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Juntas de bois que participaram na Festa da Bênção do Gado foram alugadas em Ourém

Os agricultores de Riachos são dos que usam equipamentos mais modernos e os animais são cada vez menos
Foram duas juntas de bois de Ourém que participaram no Cortejo da Bênção do Gado na tarde do domingo, em Riachos, concelho de Torres Novas. O recurso ao aluguer de animais noutro concelho significa um corte na tradição mas foi inevitável. Mário Luz, que alguns consideram ser o último cingeleiro (dono de junta de bois que era contratado para lavrar as terras) da vila teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) há cerca de um ano que lhe reduziu a mobilidade e não pode desfilar como em 2008 à frente dos seus animais. Sem mais ninguém da terra a quem recorrer a organização foi obrigada a recorrer à “importação”. A Festa da Bênção do Gado em Riachos, Torres Novas, que se realiza de quatro em quatro anos, tem como principal elemento simbólico a imagem do Senhor Jesus dos Lavradores, um Cristo crucificado, que se diz ter sido encontrada na Idade Média, num campo que andava a ser lavrado por um cingeleiro com a sua junta de bois. Resta como consolação, para as pessoas mais bairristas de Riachos, saberem que apesar de não haver bois, não faltaram “cingeleiros”. Os homens que conduziram as duas juntas de Ourém eram de Riachos.Vestido com o traje de boieiro, com calças e camisa com capuz castanhos, Manuel José Mendes acende um cigarro e refresca a garganta com uma cerveja enquanto aguarda pelo início do cortejo. Apesar da junta de bois não ser sua, cumpriu com sucesso a sua missão de conduzir o Galante e a Cavalinha, nomes dos animais, pela avenida principal de Riachos. O improvisado Cingeleiro conta a O MIRANTE que em criança chegou a andar à frente de juntas de bois de um tio e desde 2000 que conduz uma junta de bois no cortejo, embora os animais não sejam seus. “Se eu tivesse dinheiro comprava já uma junta”, diz meio a brincar. Manuel José Mendes faz questão de explicar como prepararia os seus animais. “O primeiro passo é castrá-lo com seis meses de vida. Com um ou dois anos começam a andar com a canga em cima para se habituarem. Depois são engatados à charrua. A partir daí se puxarem bem podem ser utilizados numa junta (emparelhado com outro)”, explica. Manuel Mendes defende ser importante manter a tradição desta festa e acredita que em Riachos é para continuar uma vez que, diz, há muitas pessoas que se interessam pela preservação das tradições. A corroborar a sua opinião tem a seu lado o pequeno David com um traje igual. É a primeira vez que o menino vai conduzir os bois mas garante que não tem medo e está pronto a desempenhar a tarefa com brio. “Sempre gostei de animais e também gosto destes. Vai ser fácil conduzi-los”, garante convicto. Centenas de pessoas participaram no cortejo que foi um dos momentos mais aguardados da festa de Riachos. Muitas foram para pedirem a bênção divina para si próprios, para os animais e para as máquinas agrícolas. Ao longo do percurso muitas casas tinham as janelas e varandas ornamentadas com colchas e flores de papel. A Festa da Bênção do Gado 2012 terminou na manhã de segunda-feira com a devolução da imagem do Senhor Jesus dos Lavradores à Igreja de Santiago, na cidade de Torres Novas, onde se encontra habitualmente.

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