A contabilista amiga e psicóloga improvisada da Junta de Freguesia de Fátima
Fernanda Castanheira é funcionária da autarquia há 27 anos
Ainda são muitos os que vêem Fernanda Castanheira como a ‘dona’ da Junta de Freguesia de Fátima. É ela a funcionária mais velha e com mais anos de serviço e quando é preciso tratar algum documento há quem prefira esperar mais uns minutinhos para ser atendido por ela. Fernanda Castanheira tem 67 anos e é a contabilista da junta há 27 anos. Além de contabilista, faz de tudo um pouco. Até de psicóloga. “Há muitas pessoas que sempre que têm algum problema recorrem à junta de freguesia para saberem o que têm que fazer. Enquanto aqui estão aproveitam para falar dos seus problemas e nós ouvimo-los e aconselhamos e isso faz com que as pessoas, sobretudo as mais velhas, venham cá sempre que sentem necessidade”, explica.Nasceu em Proença-a-Nova, por desejo do pai, que fez questão que a filha nascesse onde ele tinha nascido. Viveu na capital até aos dez anos, altura em que o pai, que trabalhava no ramo da construção civil, recebeu um convite de trabalho e se mudaram para Angola. Fernanda Castanheira emociona-se ao lembrar os anos felizes que viveu em África. Foi lá que conheceu o marido e lhes nasceram as filhas. “Foram 20 anos muito felizes. Nunca mais voltei a Angola porque deixei uma cidade maravilhosa e sei que o país que existe hoje não é o mesmo que eu deixei”, afirma, sem conter as lágrimas. Em Angola tirou o curso comercial e à noite tirou o curso de contabilista. Aos 18 anos começou a trabalhar no Instituto Café Angola, o seu primeiro emprego. Entretanto casou e optou por ficar em casa a cuidar das três filhas.Depois do 25 de Abril a família retornou a Portugal e Fernanda foi viver para a terra natal do marido, Fátima. Diz que se adaptou bem à cidade e que já não a trocava por outra. Quando as filhas já estavam mais crescidas foi convidada para ajudar na criação do Centro de Dia de Fátima e para ser a representante da junta de freguesia. Aceitou o desafio e fazia um pouco de tudo na instituição. Desde a contabilidade até preparar os almoços. Entretanto, também já trabalhava na junta como contabilista. De manhã estava no centro de dia e à tarde ia para a junta. Quando chegou a hora de optar escolheu a junta. “O meu ramo é contabilidade por isso fiz esta opção embora gostasse muito de trabalhar com os idosos”, justifica.Garante que o trabalho é ‘stressante’ mas reconfortante por poder ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas. Fernanda Castanheira trata da contabilidade, atende as pessoas e ouve os seus problemas. No dia da entrevista de O MIRANTE fomos interrompidos várias vezes porque as pessoas que chegavam ‘exigiam’ falar com a Dona Fernanda, o que demonstra a sua popularidade e a alcunha de ‘a dona da junta’.Já com idade para se reformar, Fernanda Castanheira garante que está aí para as curvas e que só vai para casa quando sentir que já não consegue ocupar o seu lugar. “Por enquanto, ainda acho que não estou a tirar o lugar a ninguém. Quando achar que estou a mais vou-me embora”, afirma. Embora reconheça que algumas juntas e municípios são um peso a mais para o Governo, Fernanda Castanheira é contra a nova reforma administrativa que prevê a agregação de freguesias. A contabilista defende que as juntas são o único elo de ligação das pessoas, sobretudo as mais velhas, ao mundo. Na sua opinião, Fátima tem todas as condições para ser concelho mas não considera que esse seja um assunto urgente a ser discutido. “Neste momento o país não tem condições para criar novos concelhos mas daqui a uns anos quem sabe. Se tivermos mais freguesias agregadas a nós pode ser que no futuro apresentemos condições para sermos sede de concelho. Fátima é, talvez, a cidade mais conhecida de Portugal”, diz.
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