Gilberto Fernandes não sabe viver sem o atletismo
Foi a vitória de Carlos Lopes no Campeonato do Mundo que levou o atleta de Alpiarça para a modalidade
Gilberto Fernandes, 50 anos, é um atleta veterano, que continua apaixonado pelo atletismo. Chegou a ser campeão nacional de maratonas. Competiu ao mais alto nível sem nunca ter deixado o trabalho na construção civil. Nas provas em que participa actualmente é um homem acarinhado por companheiros e espectadores porque ao longo da sua carreira a sua principal preocupação foi a de fazer amigos.
Gilberto Fernandes nasceu no concelho de Coruche, mas ainda criança veio com os seus pais para o Casalinho, Alpiarça. Ali tem feito toda a sua vida. Aos 14 anos deixou a escola e começou a trabalhar na construção civil. Nessa altura foi para a colectividade ver o Campeonato do Mundo de Corta Mato, que se realizou em Inglaterra, e aí viu o “grande” Carlos Lopes vencer com autoridade. “Logo ali juntamente com o meu amigo António Duarte resolvemos começar a correr e a participar em provas populares”.A sua primeira equipa de atletismo organizada foi no Centro Convívio Cultura e Desporto de Abitureiras, Santarém, onde teve o seu primeiro treinador. Augusto Lourenço era dirigente e treinava os atletas do clube. Seguiu-se o Ribeirense, sempre e ainda nas camadas jovens. “O dirigente José Sena, que já faleceu, vinha a Alpiarça buscar meia dúzia de atletas para treinar e correr na equipa da sua terra. Era um grande homem e um grande amigo”, diz.Mais tarde os dirigentes de “Os Águias” de Alpiarça resolveram criar uma equipa de atletismo e os atletas alpiarcenses que andavam por outros clubes da região regressaram à sua terra. “Chegamos a ter uma excelente equipa aqui em Alpiarça. Tivemos mesmo a melhor equipa de fundo e meio fundo do distrito. Para dar um exemplo posso dizer que o record da estafeta Rio Maior - Alcanena ainda pertence à equipa de “Os Águias” de então”, disse Gilberto Fernandes.“Fui sempre muito competitivo, traço desafios a mim próprio e ainda hoje quando vou para uma prova levo sempre em mente a vitória. Mas isso nunca me levou a ver os meus adversários como inimigos, pelo contrário, sempre que vou correr levo na ideia encontrar amigos e conviver”, garantiu.Ainda esteve na calha para ser atleta da Conforlimpa, mas foi no Clube de Natação de Rio Maior que Gilberto Fernandes atingiu o auge da sua carreira. “O treinador era já o Jorge Miguel e o clube tinha uma boa equipa de atletismo, foi por isso que optei pela equipa riomaiorense. Estive lá mais de 10 anos, e atingi ali os melhores momentos. Fui campeão distrital dos 1500 metros até à maratona. Fui campeão nacional na maratona e cheguei a ser seleccionado para representar Portugal. Mas aos 29 anos lesionei-me no trabalho, parti um joelho e terminou aí a minha carreira a sério”.Em todos os anos que Gilberto Fernandes leva no atletismo nunca deixou de trabalhar e no duro. “Em vez dos estudos optei pelo trabalho na construção civil. Para ir ainda mais além na modalidade faltou-me sempre alguma estabilidade. Era com muito sacrifício que treinava duas vezes por dia e corria ao fim-de-semana”, garante.Gilberto Fernandes garante que contou sempre com a compreensão dos patrões para quem trabalhou. Mas não esquece o homem que lhe tratou muitas lesões. “Passei muitas horas da noite em casa do Mário André (enfermeiro/fisioterapeuta da equipa de futebol sénior do Sporting Clube de Portugal) natural e residente em Alpiarça, foi ele que me tratou de muitas lesões, sem me levar um tostão. É um grande homem e um grande amigo, estou-lhe de tal forma agradecido que jamais o esquecerei”, diz com emoção.O homem que chegou a rivalizar com os grandes atletas portugueses, como os gémeos Castros, António Pinto, e chegou a ter mínimos para ir aos Jogos Olímpicos, continua agora a correr e a apoiar os jovens da sua zona. “Não tenho jeito para treinador, mas gosto de dar uma palavra aos jovens, chamo-lhes a atenção para fugirem das drogas, porque no desporto a droga só é prejudicial e engana quem a toma”, diz Gilberto Fernandes, que garante que o atletismo continua a ser a sua grande paixão. “Vou continuar a correr até que as pernas deixem”.Projecto de expansão de BTT no Frade de CimaGilberto Fernandes não é só um atleta que pratica atletismo. Gosta de explorar outras modalidades e está sempre na frente quando se coloca a hipótese de ajudar a desenvolver o desporto na sua zona. Juntamente com Hélder Fernandes e Fábio Fernandes, formaram uma equipa de BTT na Associação Cultural e Recreativa do Frade de Cima.“Há cerca de um ano começámos a participar em algumas provas, e resolvemos falar com os dirigentes da Associação do Frade de Cima para nos acolherem numa equipa que queríamos dinamizar. A direcção aceitou a nossa proposta e começámos a trabalhar e hoje já somos sete a competir pela associação”, disse Gilberto Fernandes.A equipa tem conseguido bons resultados. “Corremos em provas em que competem antigos ciclistas de grande prestígio, nos respectivos escalões já conseguimos algumas vitórias e chegamos à frente de atletas como Vítor Gamito ou Marco Chagas. Mas o grande objectivo é o convívio e a vontade de praticar desporto”, garante.O grupo está a organizar uma prova de grande envergadura no Frade de Cima. A prova vai decorrer no dia 21 de Outubro, e vai ser feita num circuito onde o público vai ser o grande animador. “O circuito que estamos a delinear dará oportunidade a todas as pessoas seguirem o desenrolar da prova em quase todo o percurso”.
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