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Escultórico Serafim das Neves

Fui com o patriótico cão Mondego ao parque da Barquinha apreciar aqueles nacos de cultura que são as esculturas de mais de setenta mil euros cada. Levei-o comigo para calar a boca dos críticos que insistem em dizer que aquilo é abaixo de cão. O Mondego, a quem desde já agradeço a amabilidade que teve em me acompanhar, farejou as onze obras de arte e marcou todas com a sua inconfundível assinatura crítica, usando o pincel com mestria. Resultado ultra-positivo. Qual abaixo de cão, qual carapuça. Todas elas estavam bem acima de cão. Muitos e muitos centímetros acima. Metros até, nalguns casos.Embora tenha abocanhado com visível alegria algumas daquelas fitas de não deixar entrar moscas que a famosa Joana Vasconcelos pendurou numa rede, provavelmente a fazer de palácio de Versalhes, uma das esculturas que mais atraiu e deliciou o meu convidado foi a “Torre” em granito, do artista Pedro Cabrita Reis. Depois de observar com atenção canina a placa com as explicações, entrou numa espécie de transe intelectual. Foi até lá, cheiriscou... cheiriscou... e alçou a perna com elegância, marcando a mesma como Património Cultural da Humidade. Foi um momento sublime. Confesso que só me apeteceu uivar!Também eu gostei de ler a placa. Deixa larga margem de manobra a cultores da interpretação criativa. Até transcrevo um pedacinho para que o possas saborear, com tranquilidade, no remanso do lar: “(...) estamos perante um modelo de edifício ou um exemplo de monumento, uma citação arcaica da ideia de torre e castelo ou um modelo e marco memorial (...)”. Não alcei a perna mas senti as pernas vergarem-se-me ao peso da minha ignorância artística. Felizmente o Mondego animou-me com uma valente mijadela num sapato, antes de se ir deitar à sombra daquilo que eu pensava ser um tanque gigante em cimento mas que, afinal, é outro naco escultórico de alto gabarito, onde não estou habilitado a ferrar os dentes.Não vi por lá o presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha e ainda bem. De tão emocionado que estava poderia ter sido demasiado expansivo nas minhas felicitações pelo dispêndio de tanta massa em cultura. E tu bem sabes quantos dias passaste no hospital depois daquele abraço de felicitações com palmadas nas lombeiras, que eu te dei a propósito de uma abundante vitória do teu Sporting sobre o meu clube. Pelo que li, o Presidente da República também foi à Barquinha por causa daquele ensopado de arte à beira Tejo plantado. Era inevitável. Os nossos políticos não resistem ao chamamento da cultura. Abençoados!!O presidente da Câmara de Torres Novas, António Rodrigues, disse esta semana ao povo para esquecer as festas da cidade para todo o sempre. A partir de agora, anunciou ele, a animação anual de Verão vai ser uma feira medieval. Festas com fados de Coimbra no rio Almonda à luz de archotes e com concertos de bandas com nomes esquisitos constituídas por jovens que andam a aprender a tocar guitarra, acabaram de vez. Pelo menos até ao fim do próximo ano que é quando o senhor fica, legalmente impedido de fazer mais disparates no concelho, por não se poder recandidatar ao cargo. Pela minha parte, tudo bem. Só espero é que a tal Feira Medieval tenha...um bobo à altura!!!Um abraço artísticoManuel Serra d’Aire

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