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Vítimas do tornado de há dois anos ainda não receberam apoios prometidos

Vítimas do tornado de há dois anos ainda não receberam apoios prometidos

Os equipamentos públicos danificados em Tomar e Ferreira do Zêzere foram reconstruídos com verbas do Fundo de Emergência Municipal mas os particulares que não tinham seguro ficaram de mãos a abanar. Até hoje.

7 de Dezembro de 2010. Carla Antunes, 39 anos, sócia da empresa Vihotel, localizada na Venda Nova, Tomar, estava no IC3, a caminho de Lisboa, quando recebeu um telefonema de um funcionário: um tornado tinha varrido por completo as instalações da empresa. Deu meia volta e deparou-se com um cenário devastador. “A única coisa que ficou de pé foi a parede da frente. Tudo o resto estava destruído”, recorda a O MIRANTE, dois anos passados. O prejuízo rondou os 500 mil euros. Mais tarde, viria a descobrir que o seguro apenas cobria o recheio das instalações da empresa que emprega sete funcionários e vende equipamentos para hotelaria. De apoios não recebeu, até hoje, um cêntimo. O caso é bastante ilustrativo: dois anos após a passagem do tornado por Tomar e Ferreira do Zêzere, o dinheiro prometido pelo Governo e por outras entidades, no caso pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI), ainda não chegou aos particulares que sofreram prejuízos. “Tinha um contacto no Governo Civil mas extinguiram esse órgão e nunca mais soube nada. Recordo que cheguei a enviar para lá os orçamentos para a reconstrução do edifício e fotografias que documentavam os estragos”, exemplifica a empresária.O tornado recente registado no Algarve avivou a memória não só de Carla Antunes como de muitas outras pessoas que viveram de perto o fenómeno que fustigou, em poucos minutos, os concelhos de Tomar, Ferreira do Zêzere e Sertã. Uma imagem que muita gente não esquece é a destruição do Jardim-Escola João de Deus, em Tomar, que viria a ser recuperado em menos de um ano com fundos do Estado. O mesmo não pode dizer quem viu os telhados de sua casa arrancados, as janelas e portas destruídas ou electrodomésticos estragados.“Os apoios foram-nos dados como certos num espaço de quinze dias mas não recebemos rigorosamente nada” afirma Carla Antunes. A empresária lamenta não poder dizer isto mesmo ao actual ministro da Administração Interna em resposta à afirmação que fez no Algarve de que os apoios seriam agora tão céleres como no passado. “Estou para ver se lhes pagam sem nos pagarem a nós primeiro”, atesta a empresária que deitou mãos à obra e ergueu, no mesmo local, a sua empresa de raiz contando inaugurar as instalações em Janeiro. O investimento, sem recurso a crédito bancário, ascende a mais de 200 mil euros. Jacinto Lopes (PSD), presidente da Câmara de Ferreira do Zêzere, atesta que, de três em três meses, a autarquia “pede contas” ao Governo. Os equipamentos públicos atingidos pelo tornado foram reconstruídos com verbas do Fundo de Emergência Municipal (ver caixa) mas os particulares que não tinham seguro ficaram de mãos a abanar. Apenas contaram com a solidariedade de outros cidadãos que contribuíram para a reconstrução de algumas casas. Já o presidente da Câmara de Tomar, Carlos Carrão (PSD) lamenta que “os apoios e linhas de financiamento tenham ficado esquecidos numa gaveta do extinto Governo Civil de Santarém e do Governo”.De acordo com o divulgado na altura, o apuramento dos valores e das situações que deveriam estar cobertas pela linha de crédito aberta pelo IAPMEI e pela Conta de Emergência anunciada após a catástrofe natural foi feito, mas o processo nunca avançou. No caso do IAPMEI, apesar dos ministérios da Administração Interna e da Economia terem emitido o respectivo despacho, o mesmo não aconteceu com o Ministério das Finanças, pelo que o processo não avançou. Quanto aos particulares, o processo foi concluído e enviado para o Ministério da Administração Interna, não tendo havido mais nenhuma informação sobre o assunto.Edifícios públicos recuperados com Fundo de Emergência Municipal Os equipamentos públicos atingidos pelo tornado de 7 de Dezembro de 2010 foram reconstruídos com verbas do Fundo de Emergência Municipal. Os apoios aos municípios, para recuperação das infraestruturas e edifícios públicos afectados, foram concretizados em acordos assinados a 7 de Fevereiro de 2011 com a Secretaria de Estado da Administração Local, que comparticipou em 60 por cento das despesas não cobertas pelos seguros, num total de 1,6 milhões de euros para os três concelhos - Sertã (537,2 mil euros), Tomar (371,5 mil euros) e Ferreira do Zêzere (90,4 mil euros).“A montanha pariu um rato”O presidente da Junta de Freguesia de Casais, Tomar, Jaime Lopes (PSD), assegura que nenhum dos particulares afectados recebeu qualquer dos apoios prometidos. “Quem tinha seguros, o seguro pagou. Quem não tinha, teve que se desenrascar. Nestas alturas os políticos aparecem no terreno só para calar as pessoas. A montanha pariu um rato”, afirmou. As famílias mais carenciadas tiveram o apoio das autarquias, em materiais e mão-de-obra, tendo ainda beneficiado dos fundos angariados em diversos espectáculos e contas de solidariedade, que foram canalizados através da Cáritas e da Cruz Vermelha. Carla Antunes recorda que, no dia seguinte ao tornado, recebeu o então ministro da Administração Interna (Rui Pereira) nos escombros e que o mesmo lhe garantiu que iriam ter acesso a fundos para se reerguer. Se tivesse tido acesso à prometida linha de crédito, a empresária acredita que já estaria de volta às instalações de que é proprietária e não teria que continuar a pagar renda do espaço onde a empresa está instalada provisoriamente, nas Calçadas, a dois quilómetros de distância. A presidente da Câmara de Alcanena, Fernanda Asseiceira recordou a O MIRANTE que os apoios prometidos aos particulares que sofreram com a passagem de um tornado em Abril de 2008 só foram liquidados na íntegra após o tornado de 2010 em Tomar. Os empresários de Tomar e Ferreira do Zêzere gostariam de acreditar que a história se repete agora.
Vítimas do tornado de há dois anos ainda não receberam apoios prometidos

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