado. Há mais gente carenciada. Felizmente a escola tem dado uma boa resposta a esses casos e nós vemos logo quando é que um miúdo precisa de comer”, conta.Actualmente Dina Duarte vive em Povos mas garante que faz toda a sua vida na cidade de Vila Franca de Xira. Confessa ficar triste com o facto da cidade “ser muito morta” e dos comerciantes terem medo de abrir as portas dos seus negócios ao fim-de-semana. “Antigamente as pessoas vinham a Vila Franca para comprar, encontravam o comércio todo aberto. Agora não há um café a funcionar aos domingos. Está tudo a apagar-se”, lamenta. Às festas do Colete Encarnado nunca falta e quando era mais nova chegou a esperar os toiros nas ruas. “Eu vivo o Colete, chegava a sair de casa no sábado de manhã e só voltar no domingo à noite”, conta. Mas também a festa, lamenta, já não é o que era.
“Não troco o meu emprego por nada deste mundo”

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