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Sociedade civil também está descontente com a presidente da Junta de Vila Franca

Dirigentes associativos dizem que antes havia relacionamento próximo e aberto com o qual Ana Câncio acabou

Dirigentes associativos não gostaram que a presidente da Junta de Vila Franca criticasse o seu antecessor porque, dizem, no tempo de José Fidalgo pelo menos havia um bom relacionamento entre entidades e que agora a junta está de costas voltadas para as associações.

As críticas que a presidente da Junta de Vila Franca de Xira fez ao seu antecessor e colega de partido são de mau tom, incompreensíveis e precisam de um esclarecimento urgente por conterem “generalizações imprudentes”, consideram alguns dirigentes associativos e vozes respeitadas na cidade. Muitos não gostaram da forma como Ana Câncio (PS) se atirou ao anterior executivo liderado por José Fidalgo. A autarca dava a entender que o anterior presidente, José Fidalgo, beneficiava algumas associações em detrimento de outras.“Nunca vi qualquer tipo de favorecimento no tempo do José Fidalgo”, garante Manuel Martins, presidente da Associação para o Bem-Estar Infantil (ABEI) de Vila Franca. O dirigente considerou as críticas de Câncio “precipitadas” e vai aguardar mais explicações. “Não se deve falar vagamente e generalizar. Que sejam específicos e digam quem beneficiou quem”, entende o dirigente, que é da opinião que este tipo de assuntos não deve ser tratado numa assembleia pública.Quem também quer mais explicações é Carlos Fernandes, presidente dos Bombeiros Voluntários de Vila Franca. “Tirando um reboque feito nas oficinas da junta no tempo do José Fidalgo nunca recebemos um cêntimo da junta. Favorecimentos? Onde?”, ironiza. As críticas da actual presidente foram, no seu entender, descabidas. “José Fidalgo era uma pessoa sensível e motivada para ajudar. O nosso actual relacionamento com a junta é zero. Quando o presidente saiu entregou uma carta a agradecer a colaboração. Quando a nova presidente entrou ninguém nos disse nada”, lamenta a O MIRANTE.Também Assunção Lopes, do Centro de Bem-Estar Infantil de Vila Franca (CBEI), lembra que no tempo do anterior presidente o relacionamento era “próximo e aberto” mas diz-se surpreendida pelas acusações de favorecimento, que disse desconhecer. “Estas coisas devem ser tratadas em privado, nunca desta maneira”, notou. Quem achou “despropositada” a carta de Ana Câncio foi também Carlos Monteiro, líder da associação empresarial de Vila Franca. “Não é de bom-tom vir para a opinião pública fazer essas críticas. As pessoas devem ter verticalidade nas opiniões que produzem”, refere, garantindo não acreditar que José Fidalgo seja “tudo o que de mau” Câncio leu.Mais crítico é Arlindo Gouveia, da Cooperativa Alves Redol. Que refere que desde a entrada na junta de Ana Câncio, que já foi dirigente da cooperativa, esta deixou de fazer novas apresentações literárias na cidade, ao contrário do que acontecia anteriormente. “O Fidalgo era um democrata, aceitava que o criticassem. Esta senhora acabou com as iniciativas que existiam e não criou outras, como os encontros de desenvolvimento local. Acabaram com tudo. O Fidalgo andava pelas ruas, ouvia as pessoas, esta limita-se a ir às assembleias”, crítica. Arlindo Gouveia diz mesmo que Câncio parece “ter sido obrigada a aceitar o papel de presidente” dada a forma “passiva” como o primeiro ano de mandato tem corrido.Fidalgo diz que sucessora tem um complexo de perseguiçãoJosé Fidalgo, que renunciou ao cargo de presidente da junta há um ano, para se dedicar a fazer um doutoramento e que é actualmente professor universitário, considerou a postura da sua sucessora “infeliz” e reveladora de um “complexo de perseguição”. Fidalgo foi substituído por Ana Câncio, uma mulher de gabinete, fechada, e que tem uma reforma de cerca de mil euros por 16 anos de trabalho na Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado. Ana Câncio, independente eleita pelo PS, 55 anos, não trabalha desde os 38 anos, quando pediu a aposentação por invalidez justificando problemas respiratórios, alegadamente relacionados com os ares condicionados. Recorde-se que na última semana vários eleitos da freguesia de Vila Franca de Xira defenderam que a presidente da junta se deveria demitir depois de ter feito um discurso na assembleia de freguesia disparando críticas em todas as direcções. Câncio chegou a culpar os colegas socialistas do anterior executivo de serem culpados de alguns problemas e de os disfarçarem sob uma capa de “suposto diálogo”. Ana Câncio acusou ainda o anterior executivo de favorecer algumas associações da freguesia em detrimento de outras e de o presidente José Fidalgo ser “autista” e viver num “mundo florido”, entendendo que os eleitos da freguesia “não se importavam de ser conscientemente ludibriados”. ComentárioPor debaixo dos panosJosé Fidalgo foi um autarca respeitado até ao último dia do seu mandato. É raro assistir a um percurso político como o de Fidalgo onde sempre imperou o diálogo e o respeito. A sua retirada de cena muito antes do final do mandato demonstrou um desapego ao poder que também não é normal. Fidalgo entregou a Junta de Vila Franca de Xira de mão beijada a Ana Câncio e seus pares. Deu ao Partido Socialista a possibilidade de regeneração de acordo com políticas e solidariedade que aparentemente já não resultavam. Apesar dos seus quase 60 anos, José Fidalgo foi acabar o curso universitário e ficou na universidade como professor. É um percurso que não tem nada a ver com as vidinhas de Ana Câncio por mais exemplares que sejam. Não tenho nada de pessoal contra a senhora mas tenho contra os políticos oportunistas e os políticos que não sabem ser gratos e respeitar compromissos assumidos.O discurso ressabiado de Ana Câncio que foi notícia na passada edição, e ao qual voltamos agora, é um bom exemplo de falta de jeito para a defesa da coisa pública. Em vez de trabalhar e aproveitar para mostrar trabalho, Ana Câncio bateu em José Fidalgo e disse que agora “a casa está arrumada” mas que “falta limpá-la e aprimorá-la, sem limpar o chão com panos sujos”.O texto de Ana Câncio parece uma redacção do tempo da escola primária. Em vez de aproveitar o balanço de um ano de trabalho para mostrar serviço, não resistiu à tentação de se armar em vítima e em “carapau de corrida”. Não vai longe pelo estilo e pela falta de jeitinho que já demonstrou. Acho um exagero pedir a sua demissão por causa de um discurso ressabiado. Deve cumprir o mandato até ao fim quanto mais não seja para compensar o facto de ser uma cidadã com privilégios de que nem todos se podem gabar. JAE

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