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Multiplicação de equipamentos públicos em Vila Franca foi um erro

Multiplicação de equipamentos públicos em Vila Franca foi um erro

Odete Silva é deputada da Assembleia Municipal e na Assembleia da República

Construir pavilhões desportivos e piscinas municipais nas várias freguesias do concelho de Vila Franca de Xira foi um erro, entende Odete Silva, eleita pela coligação Novo Rumo na assembleia municipal e deputada do PSD na Assembleia da República, atendendo ao facto de muitos equipamentos terem uma fraca procura. Odete Silva defende ainda que os presidentes de câmara que deixam um município com muitas dificuldades financeiras deviam ser impedidos de se candidatarem a outras câmaras municipais. Conversámos com a deputada no gabinete que lhe foi entregue na Assembleia da República. Não há molduras ou quadros e a secretária estava cheia de papéis, a maioria das várias comissões parlamentares a que pertence. Apenas uma garrafa em miniatura de licor Beirão - oferecida por um colega - destoava no cenário. Odete vestiu-se de forma formal, nunca mexeu no telemóvel nem no iPad e fumou dois cigarros - um antes da conversa e um no final, à janela, com vista para o jardim do Parlamento. Só pediu para interromper a entrevista para beber um copo de água e nunca hesitou numa resposta. Enquanto caminhámos nos corredores da Assembleia Odete perdeu-se uma vez. “Ainda não consegui memorizar todos os caminhos desde que aqui estou”, confessa.

O que faz um deputado pela nossa região?Os deputados não devem esquecer-se da população e do concelho que os elegeu. A minha primeira preocupação foi escrever uma carta a todas as instituições e colectividades do concelho de Vila Franca disponibilizando-me para ajudar e colaborar naquilo que fosse necessário. No seguimento desses contactos acabei por reunir com várias associações e transmiti aos ministérios as preocupações que me foram endereçadas, a maioria de âmbito económico e social. Também apresentei dois requerimentos relacionados com acordos feitos pelo Ministério da Educação e pela Simtejo com a câmara municipal.Vive numa cidade com 29 mil habitantes e dois jardins. Usa-os?Dois? Está a ser generoso (risos). Só temos um verdadeiro espaço verde, que é a Quinta da Piedade, onde costumo ir. Sinto-me a viver numa cidade de betão. A Póvoa já não tem espaços disponíveis para construção de novos espaços verdes. E nos poucos que existem não tem havido cuidado na sua manutenção e limpeza. A Póvoa precisa de novas zonas verdes, mais limpeza urbana, de uma ligação ao rio. Estamos de costas voltadas para o Tejo.Concorda que a câmara pague uma renda de um milhão por ano para ter os serviços concentrados no Vila Franca Centro?A gestão através da concentração de serviços é muito positiva. Até porque se consegue poupar dinheiro promovendo uma economia de escala. O valor da renda tem a ver com os valores praticados pelo mercado. A estrada de São Marcos abateu em 2010 e ainda não foi reparada. O interior do concelho está esquecido?Se analisarmos o concelho de uma forma transversal vemos que as grandes cidades também são esquecidas, tanto ou mais que o interior do concelho. Em relação à estrada deveria ser feita uma averiguação séria e serem encontrados responsáveis. Não faz sentido estar no orçamento deste ano uma verba para a reparação da estrada quando nem sabemos qual a razão por que abateu. Corremos o sério risco de daqui a quatro anos acontecer a mesma coisa. Usa algum equipamento municipal, como as piscinas, por exemplo?Não. Confesso que sou um pouco preguiçosa no que toca ao desporto. Mas vejo com preocupação a duplicação desses equipamentos no concelho. As piscinas da Calhandriz são o exemplo de um equipamento que não é o adequado para aquela população. Uma boa gestão deve ser mais que contar os cêntimos. Deve contemplar estudos de custo e benefício. Também as piscinas do Forte da Casa foram um erro, deviam ter sido feitas junto às escolas. Esta duplicação de equipamentos municipais foi um erro. O facto de não termos de pagar a totalidade dos investimentos não significa que tenhamos de desbaratar dinheiro. A situação do Instituto de Apoio à Comunidade também é um caso de má gestão? O valor em dívida é assustador. Vejo tudo isto com preocupação sobretudo por causa da salvaguarda dos utentes e dos funcionários. Os dirigentes passam mas as instituições ficam e o seu bom nome deve ser preservado. Parece-me difícil que o IAC tivesse condições para continuar naquele caminho de aumento do seu volume de dívidas.A Câmara de Vila Franca é das poucas do país que tem uma boa situação financeira. A quem atribuiria o mérito nesta situação?É uma situação positiva mas não deixa de ser preocupante. É verdade que o executivo PS ganhou as eleições em 1997 e geriu a câmara durante um período favorável. Mas começamos a assistir aos orçamentos em queda. O PS assentou a sua gestão na base da construção civil, não tendo preparado o concelho para um desenvolvimento económico. Com a crise na construção as receitas diminuem. Há uma tendência para que os próximos orçamentos sejam mais reduzidos e a gestão cada vez mais difícil.O que é que fazia aos autarcas que deixam as câmaras super-endividadas, como acontece com Azambuja e Santarém?Uma das sanções poderia passar por serem impedidos de apresentar uma recandidatura a outro município. Se estão a prestar um mau serviço e a fazer uma má gestão, as populações não merecem ser castigadas. Quem ocupa cargos públicos tem de ser responsabilizado pelos erros de gestão.Sendo eleita do PSD não deve estar contra a reforma administrativa. Não deveríamos ter ficado apenas pelas freguesias. A lei não impede uma agregação de municípios e isso talvez fosse bom. As assembleias municipais puderam pronunciar-se. O problema é que muitos partidos, como o PS de Vila Franca, decidiram não querer assumir essas responsabilidades e debater o assunto. No concelho este tema foi tratado de forma irresponsável. O que vai mudar na vida da população com esta reforma?O dia-a-dia das pessoas vai melhorar, ganhamos em economia de escala, em competências directas das juntas de freguesia e nas respectivas verbas financeiras. No caso de Vila Franca o prejuízo que pode ser causado às populações poderá vir do facto de a decisão caber a uma unidade técnica ao invés de ter tido em conta as propostas da assembleia municipal. O PS que governa o concelho poderia ter enviado uma proposta ou um parecer para a assembleia municipal, mas demitiu-se dessa responsabilidade. “Não acredito em todos os políticos”Odete Silva, casada com Rui Rei, vereador na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, confessa que não acredita em todos os políticos e que nunca o marido lhe pediu uma cunha. Diz que quando a coligação Novo Rumo perdeu os pelouros o assunto foi discutido em casa mas admite que também tem vida pessoal que precisa de ser gerida. “O PS ainda não interiorizou que não manda sozinho e que existem outras forças no concelho que têm uma palavra a dizer sobre a gestão municipal. Não me parece que ter retirado os pelouros em plena reunião pública tenha sido a postura mais correcta”, refere. Odete Silva diz que é possível aos deputados estarem em Lisboa e terem percepção dos problemas da população mas admite que nem todos têm essa preocupação. Quando questionada sobre o que diria a quem acusa os políticos de estarem na Assembleia a criar e a proteger lóbis que os fazem enriquecer a deputada é irónica: “Ainda não me convidaram para integrar nenhuma empresa”. “Eu não sou licenciada. Os grupos parlamentares têm toda a vantagem de ter o maior leque possível de profissões nos seus grupos. Não acho que uma licenciatura seja importante. O que conta é a capacidade de trabalho”, argumenta. Diz ainda que o país foi mal gerido por basear o seu dia-a-dia no crédito.Uma gestora que gosta de policiais e jazzOdete Maria Loureiro da Silva, 40 anos, nasceu no Porto e foi ainda jovem para o concelho de Vila Franca de Xira com os pais. Está casada com o vereador da Câmara de Vila Franca de Xira, Rui Rei (Novo Rumo). É gestora e trabalhava numa empresa de distribuição de combustíveis antes de ser eleita deputada. Não se licenciou e considera que o canudo não é condição fundamental para se desenvolver um bom trabalho. Foi eleita pelo círculo de Lisboa do PSD. Integra as comissões de Segurança Social e Trabalho; Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local; Ética, Cidadania e Comunicação e dois grupos de trabalho. É presidente do grupo de coordenação autárquica do PSD de Vila Franca de Xira. Odete Silva confessa que nos primeiros meses se perdeu nos corredores da assembleia e que o tempo é pouco para estar em casa a falar de trabalho. Gosta de livros policiais, jazz, passear e caminhar nos tempos livres. Considera-se uma pessoa com autocontrolo. “Não tenho uma paciência de ferro mas não é fácil tirarem-me do sério”, conclui.Bombeiros da Póvoa pediram reconhecimento do município de Vila FrancaOdete Silva é também presidente da direcção dos Bombeiros da Póvoa de Santa Iria e diz que se vivem momentos de aflição financeira nas corporações. Grande parte da contestação dos soldados da paz é para com medidas impostas pelo Governo do seu partido mas Odete Silva garante que sabe separar as águas. “Também já fiz chegar as minhas preocupações ao ministro, sobretudo as que se prendem com a retenção do IRS e estou convencida que ele irá ter a sensibilidade e o bom senso de aplicar alguma justiça nesse assunto”, defende. Se os bombeiros do seu quartel fizessem uma manifestação em Lisboa diz que não iria participar. “Nunca achei que as manifestações fossem caminho para resolver alguma coisa. As pessoas devem esgotar todas as possibilidades e dialogar primeiro”, refere. Odete Silva reconhece que o município de Vila Franca tem ajudado bastante as corporações de bombeiros do concelho e confessa que os voluntários da Póvoa pediram à Liga dos Bombeiros Portugueses para atribuir uma medalha de mérito ao município.
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