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“Não é por se nascer pobre que se tem de morrer pobre”

“Não é por se nascer pobre que se tem de morrer pobre”

Fernando Santos, Empresário, 64 anos, Vila Franca de Xira

Os pais de Fernando Santos tiveram 17 filhos e ele cedo começou a trabalhar como moço de recados para os ajudar. Ao longo da vida foi aprendendo que cada um é que faz o seu destino. Aos 40 anos abriu a sua própria empresa, a SeguraXira. Vive a sua Vila Franca de Xira natal com intensidade e é um verdadeiro aficionado da festa brava. Gosta de conhecer novos países sempre que pode. Os quatro netos são uma das suas maiores paixões.

Comecei a trabalhar aos dez anos como moço de recados de um alfaiate. Tinha mais 16 irmãos, mas só vivi com sete deles porque os mais velhos iam saindo de casa. As brincadeiras eram na rua com carrinhos de rolamentos. Estava a tirar a quarta classe quando comecei a trabalhar. Levava os panos às costureiras para cozerem. Também andava a levar sacos de compras de uma mercearia às casas dos clientes. Estávamos sempre a estudar maneiras de arranjar dinheiro. Nasci numa família muito católica e rigorosa. Não é por se nascer pobre que se tem de morrer pobre. Nós é que fazemos a nossa própria vida. Lembro-me de ser um miúdo e andar a amanhar peixe e a gostar muito disso. Os meus pais tinham um espaço onde vendiam peixe, hortaliça e fruta. Muita gente ia lá comprar porque sabiam que éramos muitos irmãos e queriam ajudar. Evolui na vida mas guardo muitas boas recordações desse tempo. É preciso arriscar na vida. Vi que se continuasse a trabalhar por conta de outra pessoa nunca deixaria de ser empregado. Estava a trabalhar na Mague como técnico de prevenção de acidentes de trabalho quando resolvi mudar de vida aos 40 anos. Nasceu assim a SeguraXira em 1988, dedicada à protecção das empresas contra todo o tipo de acidentes e doenças relacionadas com o trabalho. Nunca quis fazer uma empresa muito grande com receio de não dormir para pagar ordenados. Não estou arrependido. Percebi que era mais fácil ganhar dinheiro do que esperar 30 dias para receber. Sou o primeiro a entrar e o último a sair. Às oito chego ao trabalho e quando a equipa chega os computadores já estão ligados. Sempre gostei daquilo que fazia. Não pode ser de outra maneira senão já tinha desistido. No ano passado todos os dias me levantei para mudar o mau ano na nossa empresa.Estive quase a emigrar para a Austrália. Inscrevi-me aos 37 anos na embaixada. Queria uma vida melhor. Tinha já a família pronta para seguir comigo. Não era para fazer vida de juntar dinheiro para regressar, mas para viver mesmo lá. Ia inserido num programa onde aprenderia primeiro inglês durante uns meses. Por lapso o programa era até aos 35 anos e ninguém reparou quando preenchi os ingressos. Tinha uma vida estável, mas o espírito da mudança andava cá dentro. Hoje vive-se com mais medo. Vila Franca de Xira perdeu a vida. Hoje em dia as pessoas deixam-se ficar em casa a ver televisão. A vida associativa vai morrendo. Cheguei a ser presidente da Associação para o Bem Estar Infantil (ABEI), pertenci aos corpos gerentes do União Vilafranquense, da associação de comerciantes e dos bombeiros. Nunca quis o tempo para nada. Sou aficionado. Há uns tempos ia com muita frequência a Espanha para ver os toiros. Entrei e saí muito rapidamente dos Forcados de Vila Franca de Xira. Tinha um irmão que chegou a ser cabo, mas não queria que eu lá andasse. Cumprir com os meus compromissos é o mais importante. Quando não consigo pagar uma factura a um fornecedor pego logo no telemóvel e peço desculpa pelo atraso. Gosto de honrar a palavra. Nunca dei uma chapada, nem levei nenhuma. Enervo-me com muita facilidade. Também me custa sentir que os outros não são capazes de pedir desculpa quando é necessário. As pessoas não vão aos jogos do vilafranquense se não tiverem lá os filhos. Às vezes vejo lá alguns pais a assistir aos jogos dos filhos mas não vivem o clube. Tenho pena de não ver as pessoas daqui a viverem a terra com mais emoção. Muitas delas, se puderem, preferem fazer compras em Lisboa. Trato das compras ao sábado de manhã. Não sou um grande cozinheiro, mas se tiver de preparar alguma coisa não morro à fome. Ao domingo vou dar uns passeios. Temos uma casa no Meco e no Verão costumo ir para lá. Também gosto de viajar. Não me cativa ir para destinos com praia. Dá-me mais prazer ir por uns dias conhecer uma cidade como Roma ou Viena. Tenho quatro netos. São os mais bonitos de Vila Franca. Eduarda Sousa
“Não é por se nascer pobre que se tem de morrer pobre”

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