Muito antes do início do jogo que se viu que iria ser um dia de festa no Campo da Caridade em Ourém. A bancada estava lotada e em redor do relvado muitos espectadores já se preparavam para a festa da conquista do primeiro lugar da primeira fase do Campeonato Nacional da Primeira Divisão de Futebol Feminino.Dentro do campo, sempre incentivadas pelos seus adeptos, as jovens do Ouriense cedo começaram também a dar o mote para a festa. Aos 15 minutos com um remate forte de fora da área, Anita fez o primeiro golo do jogo. E logo ali surgiu um clamor forte de festa. Logo a seguir surgiram o segundo e o terceiro golo da equipa da casa. Resultado com que as duas equipas saíram para o intervalo.O primeiro lugar nesta primeira fase da prova estava garantido, e as jovens ourienses saíram, também elas, em clima de festa, a vitória já não lhes iria fugir. No regresso, após o descanso, foram recebidas de novo com cânticos e fortes aplausos.A segunda parte foi um espelho da primeira, grande superioridade da equipa da casa. As jovens de César bateram-se bem, mas não tinham andamento para acompanhar as “meninas” de Ourém. As oportunidades de golo foram surgindo em catadupa, mas algo desconcentradas pela festa, as jogadoras ouriense foram-nas desperdiçando, até uma grande penalidade foi falhada. Só aos 80 minutos a festa voltou com intensidade, na marcação de um canto. Tita eleva-se mais alto do que a defensiva do Cesarense e de cabeça marcou o quarto e último golo da sua equipa.Curiosamente e numa clara visão da união que se vive no interior da equipa e também da comunhão com os pais e dirigentes, foram as jogadoras que em festa vieram até junto da bancada de microfone na mão e, acompanhadas por grande parte da assistência, cantaram os parabéns à mãe de uma das jogadoras que nesse dia comemorava mais um aniversário.Petra Reis, Tininha, Ana Valinho, Naná, Joana Marchão, Pisco, Tita, Anita, Mariana Coelho, Inês Cruz, Diana, Daniela, Catarina, Flávia, Mafalda, Pastilha, Ana Cláudia e Bárbara foram as jovens que deram corpo a esta proeza do Atlético Ouriense.“É impressionante e bonito este clima de festa, mas ainda não ganhámos nada”No final do jogo, o treinador, Mauro Modesto tentava colocar algum travão na euforia e dizia que “é impressionante e bonito este clima de festa, as jogadoras merecem-no, mas é preciso ter noção de que ainda não ganhámos nada”.O técnico que substituiu, Gonçalo Silva, um dos grandes responsáveis pela implementação deste projecto de futebol feminino em Ourém, e que por razões pessoais deixou o clube, garantiu que tem sido fácil lidar com este grupo. “É um grupo muito unido e com vontade de trabalhar, prossegui o bom trabalho deixado pelo Gonçalo, adicionei alguns métodos meus e o resultado não podia ser melhor”, garantiu, acrescentando que os objectivos já foram ultrapassados. Embora vá entrar em todos os jogos da fase final para vencer, o treinador avisa que “não se pode exigir a conquista do campeonato a estas jovens, que vão competir com equipas muito mais experientes”.A experiência do presidente foi importante para o futebol femininoO presidente da direcção do Atlético Ouriense, João Sousa, tem uma larga experiência no futebol feminino e foi um dos principais obreiros na implementação deste projecto em Ourém. “As principais obreiras deste projecto são as jogadoras. É verdade que é um projecto em que eu, o António Gabriel e o Gonçalo Silva acreditámos e levámos por diante”.Os dois dirigentes e o treinador vinham das selecções distritais e sabiam que o futebol feminino no distrito tinha possibilidades de ir mais longe e foi por isso que resolveram implementar o projecto de aglutinar as jovens em Ourém. “Na altura o atlético passava por uma crise directiva profunda, já ia na terceira assembleia geral sem aparecer ninguém para formar direcção. Vieram ter comigo para ajudar a encontrar alguém para ir para a frente do clube. As pessoas com quem falei foram-me dizendo que tinha que ser eu a encabeçar uma lista e acabei por aceitar e reorganizar o clube”, disse João Gomes.Já existia uma equipa feminina no clube. “Uma equipa que nunca tinha ganho um único jogo oficial. Reorganizámos as coisas e logo no primeiro ano conseguimos ficar em segundo na nossa série. No segundo ano fomos campeões nacionais da segunda divisão e este ano é o que se vê. É uma aposta ganha com distinção, mas o maior trabalho é das jogadoras”, garantiu João Sousa.O projecto é para continuar. Mas não é o único projecto do Atlético Ouriense. “Estruturámos o clube e neste momento a nossa maior preocupação é a falta de espaço para colocar a treinar e a jogar as 17 equipas que temos em competição. Há pouco descobri a possibilidade de fazer uma candidatura para renovar este campo e fazer um protocolo com outra associação para fazer outro campo nas suas instalações. Esta situação está ainda na fase de projecto, se o conseguirmos levar por diante acredito que o clube fica com boas condições de andar por diante. Se não o conseguirmos teremos que dar um passo atrás para conseguirmos tornar o projecto sustentável”, referiu João Sousa.Apesar das dificuldades o dirigente garante que no futebol feminino o Atlético Ouriense irá até onde puder. “A nossa vontade é de ser campeões. Não enjeitaremos ir até à Taça dos Campeões Europeus. Mas é preciso ver que temos aqui jovens de toda a região, jovens que pagam para jogar. Para ajudar nalgumas despesas temos algumas delas, que têm curso de treinador e estão a treinar outras equipas jovens do clube, e daí recebem uma pequena compensação”.