(A propósito do falecimento de um inventor e poeta popular) Conheci João Sabino há muitos anos atrás. Na altura, encontrei-me com ele num dos bancos do Jardim 25 de Abril, em Benavente, para o entrevistar sobre um livro de poesia que tinha acabado de publicar. Voltei a encontrar este carismático poeta popular ribatejano em dois encontros de poesia. Depois estive uns tempos sem o ver até que nos voltámos a cruzar no Centro Novas Oportunidades da Escola Profissional de Salvaterra de Magos. Foi há dois anos. Ainda me lembro da tarde em que vi aquele grande homem (grande) de bengala e chapéu branco a entrar pela porta do Centro e dizer que estava ali para ver reconhecidas as suas competências. Queria concluir o 9º ano.João Sabino sabia que tinha um doutoramento na escola da vida. Noventa anos de aprendizagens digeridos por alguém que sempre gostou de saber mais. João Sabino apresentou-nos um currículo invejável. Tinha cinco livros publicados, um deles a sua própria autobiografia; tinha inventado uma máquina de semear tomate; tinha sido compositor, músico e até árbitro de futebol. Foi fácil encontrar evidências e atribuir-lhes os créditos merecidos.Ao pé do mestre Sabino ninguém estava triste. Distribuía poesia por todos. Até alguns desconhecidos passantes que se cruzavam com ele na rua eram contemplados com versos simpáticos. Sabino tinha, como poucos, o dom da versificação. Cruzava facilmente flores, cores e sabores. Das palavras fazia magia e trazia-nos alegria.Apelo aos responsáveis pela toponímia da freguesia de Benavente que atribuam o nome de uma rua, um largo, quiçá um jardim a este grande homem da nossa cultura popular. Espero que os políticos caseiros não se esqueçam que a toponímia local constitui a recordação de acontecimentos e costumes, a conservação da memória cultural, a preservação da identidade de um povo, a homenagem a pessoas. Até sempre João Sabino!Mário Gonçalves