A advogada para quem a estratégia faz toda a diferença
Maria Raquel Caniço diz que a profissão não é só o charme que se vê na televisão
A diferença entre a vitória ou a derrota num julgamento reside numa boa estratégia, garante Maria Raquel Caniço, 38 anos, advogada de Vila Franca de Xira. Diz que a advocacia pode ser um barómetro do estado da sociedade e que a profissão não é só o charme que se vê na televisão.
O advogado é um profissional que tem de estar sempre a estudar as alterações que vão surgindo na lei e enfrenta todos os dias longas maratonas laborais, diz Raquel Caniço, advogada natural de Vila Franca de Xira. “Algumas vezes para se ser advogado temos de ser audaciosos, não se pode ser muito passivo. Há passos que devem ser estrategicamente calculados. Esta é uma profissão muito virada para a estratégia, sobretudo na área criminal. Uma boa estratégia pode fazer a diferença”, revela a O MIRANTE. Raquel Caniço nasceu em Vila Franca de Xira e fez todo o seu percurso escolar na cidade. Tem duas filhas e trabalha cerca de 10 horas por dia. Foi para Lisboa completar o ensino superior e aos 25 anos entrou para o seu primeiro emprego, na Direcção-Geral dos Registos e Notariado, nos balcões de identificação civil do Areeiro. “Fazia os bilhetes de identidade”, conta. Regressou a Vila Franca para fazer o estágio no escritório do pai, Manuel Caniço, que foi o grande responsável por fazer de Raquel uma advogada. Quando era pequena sonhava ser astronauta, bailarina ou cientista. Mas quando começou a acompanhar o pai em algumas diligências processuais tomou o gosto à profissão e nunca mais desistiu da advocacia. Durante o estágio chegou a ser voluntária na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, fazendo parte da primeira linha de apoio às vítimas de violência doméstica. Isso deu-lhe uma sensibilidade especial para esses casos. “Tive uma senhora que já me conhecia desde pequena, que divorciei há dois anos depois de uma vida inteira de maus-tratos que podia ter acabado na sua morte, porque foi esfaqueada. O marido foi condenado a prisão efectiva mas não cumpriu a pena por ter mais de 70 anos. Quando lhe disse que estava divorciada fez-me um silêncio enorme com um grande sorriso, como que a assumir que tinha acabado o pesadelo”, recorda.Raquel diz que nunca seria capaz de seguir para juíza. “Seria incapaz de decidir sobre a vida de alguém. Quanto muito iria para o Ministério Público, que faz a defesa de um dos lados. Mas decidir sobre a vida e a liberdade das pessoas é uma responsabilidade muito grande”, revela.Esta profissional diz que o mercado acabou por fazer a selecção natural entre os bons e maus advogados que se foram licenciando ao longo dos anos e nota que a passagem dos processos de papel para suporte informático tem de ser bem reflectido. “Temos circunstâncias onde existe no mesmo processo actos que estão em suporte informático e outros em papel. Muitas vezes o advogado ainda tem de ir consultar o processo físico ao tribunal”, lamenta. O seu trabalho consiste em tratar de todos os assuntos relacionados com direito penal, família, partilhas, direito laboral e administrativo. Diz que a crise está a levar a um aumento dos casos relacionados com direito laboral e família. Há mais divórcios e com isso relações de responsabilidade parental. Conta que nem sempre as pessoas mais bem vestidas são as que cumprem na hora de pagar os serviços do advogado. “São os mais humildes e sinceros os mais cumpridores”, vinca.Raquel Caniço diz que o tribunal de Vila Franca de Xira tem magistrados de elevada qualidade e funcionários judiciais incansáveis mas que todos trabalham em condições desumanas. “O edifício está obsoleto e a rebentar pelas costuras. Nunca acreditei que o novo campus da justiça fosse para avançar na cidade, era bom demais. Quando anunciaram o campus já estavam a construir os contentores dentro do tribunal”, lamenta. Diz que a actual situação é um factor de perigosidade que só não tem tido piores consequências porque o povo português é pacífico. “Há um factor de perigosidade face à proximidade das pessoas e inexistência de grandes barreiras físicas. Algumas decisões são transmitidas a arguidos que estão a três passos do magistrado que as está a dar”, lamenta.
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