Bombástico Manuel Serra d’Aire
Este ano, por causa da crise, em vez de ir de férias para as Canárias fui para as Caneiras, que é mais perto e bom caminho e sempre dá para ir almoçar a casa no intervalo dos banhos no Tejo. Quer dizer, não é bem no Tejo, é mais naquele riacho de água acastanhada que descobri recentemente ter excelentes propriedades bronzeadoras. Três ou quatro dias a chafurdar ali e fiquei com uma tez de pedir meças ao Barack Obama.E a propósito de trabalhar para o bronze há questões que me atormentam a pacatez dos dias e que ganham dimensão paquidérmica quando chega o Verão. Não há época estival em que não apareçam os directos televisivos nas praias a perguntar aos desprevenidos banhistas se a água está boa de sal, se lhes entrou areia para dentro do biquíni, se as alforrecas causam muita comichão e coisas afins. Pois eu, que todos os anos vou a banhos, até à data nunca tive direito a uma singela entrevista jornalística durante as minhas deambulações balneares. Nem tão pouco deparei com câmaras de televisão no areal. O que me leva a questionar se tudo aquilo não passa de encenação ou da reposição da mesma cassete de ano para ano. Porque, a não ser assim, considero esse acto uma grave discriminação, sobretudo por parte da televisão pública que deve tratar de igual forma todos os portugueses e não apenas aqueles que fazem praia no Algarve, na Caparica ou na linha de Cascais. Ou há moral ou comem todos!A irrelevância a que tenho sido votado, aliás, não se fica por aí. De cada vez que é publicada uma sondagem cresce em mim um sentimento de indignação e revolta de pedir meças a um sindicalista em manifestação de protesto contra o pacote laboral. Como é possível que haja estudos de opinião para tudo e mais alguma coisa e que eu nunca tenha sido consultado. Nem sequer sobre as virtudes do detergente Tide tiveram a hombridade de me ouvir para tentar saber o que tinha eu a dizer, em vez de andarem a entrevistar senhoras histéricas que se desmancham em risinhos quando o homem do microfone lhes bate à porta e pede o parecer sobre a brancura das camisas. A minha avó nunca acreditou que o homem tenha pisado a lua, que o Elvis tenha morrido e que o exmo. sr. engº. Rui Barreiro tenha sido presidente da Câmara de Santarém. Era uma céptica militante e eu devo ter herdado os genes da misericordiosa anciã que desempenhou a altruística missão de me aturar na minha irrequieta infância, sempre com um sorriso nos lábios e uma colher de pau na mão. Por falar em avós, acho deprimente a moda em voga de colocar os nossos idosos a fazer figuras tristes, mascarando-os no Carnaval ou aperaltando-os para desfiles de moda, metendo-os a dançar em ranchos e o diabo a sete. Deus me livre que depois de uma vida inteira a trabalhar caia nas mãos dessas técnicas saídas das escolas cheias de ideias muito divertidas e que tratam os velhotes como se fossem cachopos em nome de um suposto envelhecimento dinâmico e cheio de tusa. O aviso fica já aqui: a primeira que me quiser mascarar no Carnaval leva uma bengalada ou uma palmada no rabo (consoante for o material) porque com o velho Serafim ninguém vai brincar e todos temos direito ao descanso e a uma réstia de dignidade antes de nos vermos livres de vez deste cadafalso fiscal.Saudações balnearesSerafim das Neves
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