A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira vai avançar com o despejo do prédio na encosta do Monte Gordo, que está em risco de ruir, contra a vontade dos moradores que apresentaram uma providência cautelar para travar o processo. Face à gravidade da situação, confirmada por um relatório do LNEC [Laboratório Nacional de Engenharia Civil] emitido esta segunda-feira, 19 de Novembro, com base em medições realizadas na sexta-feira anterior, a autarquia considera que outra decisão “seria gravemente prejudicial para o interesse público por estar em causa a segurança de pessoas e bens”.A autarquia foi notificada na sexta-feira pelo tribunal sobre a providência cautelar, que solicitou a suspensão da deliberação e pediu que a câmara se pronunciasse ainda esta semana sobre o assunto. A câmara decidiu entretanto, em reunião de executivo realizada na segunda-feira, manter a decisão que já tinha tomado em Outubro tendo em conta que está em causa a vida das pessoas. “Não acredito que nenhum juiz venha dizer que as pessoas devem permanecer em suas casas”, declarou a O MIRANTE a presidente da câmara, Maria da Luz Rosinha, referindo-se àquela que será a decisão final do juiz sobre o assunto.Os moradores, que já tinham sido avisados de que teriam que sair até 19 de Novembro, voltaram a ser notificados para deixarem as casas, o que a autarca espera que aconteça “o mais rapidamente possível”. O ideal será que as pessoas saiam por sua iniciativa, adianta, como já fizeram algumas famílias. Eliane Mota, 45 anos, que alugou em Agosto o primeiro andar do lote 1 por 500 euros, onde vive com a filha e o marido, também vai deixar a casa no fim do mês. Já alugou um outro apartamento no Bom Retiro. “Ninguém nos alertou para esta situação mas reparamos que o prédio do meio estava deslocado”, reconhece.Maria da Luz Rosinha diz que a câmara está disponível para apoiar as famílias que não tiverem condições financeiras e o comprovem, nomeadamente com a cedência provisória de uma habitação social, mas revela que até ao momento os serviços de acção social não tiveram nenhum contacto neste sentido. A autarquia tem três fracções de habitação social disponíveis. O proprietário de um dos apartamentos, Armando Gonçalves, que tem dado a cara pelos moradores, admite a O MIRANTE que é um risco querer permanecer no prédio mas argumenta que as nove famílias não podem deixar as casas de qualquer maneira. “Queremos as coisas escritas preto no branco para salvaguardar a nossa situação”. Na sua opinião a solução poderia passar por terminar um dos prédios novos da cidade realojando no seu interior os moradores, hipótese que não é colocada pela câmara que lembra “que tem muitos outros problemas graves de habitação para resolver que envolvem pessoas carenciadas”.O lote 1 faz parte de um conjunto de três blocos, de seis andares cada, construídos há mais de 15 anos. À semelhança do lote 3, apresenta fissuras no exterior e interior dos apartamentos. O lote 2, desabitado, “descolou” dos restantes dois blocos e está inclinado para a frente vários centímetros, pressionado pelo movimento das terras da encosta, correndo o risco de ruir e de provocar a “instabilização” do lote 1 e danos no lote 3, praticamente todo habitado. O desabamento pode ainda atingir outras vivendas construídas nas imediações do prédio. No local estão a ser instalados inclinómetros pela Geotest para continuar a medir as movimentações de terras.