Desde criança, quando passava os dias no rio Sorraia, em Coruche, que Manuel Hilário meteu na cabeça construir um barco em madeira para lá poder navegar. Fez uma primeira tentativa por volta dos 30 anos, mas o barco meteu água por todos os lados. Não desistiu do sonho e aos 78 anos tem trabalhado incansavelmente num novo barco com 6,5 metros de comprimento que espera concluir dentro de três meses. Em criança passava grande parte do seu tempo dentro do rio. Os calções de banho até apodreciam. A mãe ralhava, mas a sua paixão pelo rio era maior. Os tempos eram difíceis, o pai era pedreiro e só conseguia arranjar trabalhos no Verão. Manuel Hilário começou a aprender o ofício de marceneiro e carpinteiro aos 14 anos. Os anos passaram e por volta dos 30 anos aventurou-se pela primeira vez no seu sonho. Um barco de madeira nascia das suas mãos, mas o projecto não correu nada bem. “Sempre que me colocava lá dentro, o barco enchia-se de água”, confessa. Mais anos passaram, mas a ideia do barco nunca desapareceu. Nos últimos tempos já não conseguia pensar em mais nada. O amigo João Cravidão prontificou-se logo a conversar com o presidente da Câmara de Coruche, Dionísio Mendes, que abraçou de imediato o projecto, prontificando-se a pagar os materiais.Manuel Hilário visitou alguns pescadores para ver os barcos, armou a estrutura que queria montar em ponto maior com umas pequenas tiras de madeira e avançou para a empreitada. É no antigo quartel dos bombeiros de Coruche que anda a construir o barco de dois bicos desde Agosto. Já levou perto de 3000 parafusos. Terá quatro remos, mas também tem espaço para um motor. Vai ser pintado de verde, amarelo e branco, as cores da bandeira de Coruche. Terá capacidade para transportar entre seis a dez pessoas e será entregue à Câmara de Coruche que espera depois realizar alguns passeios turísticos.“E se no dia da inauguração, o barco se afundar?”, perguntamos. Manuel Hilário confessa que muita gente vai dizendo o mesmo, mas sente que o barco não o vai deixar ficar mal. Depois de estudar, pesquisar, mostrou o projecto a alguns entendidos que deram o seu aval. “Do que tenho mais medo é do equilíbrio, mas pesei as madeiras, não creio que algo de mal possa acontecer. Desta vez pensei muito bem e contei com várias ajudas”, desabafa. Em breve o sonho de Manuel Hilário poderá cumprir-se e o barco que tem o nome guardado a sete chaves dará uma nova vida ao Sorraia.