Não há muitos anos os empregados de escritório não se chamavam técnicos administrativos; as criadas não se chamavam técnicas de serviço doméstico; os trabalhadores não se chamavam colaboradores; os patrões não se chamavam empresários...e por aí fora. Esta mania de criar eufemismos (figuras de estilo para amenizar certas designações) é própria de uma sociedade que não é capaz de olhar, olhos nos olhos. Não somos capazes de falar a direito e com coragem. Se alguém diz uma mentira dizemos que é uma inverdade. Se alguém é um idiota chapado dizemos que denota algumas deficiências cognitivas. Os drogados passaram a ser adictos. As bestas quadradas são apenas deselegantes. Há vinte anos aqueles conjuntos que tocavam nos bailaricos não se chamavam bandas de “covers” ou bandas de tributo a este ou aquele e os amadores com jeitinho para gargarejar e imitar artistas a sério não eram cabeças de cartaz em programas de festas. Os alunos burros chumbavam, sem apelo nem agravo. Os mecânicos, pedreiros, canalizadores faziam bem o que tinham a fazer. Não atamancavam. Escrevo estas linhas para dizer o desgosto que sinto em saber que a mediocridade é promovida e recompensada enquanto o Portugal se afunda cada vez mais.João Carlos de Matos Macedo