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Veia de negociante manifestou-se desde tenra idade

Veia de negociante manifestou-se desde tenra idade

José Luís Rosa é negociante de gado e de palha em Marinhais, de onde é natural

Ainda criança, com dinheiro que achou, comprou um leitão e um borrego. Deu-lhes de comer e tratou-os para os vender mais tarde por mil escudos, quase sete vezes mais que a compra inicial. Foi o primeiro negócio de José Luís Rosa. A partir daí nunca mais parou.

Uma segunda-feira, a caminho da escola, José Luís Rosa encontrou no chão duas notas de 100 escudos bem dobradas, perto do recinto da feira de Marinhais. Ficou entusiasmado e contou aos colegas. Noutro dia, um dos rapazes disse que as notas pertenciam a um tio dele. José Rosa respondeu que eram sim de um tio seu do norte. Ficou sem 50 escudos que o pai quis dar a um trabalhador que se ia casar. Com os 150 escudos restantes no bolso, caídos do céu, investiu rapidamente e de forma certeira. Não quis bicicletas, nem jogos, comprou um leitão e um borrego. Deu-lhes de comer e tratou-os para os vender mais tarde por mil escudos, quase sete vezes mais que a compra inicial. Assim foi repetindo outros negócios com animais e sempre a ganhar. Estava visto que José Luís Rosa tinha herdado do pai e do avô a veia de negociante de gado e palha que mantém até à data, com 69 anos cumpridos. “Todos os domingos ia ao mercado do gado a Santarém com o meu pai de bicicleta”, reforça o negociante, que aos 14 anos teve uma motorizada, uma Royal Norton de quatro velocidades, a única de Marinhais durante muito tempo. É junto à Estrada Nacional 118, na saída de Marinhais para Salvaterra de Magos, que mantém a sua base. A propriedade tem um estábulo com vacas para engorda, há suínos de várias raças, ovelhas, cabras, perus espalhados à solta nessa e noutras propriedades em redor que José Luís Rosa foi adquirindo ao longo dos anos. Mais de dois mil fardos de palha e de feno estão empilhados debaixo de um telheiro. A palha, mais amarelada, leve e debulhada, e o feno, mais escuro, com as sementes do trigo intactas. Nos últimos anos o negócio abrandou mas José Luís Rosa deixou o seu nome bem vincado entre comerciantes do norte e do Alentejo. A sua maneira de falar sobre o trabalho é vibrante e, nos trabalhos que assumiu, fez sempre mais do que a profissão exigia. Estudou até à quarta classe e começou a trabalhar numa serração perto de Muge aos 10 anos a troco de sete escudos e 50 centavos por dia. Saiu passados três anos para ir trabalhar com o pai com uma junta de bois a tirar arroz num campo do Paul de Magos. Trabalhou com bois até ir para a tropa durante três anos. Começou em Elvas como condutor e passou pelo Regimento de Cavalaria do Porto. Especializou-se como condutor na Escola Prática de Engenharia em Tancos. Saiu da tropa com 24 anos e foi colocado numa empresa do Sobralinho. Acabou por sair após ser promovido a chefe de turno, quando os colegas mais antigos não paravam com “bocas”. Regressou a Marinhais para trabalhar num posto de combustível onde também vendeu motorizadas e carros à noite, enquanto durante o dia era fornecedor de tabaco. Foi a partir daí que pensou em estabelecer-se por conta própria, pois após o 25 de Abril já tinha algum pé de meia. Começou a ser conhecido como negociante no Ribatejo, Alentejo e norte de Portugal, para onde vendia gado e palha. Pela positiva diziam que pagava com notas do Banco de Portugal em vez de “cheques sem calor”. Por isso também conseguia preços mais em conta.Actualmente possui duas camionetas para transporte de palha que leva a casa de quem encomenda, trabalhando num raio entre Almeirim e Vila Franca de Xira. Além de ração, dá cenouras e refugo da cenoura ao gado. Tem porcos que só comem fruta. Opções para que a carne dos animais seja mais saborosa e tenra a quem a venha a ter no prato.Tem armazenados mais de dois mil fardos de palha e feno que costuma comprar em Espanha. Compra os fardos de palha, que pesam entre 18 a 22 quilos, e fardos de feno com 25 quilos. Conta com apenas um empregado. “O negócio baixou muito. Noventa e cinco por cento dos criadores de gado desapareceram”, garante.Começa o dia entre as 05h30 e as 06h00 e vai tratar dos leitões paridos há um par de semanas, das vacas e dos outros animais da quinta. Também trabalha com o tractor e a carrinha pick-up quando são necessários outros trabalhos. O domingo é o único dia em que abranda o ritmo. Fecha os portões da propriedade e levanta-se mais tarde, perto das dez da manhã. É o dia que costuma dedicar à família. Não pensa em parar de trabalhar, mas sim em abrandar o ritmo. “Quem não o ganhou até aqui já não vai ganhar”, conclui.
Veia de negociante manifestou-se desde tenra idade

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