uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Alverca está num processo de estagnação

Alverca está num processo de estagnação

Carlos Gonçalves, eleito da CDU na Assembleia de Freguesia, fala da sua terra e diz que Afonso Costa só intervém depois dos outros agirem

Carlos Manuel Gonçalves é um crítico da actuação do presidente da Junta de Alverca, Afonso Costa (PS), que acusa de ter andado “a dormir” durante o processo de discussão da variante. Diz que a petição lançada pela junta foi uma forma de antecipar um abaixo-assinado da população e que todo o processo de discussão do assunto na Assembleia da República só serviu para empatar. Carlos Gonçalves acusa o presidente de só actuar “por indução” e considera que a cidade estagnou. A entrevista decorreu numa esplanada em frente à congestionada Estrada Nacional 10, em pleno centro de Alverca. Carlos Gonçalves foi pontual e não trouxe apontamentos consigo nem respostas preparadas. Não quis saber as perguntas. Pediu um café e pagou com uma nota.

Um eleito na assembleia de freguesia tem poderes para levar o executivo a mudar de ideias em alguma coisa?Acreditamos que é possível e já temos conseguido. Temos uma visão de Alverca que queremos mudar. Somos uma cidade grande com poucas zonas verdes e pouca vida própria. É um dormitório, não se vê ninguém nas ruas durante a noite. Se não houver condições apelativas para as pessoas fazerem vivência na cidade só resta o trajecto casa-trabalho. A junta de freguesia pode ser uma gestora de iniciativas, juntamente com as colectividades. Alverca tem a atenção que merece da câmara?O presidente Afonso Costa é pouco reivindicativo junto da câmara e por isso Alverca tem sido relegada para segundo plano. Nos últimos anos vimos um desenvolvimento grande em algumas freguesias e Alverca ficou na mesma. Muitos espaços públicos da cidade estão ocupados por stand’s de automóveis ilegais. A junta faz o que pode?Quando se leva problemas à assembleia ouvimos sempre o presidente dizer que isso não compete à junta resolver. Mas tudo compete, se não resolver pelo menos reivindicar junto de quem pode.A ideia de construir a variante de Alverca foi discutida no parlamento sem qualquer efeito prático. Valeu a pena andar-se a recolher assinaturas para levar o caso à Assembleia da República? Alverca tem um problema estrutural: o trânsito caótico. Há necessidade de resolver esse problema. Infelizmente tem-se adiado a solução e a variante já deveria estar feita e não à espera de uma recomendação da parte de uma comissão da Assembleia da República. Na altura a câmara, a junta e o Governo, que eram da mesma cor política, se tivessem interesse podiam ter resolvido o problema. Mas tentaram antecipar-se a uma comissão de moradores pró-variante que iam fazer um abaixo-assinado e nessa antecipação avançaram com a petição. Foi uma manobra de relegar para segundo plano a variante. Da petição que foi à assembleia não advém nada, apenas uma recomendação que se faça a obra. O que é preciso fazer?A variante é uma necessidade, tem de ser construída. Hoje em dia os investimentos públicos são inexistentes. Até a capacidade de financiamento da câmara não é a mesma. Perdeu-se tempo e iniciativa. Se houvesse empenho de quem está à frente da junta para resolver o problema ter-se-ia resolvido. Afonso Costa tem responsabilidades, andou a dormir nesta e noutras questões. O presidente funciona por indução.O loteamento previsto para as salinas foi reprovado pela câmara. A cidade ficou a ganhar com essa decisão?Do ponto de vista ambiental ficou a ganhar, é uma zona que tem de ser protegida e qualquer futura alteração do Plano Director Municipal terá de preservar aquela zona. É verdade que estão previstos muitos empreendimentos e grandes urbanizações para Alverca. Mas vão avançar com isso sem se resolver o problema de raiz, que é a variante. Como vamos colocar mais uns milhares de automóveis em Alverca sem resolver os problemas da mobilidade? O pólo aeronáutico de Alverca não está a ter a procura que se esperava. De quem é a culpa? A assembleia já visitou o pólo do que restou do museu do ar. As visitas funcionam por marcação, tem um período temporal limitado e Alverca perde com isso, porque a cidade da aviação nem sequer tem um museu da aeronáutica. Perdeu-se uma ligação histórica da freguesia. Tanto a câmara como a junta podiam e deveriam ter feito mais para o museu ter ficado em Alverca.Mas há a ideia de construir um aeroporto para voos de baixo custo…O aeroporto tem bastante impacto económico e iria dinamizar a economia de Alverca. Mas qualquer obra ou investimento tem de ser alvo de estudos para ver as vantagens e desvantagens. Não acho que só porque perdemos o museu do ar tenhamos de receber um aeroporto como contrapartida. Porque é que a CDU tem sido tão crítica com a gestão de Afonso Costa na junta? Porque vemos alguma inércia e porque se for dar uma volta pela cidade as zonas verdes parecem as de uma cidade do terceiro mundo. Falta dar resposta aos problemas de Alverca, como o estacionamento. Até há pouco tempo o que sempre ouvimos do presidente é que a generalidade dos problemas de Alverca não era da sua responsabilidade. Alverca está num processo de estagnação e não cresceu em infra-estruturas. Alverca podia ser sede do concelho? A reforma deveria ter sido feita ouvindo as populações. Alverca é uma cidade que ainda precisa de criar muitas dinâmicas para ser a sede de concelho. Uma sede requer um projecto que se possa sustentar. Neste momento Alverca não pode ter essa pretensão. Luta da população foi determinante para travar expansão do aterro de Mato da CruzNão fosse a luta das populações de Arcena e a expansão do aterro de Mato da Cruz teria ido avante. Carlos Gonçalves diz que o aterro está na fase terminal e que por isso tem de dar lugar ao prometido parque urbano para a população de Arcena. “Quando a câmara deliberou considerar de interesse municipal a exploração da pedreira que permitiria a ampliação do aterro nem sequer teve em consideração os impactos que isso teria para Alverca. Foi tudo feito de ânimo leve”. Centro de estágios devia ser aberto à populaçãoO novo centro de estágios que o Futebol Clube de Alverca quer construir na rua da estação deveria ser aberto à população, entende Carlos Gonçalves. “Aqueles terrenos podem ser úteis para a freguesia. O centro seria sempre uma mais-valia desde que incluísse zonas abertas à população, como ciclovias ou pistas para corrida”. O eleito da CDU nota que o clube devia ter um centro de estágios mas podia criar no local outras áreas abertas à cidade, como um parque de estacionamento. Carlos Gonçalves diz que o novo parque urbano será positivo. Quanto às duas piscinas públicas entende que “é preciso criar dinâmicas para as pessoas as usarem”.Um sociólogo de formação que trabalha em biocombustíveisCarlos Manuel Gonçalves, 47 anos, nasceu em Angola mas veio para Portugal aos sete anos. Vive em Arcena e trabalha numa empresa de biocombustíveis em Alhandra. Estudou na escola secundária Gago Coutinho e é sociólogo de formação. A falta de transportes públicos em Arcena obriga-o a ir de carro todos os dias para o trabalho. Está a ler “A troika e os 40 ladrões”, do jornalista espanhol Santiago Camacho. Ouve Dire Straits, sonhava ser piloto de aviões quando era criança e compra o pão nas grandes superfícies comerciais. Mas com frequência também visita o comércio tradicional da cidade para comprar fruta e roupa. Só dá esmola aos arrumadores quando é forçado, porque já chegou a encontrar o carro riscado. Diz não concordar com a pedincha. “São pessoas que podiam servir a comunidade de alguma forma”, defende. Foi eleito pela CDU para a assembleia de freguesia pela primeira vez em 2009.
Alverca está num processo de estagnação

Mais Notícias

    A carregar...