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Dois assumidos militantes do Médio Tejo lutam por um plano de acção comum

Dois assumidos militantes do Médio Tejo lutam por um plano de acção comum

Oosterbeek e Mota Figueira dizem que a região não pode continuar desarticulada

Congresso Estratégico terá que ser feito com a Nersant, o Instituto Politécnico de Tomar e a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo mas ninguém dá o primeiro passo para não ser “rotulado”. Outras iniciativas vão-se sucedendo como o Congresso Luso-Brasileiro em Mação do próximo fim de semana.

Luiz Oosterbeek e Luís Mota Figueira são dois professores do Instituto Politécnico de Tomar unidos pela amizade e por vários projectos comuns, que se assumem como “militantes da região do Médio Tejo”. O seu objectivo é conseguir a criação de uma plataforma que permita a integração territorial do Médio Tejo, ao nível das várias instituições. O ponto de partida seria a realização de um congresso estratégico da região para definir linhas de acção concretas.“Nós já temos alguma massa crítica. Por exemplo, a nível das formações de recursos humanos; a nível da produção de dissertações de mestrado de teses de doutoramento, etc; a nível até de algumas actividades empresariais que têm também a componente da criação de conhecimento e a sua aplicação. Estou convencido que o que falta é uma plataforma onde todos nos sentemos e saibamos o que cada um anda a fazer”, diz Luiz Mota.No final do ano passado Oosterbeek acreditava que o Congresso “não para lançar umas frases simpáticas sobre o futuro mas para construir um plano de acção concreto” podia ocorrer antes da cimeira Rio+20. Tal não aconteceu mas tanto ele como o seu colega e amigo não desarmam e continuam a lançar a semente. “Há interesses diversificados na região e isso não pode ser ignorado mas é possível construir uma estratégia do próprio território em relação àquilo que é a competitividade territorial em Portugal. Em que é que nós podemos ser competitivos. Não podemos continuar a assistir a situações de aplicação casuística de acordo com as dinâmicas que os outros vão tomando. Parece-nos que o território tem que ter um pensamento. E a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo deve ser líder juntamente com o Instituto Politécnico de Tomar, que é especialista em criar conhecimento e transferi-lo e com a Associação Empresarial - NERSANT”, defende Luís Mota Figueira.O seu colega acha que há uma grande vontade de entendimento na região mas que ninguém quer dar o primeiro passo para não ser rotulado. A começar por eles próprios. “As pessoa têm receio de ser rotuladas disto ou daquilo. Há um cansaço muito grande e mesmo nós os dois, apesar de sermos do Politécnico e termos muita confiança no Politécnico, não queremos avançar só com o politécnico”, confessa.Luiz Oosterbeek tem uma ideia para vencer o impasse. “O Congresso é de pessoas. O papel do IPT é apoiar. O papel da Nersant será apoiar. O papel da CIMT deve ser apoiar. Se se formasse uma pró-comissão para uma coisa onde estivessem implicitamente alguns órgãos de informação, isso dava-lhe uma credibilidade, porque é território neutro”, defende.Mas o académico não esconde o seu fascínio pelo pragmatismo empresarial. “Eu penso que o grande agente de mudança no século XXI são os empresários. Os grandes aliados e o grande motor para a mudança no Médio Tejo, no país e no planeta, penso eu, são os empresários. Mas não vão ser os empresários a fazer tudo sozinhos. E não podem ser os empresários a liderar sozinhos. Há responsabilidades do poder público. Há muitas responsabilidades do ensino superior e, do meu ponto de vista, há uma responsabilidade muito grande da comunicação social”, conclui. “A nossa resistência à internacionalização do ensino é de uma mediocridade inacreditável”Durante a conversa com O MIRANTE, Luiz Oosterbeek esteve acompanhado por Luís Mota Figueira, seu amigo pessoal e director do curso de licenciatura em Gestão Turística e Cultural - Escola Superior de Gestão de Tomar - Instituto Politécnico de Tomar. A vertente da educação, que também será discutida no congresso foi abordada numa perspectiva crítica. O que tem que mudar nos nossos cursos? “Há uma crise enorme no ensino superior em Portugal e um dos aspectos dessa crise é que nem sempre os cursos que são oferecidos pelo ensino superior têm correspondência nas necessidades da sociedade. E nós temos que ser muito rigorosos sobre isso. Compete de facto ao ensino superior validar cientificamente os cursos. Não vão ser as empresas ou o Governo a determinar isso mas não é possível as instituições do ensino superior estarem completamente alheadas do que é a realidade da vida económica e social do planeta. Por exemplo, os nossos empresários têm dificuldade de entrar no mercado brasileiro, para além das questões proteccionistas, muito por desconhecimento do que é a legislação brasileira. E a pergunta é esta? Os nossos cursos de economia e gestão em Portugal ensinam isto aos alunos? Não ensinam. Então estão a formar os alunos para quê? Para o grande mercado interno português?”, interroga Luiz Oosterbeek.E o professor vai mais longe. “Onde está de facto a estratégia da mobilidade e de investir a sério no programa Erasmus e no Processo de Bolonha em Portugal, que é uma vergonha? Porque estas coisas têm que ser ditas. O Instituto Politécnico de Tomar é vanguardista nesta área mas mesmo assim tem um largo caminho para percorrer. Pelo menos temos consciência disso. Agora, eu não percebo como os nossos cursos em geral, no país, são cursos nacionalistas. No mau sentido. Eu diria que mais de cinquenta por cento do Erasmus, e acho que estou a ser generoso, é uma fraude. O Erasmus é fundamental mas a resistência contra o Erasmus é de uma mediocridade inacreditável”.Quem cria resistências ao Erasmus, (um programa destinado a encorajar e apoiar a mobilidade académica de estudantes e professores do ensino superior, dentro da União Europeia, nos países do Espaço Económico Europeu, como a Noruega, Islândia e o Liechtenstein assim como em países candidatos como a Turquia) são, segundo o entrevistado, as próprias universidades e politécnicos. “Não é tanto uma questão de pessoas. As pessoas são muito dinâmicas mas as instituições são, por definição, conservadoras. E as instituições universitárias, por muito boas que sejam e eu acho que são, não deixam de ser conservadoras. Não são tão conservadoras como, por exemplo o sector judicial mas são conservadoras”, defende.Luís Mota Figueira dá a sua opinião. “O Erasmus é importante porque internacionaliza através do conhecimento. Há várias formas de internacionalizar as regiões. A internacionalização através do conhecimento é uma delas. Quando vou dar aulas de museografia a uma turma de Erasmus que tem gregos, brasileiros, ingleses, franceses, estou perante uma espécie de uma Babel do conhecimento que é importante para a região”.Primeiro passo para a definição de uma estratégia comum no Médio Tejo“Os onze presidentes de câmara da Associação Intermunicipal do Médio Tejo subscreveram uma carta que vai ser tornada pública no Congresso. Trata-se de uma posição conjunta muito importante na qual é dito basicamente o seguinte: “Nós temos uma estratégia sobre estes temas e verificamos dificuldades nisto, nisto e nisto. O que é que os senhores, que são especialistas nestes assuntos, têm a dizer? Eles colocaram a questão de uma forma que os autarcas do Brasil entendem porque muitos problemas de regiões de Portugal como o Médio Tejo são idênticos aos de regiões do Brasil que estão de fora das grandes metrópoles. A carta foi enviada para as pessoas que são palestrantes. Uma dessas pessoas pegou na carta e levou-a à presidente Dilma. Isso quer dizer que o nome da região do Tejo chegou à presidente da 6ª maior potência do mundo e o nome de Portugal chegou à mesa dela de uma forma positiva a partir desta região”.“Nós estamos com uma agenda só de reacção. Estamos com uma agenda de resistência. A agenda de resistência não leva a lugar nenhum. Só leva a que digam, coitadinhos daqueles indivíduos. Ora, nós não achamos que isto tenha que ser uma terra de coitadinhos. Achamos que, aquilo que os autarcas fizeram agora para o congresso de Dezembro, é exactamente o caminho que a região deve seguir. A região e o país.” Congresso Luso-Brasileiro em Mação a 17 e 18 de DezembroNovas responsabilidades para empresas, ensino superior e sector jurídico Chama-se “Congresso Luso-Brasileiro de Interfaces Multidisciplinares do Direito para a Gestão Integrada do Território” e decorre nos dias 17 e 18 de Dezembro de 2012 no auditório do Centro Cultural Elvino Pereira, Mação. É uma iniciativa conjunta do Instituto Terra e Memória e da Seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil e tem a colaboração da Associação Industrial Portuguesa - CCI e da Confederação Nacional da Indústria, do Brasil, para além de outros parceiros como a NERSANT - Associação Empresarial da Região de Santarém e o Instituto Politécnico de Tomar - IPT.Durante dois dias vão ser discutidos assuntos relacionados com direito, gestão de território, educação, património cultural, biodiversidade, economia. Luiz Oosterbeek, professor coordenador do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), professor convidado de diversas universidades da Europa e do Brasil e um dos organizadores, na sua qualidade de presidente do Instituto Terra e Memória, de Mação, resume a iniciativa como “o primeiro balanço que se faz da cimeira Rio+20. Não é apresentada assim mas na realidade é isso que irá acontecer aqui. É essa a nossa perspectiva. As conclusões deste congresso vão ser mandadas aos governos de vários países”.No texto de apresentação do Congresso pode ler-se: “No âmbito da Conferência Rio+20, foi aberta uma discussão sobre novos paradigmas e novos compromissos para o desenvolvimento sustentável, que assumem a dimensão humana e cultural como foco. Neste debate, o sector empresarial assumiu diversos compromissos. O detalhamento desta discussão e das convergências que pode gerar impõe responsabilidades não apenas aos Estados, mas em particular às empresas (que devem desenhar estratégias globais sustentáveis), ao sector jurídico (que deve repensar a matriz legal dos processos) e ao sector do ensino superior (que deve incorporar os novos paradigmas e promover o seu aprofundamento e aplicabilidade)”.A Rio+20 é o nome vulgarmente utilizado para designar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável realizada entre os dias 13 e 22 de Junho de 2012 cujo objectivo era discutir sobre a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. Em termos internacionais.“Não se trata de um Congresso só para conversar”, afirma Luiz Oosterbeek. “Uma das primeiras coisas que vai acontecer é a assinatura simbólica de um contrato para um grande projecto no Brasil que vai ser um projecto empresarial na área cultural. É uma coisa que vai ter grande visibilidade em Portugal e que vai dar dinheiro às empresas portuguesas e às brasileiras. Um dos participantes no congresso é o Dr. Shelley Carneiro de Sousa que é o Director Geral de Sustentabilidade da Confederação Geral de Indústria do Brasil. Vamos ter uma representação ao mais alto nível da indústria brasileira”. A coordenação do congresso é partilhada entre Luiz Oosterbeek e Flávio Ahmed, advogado militante na área ambiental e presidente da Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro. As questões ambientais e jurídicas vão ter lugar de destaque. “O século XXI vai ter outras regras do ponto de vista do ambiente. Tem que ter se não morremos. Temos que ser realistas porque se se impedem todos os negócios morremos de outra maneira que é à fome. O que tem que mudar nas leis? Essa é uma parte do Congresso. Como é que os juristas - não temos só advogados, temos procuradores do Ministério Público, juízes e constitucionalistas de Portugal e do Brasil - estão a trabalhar nestas mudanças? Como é que as empresas têm que modelar os seus planos para que possam fazer negócio? O problema de muitas empresas portuguesas que chegam ao Brasil é que, passo a expressão, dão com os burros na água porque não percebem que o Brasil está muito mais avançado que nós desse ponto de vista”, refere o director do Instituto Terra e Memória.“A classe empresarial brasileira assumiu um conjunto de responsabilidades do ponto de vista ambiental. As nossas empresas não estão habituadas. Em Portugal ainda falamos na lógica do poluidor/pagador mas essa história do poluidor/pagador é chão que deu uvas. A ideia que os seres humanos são mauzinhos; que a economia é má e o que é bom são as árvores e os passarinhos, é uma ideia ingénua. O Brasil já foi muito mais longe que isso. O Brasil procura agendas integradas. Não são perfeitas, como nada no Mundo é perfeito, mas são mais avançadas. E as nossas empresas precisam de perceber isso. Precisam de perceber que investir no Maranhão não é a mesma coisa que investir no Rio de Janeiro ou em Santa Catarina. As empresas que vierem ao congresso vão ficar a perceber alguma coisa sobre isso”. Nós vamos ter uma sessão específica, em paralelo, para empresários, no dia 18 de manhã, no âmbito do congresso mas fora da programação normal, com um número restrito de empresários, de advogados e de responsáveis das confederações empresariais, para lhes abrir o caminho para isso e seguramente com a AIP e a Nersant faremos, no futuro, mais acções. Mas este é o grande pontapé de saída”, afirma Luiz Osaterbeek.
Dois assumidos militantes do Médio Tejo lutam por um plano de acção comum

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