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Digníssimo Serafim das Neves

Os estudos científicos custam um dinheirão e são demorados. Agora vão fazer um em Vila Franca de Xira para ficarmos todos a saber, com precisão científica, claro está, do que precisamos para levar uma vida digna. Entidades envolvidas são uma data delas. Três institutos superiores e quatro centros de investigação para além da câmara municipal, pelo menos. Aquilo é coisa para demorar ano e meio, dizem os cientistas que vão meter mãos à obra. Pessoas a entrevistar são, pelo menos, trezentas. Quanto é que a coisa vai custar, ninguém sabe mas deve custar o necessário para ser um estudo com dignidade, digamos assim. E quem o vai pagar? Bom, aí não restam dúvidas nem são precisos estudos. Pagamos nós. A quem vão aproveitar as conclusões? Não faço a mínima ideia. Se o necessário para viver com dignidade for inferior ao salário mínimo nacional calculo que seja o ministro das Finanças a ficar feliz. Se cada português precisar de, pelo menos quatro salários mínimos para viver, quem rejubila são os da oposição. Quanto aos cientistas vão rejubilando todos os meses porque os cientistas, já se sabe, rejubilam por tudo e por nada. Eu para viver com dignidade preciso de uma pipa de massa. Mas também é verdade que a minha vizinha do terceiro esquerdo precisa de muito mais que eu. Pelo menos a avaliar pelos vestidos, sapatos, jóias e carros novos de seis em seis meses. Será que em Vila Franca de Xira os cientistas vão utilizar o cálculo do frango assado para chegarem a conclusões. Entrevistam as pessoas e fazem a média, é isso? Se o nosso almoço for um frango assado isso dá meio frango a cada um, não é verdade? Mesmo que eu coma o frango todo e tu nem o cheires. Imagina que o comboio de cientistas que vai chegar a Vila Franca, conclui, após ano e meio de inquéritos e outros tantos de tratamento de dados que uma família de quatro pessoas, dois adultos e duas crianças, precisa de determinada importância para viver com dignidade. Depois temos que fazer outro estudo porque os dados ficam desactualizados. Os preços das coisas aumentaram, os ordenados encolheram, um dos membros do casal pode ter ficado desempregado...bom, acho que vamos ter um estudo digno desse nome lá para o ano 2050 ou coisa que o valha. Para ajudar no estudo a presidente da câmara decidiu investir em arte. Comprou dois tapetes de Portalegre que ficaram em 47 mil euros. É um bom contributo. Se gastou aquilo em tapetes, quanto não irá gastar em lençóis, toalhas e utensílios de cozinha??!! Os tapetinhos têm desenhos de artistas neo-realistas e vão passar a integrar o espólio do Museu do Neo Realismo. Irá a presidente Maria da Luz Rosinha comprar alguma estátua do Estaline, por exemplo?! E em que secção do estudo irão figurar estas despesas? Ir comer passarinhos fritos a uma das tascas lá da terra faz parte de uma vida digna? E a quantas touradas tem um homem que assistir para poder dizer que leva uma vida digna? Ir numa excursão de camioneta à Serra da Estrela é suficiente para adquirir dignidade ou é necessário ir pelo menos a Badajoz comer churros? De cada vez que penso neste estudo a minha cabeça estala com tanta pergunta. Imagina agora como será o questionário dos estudiosos que se vão atirar de cabeça para este estudo. E as pessoas que vão responder às perguntas. As tais trezentas cobaias. Conseguirão elas responder a tudo ao longo do tempo previsto? É o que eu te digo. Quando mergulhamos em matérias científicas temos que nos preparar para tudo. Mas para tudo mesmo. Ainda te queria falar do disciplinador comandante dos Bombeiros Voluntários da Azambuja, o tal que proibiu álcool, tabaco e palavrões no quartel. Como a missiva já vai longa deixo-te apenas uma pergunta. Será que também proibiu os homens de usar as mangueiras??Um abraço do caraças Manuel Serra d’Aire

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