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A “Severa” de Filipe La Féria mora em Alhandra

A “Severa” de Filipe La Féria mora em Alhandra

Fadista Elsa Casanova tem o sonho de viver exclusivamente da música

Elsa Casanova, uma jovem fadista de Alhandra que venceu a Grande Noite do Fado em 2007, em Lisboa, vestiu a pele de “Severa” num dos últimos musicais de Filipe la Féria. Os panos do grande palco fecharam-se já este ano mas a cantora não se rendeu ao seu triste fado. Abriu um restaurante onde canta uma vez por mês. Fica na avenida Sousa Martins, médico milagreiro da terra que a menina do coro da igreja, que jogava berlinde à beira Tejo, aprendeu a venerar desde cedo.

A jovem fadista de Alhandra, Elsa Casanova, 23 anos, foi uma das actrizes/cantoras que encarnou a “Severa” num dos últimos musicais de Filipe La Féria. Enquanto o espectáculo “Fado - História de um povo” esteve em cena no Casino Estoril, entre 2010 e 2011, Elsa Casanova encarnou algumas vezes a personagem mítica do fado substituindo a actriz Liana. Ora trauteava o tema dedicado ao “rei das traquitanas, o Timpanas”, ora entoava em tom mais dramático “Rua do Capelão” para de seguida morrer de amores e ser levada em braços por dois bailarinos. “O funeral é uma cena lindíssima”, garante. A mãe confirma acenando com a cabeça, orgulhosa e quase comovida. Viu 21 espectáculos com a filha. Elsa Casanova integrou já este ano o elenco de “O melhor de La Féria”. O pano do grande palco baixou há cinco meses mas Elsa Casanova não se rendeu ao triste fado do destino e partiu para a luta. Com a ajuda da mãe Lília, cozinheira, abriu um restaurante em Alhandra (Mira Tejo) onde uma vez por mês faz o gosto ao dedo e interpreta a canção portuguesa. “A crise não deixa que nos rendamos ao fado-destino”.O restaurante fica na Avenida Sousa Martins, o médico milagreiro que Elsa Casanova se habituou a venerar desde menina, nos tempos em que jogava berlinde à beira Tejo e molhava os pés no rio quando a maré descia. Elsa Marisa de Sousa Martins adoptou o apelido artístico “Casanova” por influência do tio, João Casanova. É muitas vezes tomada por familiar do médico que nasceu em Alhandra mas trata-se apenas de uma coincidência. Não deixa de se comover com as centenas de peregrinos que todos os anos, por altura do aniversário do nascimento e da morte, fazem romaria ao cemitério. “É uma personagem mítica de que me orgulho porque é de Alhandra e porque fez muito para ajudar a combater a tuberculose. Desde pequena que ouço falar dele. A minha avó chegou a vê-lo a chegar a casa”, recorda.Uma família de fadistasElsa Casanova nasceu em Vila Franca de Xira mas cresceu em Alhandra. É na zona nova da freguesia, no Bairro da Chabital, que se sente em casa. Faz caminhadas no passeio ribeirinho junto ao Tejo mas viaja de carro e não de comboio porque se movimenta na noite. Nas tardes do Colete Encarnado e da Feira de Outubro procura um lugar ao sol na Praça de Toiros Palha Blanco. Aprendeu a admirar e aplaudir cavaleiros, matadores de toiros e forcados por influência de um primo, “Bombita”, peão de brega. Em Lisboa vai à procura do fado. Ao domingo canta numa casa em Alfama, “Fora de Moda”. O repertório varia com o estado de espírito. A menina que nasceu numa família de fadistas começou a cantar aos 13 anos. Ganhou em 2007 a Grande Noite do Fado, em Lisboa. Cantou no coro da Sociedade Euterpe Alhandrense, no Coro da Igreja e integrou escolas de fado no concelho de Vila Franca de Xira. O pai, antigo bombeiro dos Sapadores de Lisboa, também fadista, apoia incondicionalmente a filha, tal como a restante família. Elsa Casanova gosta de fados tradicionais e fadistas à moda antiga, como Amália Rodrigues, Maria da Nazaré e Maria da Fé. Fora do estilo da canção portuguesa só se deixa arrebatar pelos brasileiros Caetano Veloso e Maria Betânia. Está a aprender a gostar de ópera. Não canta fado de calças de ganga mas dispensa as saias até aos pés. Gosta de vestidos dos seus xailes vermelhos e pretos. Elsa Casanova já foi Cesária, cantadeira de Alcântara, e homenageou em palco Maria Teresa de Noronha com “Rosa Enjeitada” vivendo os momentos mais altos da carreira que quer continuar. Não sonha com uma digressão pelo mundo. Gosta de saltos altos mas tem os pés bem assentes na sua Alhandra. Quer fazer vida do fado mas o próximo objectivo passa por gravar um CD. Não é só a tristeza que faz acontecer o fado mas Elsa Casanova, que não tem namorado, admite que a canção portuguesa rima com solidão. “Não tenho que estar mal para cantar o fado mas a verdade é que se estiver a sofrer por alguma coisa vai saber-me melhor cantar”.
A “Severa” de Filipe La Féria mora em Alhandra

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