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Carlos Calado ainda salta e tem planos para ir aos Europeus de Pista Coberta em 2013

O atleta de Alcanena competiu na última época pelo Grupo de Atletismo de Fátima

Prestes a completar 37 anos em Outubro, o único atleta olímpico do concelho de Alcanena e dos poucos da região, com presenças em Atlanta (1996) e Sydney (2000), representa o Centro Desportivo de Fátima. Passou pelos três grandes clubes portugueses mas foi no Sporting que se destacou. Lamenta que o Estado português não tire proveito dos seus ídolos na captação de talentos, numa modalidade “madrasta” como o atletismo. Por isso, ao mesmo tempo que corre, faz prospecção de investimentos imobiliários na área do turismo.

O saltador em comprimento Carlos Calado, nascido em Alcanena, ainda não pendurou os ténis de corrida e, quase a completar 37 anos, tem os olhos postos nos campeonatos da Europa de pista coberta de 2013. É assim que fala com a ambição de ainda participar numa grande competição internacional, tendo até em vista que não se têm feito resultados de grande monta no salto em comprimento durante as grandes competições. O atleta tem corrido pelo grupo de Atletismo de Fátima que ajudou a subir até à I Divisão Nacional de atletismo e diz que o alcançar de objectivos depende de uma boa preparação sem o azar das lesões. Em paralelo com a carreira desportiva, apoiada por um hotel de Fátima, Carlos Calado desenvolve um trabalho na prospecção de investimentos imobiliário na área do turismo. Afinal, as participações em Atlanta (1996), Sidney (2000), o título de campeão europeu de sub-23 nos alto em comprimentos, ou as medalhas conquistadas em mundiais de pista coberta e ao ar livre, não proporcionaram o conforto financeiro que permita pensar num futuro a médio e longo prazo.Diz que tem saudades das grandes competições, dos picos de adrenalina, desde que se afastou das competições em 2005 devido a sucessivas lesões e numa altura em começou a pensar no que fazer no pós-carreira. “Enviei currículos para uma série de empresas e instituições na área das vendas, o meu sector de trabalho, e ter 30 anos já era um óbice de dimensão para não servir. Também não tinha experiência depois de mais de dez anos dedicados à carreira desportiva de alta competição. Talvez tenha abandonado prematuramente”, recorda Carlos Calado. Regressou ao Sporting, onde obteve os maiores êxito da carreira, em 2009, mas ficou pouco tempo por imposição interna de uma seccionista.O atletismo é persona non grata no desportoPara Carlos Calado o atletismo é persona non grata no desporto. Além de os atletas terem de investir fortemente na sua preparação, grande parte dos clubes continua a funcionar mal, refere. “Estive num clube dez meses e não me pagaram sete, e dois anos noutro sem qualquer vencimento. Tive de ir com a situação para tribunal. Há 11 anos o mercado da publicidade aos atletas não estava como funciona hoje. Fui condecorado pelo Presidente da República, recebi a medalha de mérito desportivo, mas nem eu nem outros atletas somos aproveitados pelo Estado para captar talentos para o atletismo junto das cidades, de localidades com pista de atletismo ou junto das escolas”, comenta, criticando a intenção governamental de reduzir ainda mais a educação física nos planos escolares.Carlos Calado lembra que os centos de alto rendimento só tiveram um boom de há meia dúzia de anos até à data e que continuam a privilegiar modalidades como a natação, o futebol ou o triatlo. Lembra que, para um atleta individual, é difícil contar com um massagista, fisioterapeuta ou médico sempre disponível.O atleta de Alcanena, a residir em Leiria há vários anos, tem assistido quando pode aos Jogos Olímpicos na televisão, com foco nos atletas portugueses e nas disciplinas técnicas, as suas preferidas. Defende também que falta um psicólogo e um assessor de imprensa para ajudar os atletas nos momentos que podem ser de glória ou de fracasso. “Quando se reage a quente no pós-competição, como aconteceu com Marco Fortes há quatro anos, alegre, acabado de ser eliminado, muitos não perceberam a sua mensagem. Pode-se ser muito penalizado. Devia haver alguém que os aconselhasse nesse aspecto”, conclui. Casado há um ano e com uma filha de dois meses, Carlos Calado, tem agora duas grandes preocupações: cuidar dos seus e continuar a lutar por uma carreira no atletismo e classificar-se para uma grande competição. A continuidade no Grupo de Atletismo de Fátima para a próxima época ainda não ficou definida mas uma coisa é certa: o atleta não pensa arrumar os ténis. Com raízes em Alcanena, onde tem os pais e os irmãos, ainda é reconhecido na localidade como no país.Troca de camisolas com Carl LewisCarlos calado passou pelos Jogos Olímpicos de Atlanta e Sidney, falhando Atenas por lesão. Desses momentos, guarda a grandiosidade dos eventos e dos espaços. Desde a aldeia olímpica com 13 mil atletas, técnicos e jornalistas, às 120 mil pessoas na Austrália a encherem o estádio logo pela manhã. O mais marcante foi conhecer Carl Lewis. “É o meu ídolo de sempre e estive ao lado dele, em Atlanta, na mesma pista de saltos. Acabámos por trocar camisolas. Mantenho amizade com o cubano Ivan Pedroso, que vive em Espanha, com o espanhol que foi recordista da Europa do salto em comprimento, Yago Lamela. Ficam as amizades para lá das competições”, refere Carlos Calado, lembrando também uma corrida de bicicleta com a comitiva argentina na aldeia olímpica.O “branco” mais rápido do mundoDurante algum tempo, Carlos Calado foi o atleta branco mais rápido do mundo ao ter como recorde pessoal 10,11 segundos nos 100 metros. Na Europa, só Linford Christie era mais rápido. Só com a naturalização de Francis Obikwelu, nigeriano de nascimento, o recorde português baixou para 9,86 segundos. Carlos Calado é contra a naturalização de atletas que já tenham competido por outro país e considera que esses processos só costumavam avançar quando os atletas obtêm grandes marcas. Para a história ficam os seus registos pessoais: 100 metros: 10,11 segundos; comprimento _ 8,36 metros; triplo salto _ 17,10 metros e 200 metros _ 20,90 segundos.

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