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O rapaz que vinha do Couço

Na fila de frente, ele, o Horácio José Cecílio Rufino, é o segundo a contar da esquerda. Eu sou o terceiro, o Zé Carlos Lilaia o oitavo. Estamos em 1963 em Vila Franca de Xira no Curso Geral do Comércio. Ele é e será sempre o rapaz que vinha do Couço e na fila do meio lá estão o Novo, o Fernando, o Narciso, o Cardoso, o Carlos Félix e o Dias. Na terceira fila temos o Fumaças, o Vidaúl e o Zé Afonso. Em 1963 já se destacavam na minha turma os que viriam a fundar partidos políticos e organizações: Vidaúl Froes Ferreira (MRPP), José Carlos Lilaia (PRD) e Horácio Rufino (JCF). A memória também tem as suas pequenas mortes. Eu não recordo todos os nomes deste retrato, a culpa será minha e não dos rapazes mas há nomes a pairar - Fernando Jorge, Mário Rui. E vejo o Cardoso que está de luto com um fumo no casaco. Talvez o mesmo casaco que em 1966 levou a Lisboa para apresentar um «CV» de candidatura a um emprego. Veio nos jornais de hoje (4 de Agosto) que o Horácio morreu. Vivia no Algarve e não se juntou ao nosso grupo em Vila Franca de Xira quando em Dezembro de 2007 o jornalista Adelino Gomes organizou para o jornal «Público» um almoço de saudade onde estiveram comigo também o Álvaro Pato e o Arnaldo Ribeiro além do Vidaúl e do Lilaia. Morreu o Horácio e pergunto a mim mesmo - que é afinal morrer? Será estar de acordo com Gil Vicente que diz «contra a morte e o amor ninguém tem valor»? Naquele tempo vinha gente do Couço para Vila Franca de Xira porque era mais fácil apanhar ali o comboio para Caxias e visitar os presos políticos que eram para aí oitenta por cento da população da terra. O rapaz que vinha do Couço é o Horácio da minha turma de 1963 e não devia estar no obituário do jornal de hoje. José do Carmo Francisco

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