As históricas cooperativas de consumo estão a tentar renascer das cinzas
Só resistiram à crise duas lojas criadas na região por trabalhadores após o 25 de Abril
São um património histórico e colectivo mas não aguentaram a concorrência dos ferozes hipermercados e mais recentemente as dificuldades em pagar empréstimos que tinham sido feitos para modernizar as lojas das cooperativas de consumo.
As velhas cooperativas de consumo nascidas na região no pós 25 de Abril, antes do boom dos hipermercados ter invadido cidades e vilas, estão a tentar renascer das cinzas. Na década de 80 chegaram a ser 13 as cooperativas formadas por trabalhadores que facultavam descontos nos produtos alimentares com lojas um pouco por toda a região. Hoje há apenas duas lojas em funcionamento depois de um processo de insolvência da CoopRibatejo, estrutura na qual se fundiram as várias cooperativas no final dos anos 80. A insolvência foi decretada no ano passado quando já algumas lojas Coop como a de Almeirim tinham fechado, mas os credores deram um voto de confiança e está-se a tentar reabrir algumas lojas que constituem um pedaço de história. José Luís Cabrita foi até há poucos meses dirigente da Fenacoop - Federação Nacional Das Cooperativas de Consumidores e conhece bem a realidade da região. Chegaram a existir 16 lojas em concelhos como Santarém, Alcanena, Benavente, Azambuja e Cartaxo. O movimento cooperativo tem um património valioso e é nele que assenta o futuro como garantia na renegociação com a banca para relançar algumas lojas. Cabrita acredita que muitas podem abrir em breve, mas outras vão ser enterradas definitivamente. “Se não tem aparecido a crise acredito que muitas ainda se mantinham em actividade”.A concorrência dos hipermercados, com uma gestão comercial feroz, fez mossa. Mas também houve erros de gestão, admite José Luís Cabrita. Foram feitos investimentos avultados na modernização das lojas com recurso a empréstimos. Só que o crédito era de curto prazo por ser mais barato na altura e deixou de haver condições para pagar. Mas o ex-dirigente da Fenacoop aponta também a impossibilidade de se recorrer a fundos comunitários, porque os regulamentos não tinham em conta as especificidades das cooperativas. As cooperativas foram muito importantes em muitas terras e ainda hoje fazem parte da memória de muita gente. E marcaram não só os hábitos de consumo como a sociedade. Os produtos eram mais baratos porque havia um controlo apertado das margens de lucro e da qualidade. Os sócios ainda tinham descontos adicionais em relação ao público em geral. As lojas davam emprego a muita gente. Quando estas fecharam, 80 pessoas foram para o desemprego. Alguns tinham pedido a suspensão dos contratos e podem ser repescados para os estabelecimentos que venham a abrir. O que distinguia este modelo era o facto de os donos serem os próprios consumidores, os trabalhadores que as fundaram e os que vieram a aderir como sócios. Mas isso também tinha as suas desvantagens. Apesar de nos últimos anos a gestão estar entregue a profissionais, os dirigentes “eram pessoas com fraca formação e não eram do sector”, lembra José Luís Cabrita, que defende agora a profissionalização desses mesmos dirigentes. As cooperativas de consumo, reforça, são “um património histórico e de propriedade colectiva”. Antes da revolução de Abril apenas existia uma no distrito, a de Tramagal, fechada há duas décadas. As cooperativas eram também dos poucos sítios onde se podia exercer a democracia num Estado totalitário e ditatorial. “Eram os únicos sítios onde o povo podia escolher, podia votar”, diz o ainda colaborador da Fenacoop.
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