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A agente funerária que lida com a morte com muita tranquilidade

A agente funerária que lida com a morte com muita tranquilidade

Isilda Grilo não tinha experiência no ramo mas adaptou-se bem à actividade

A parte mais difícil de ser agente funerária é lidar com uma família em luto. “Não há palavras. As pessoas precisam apenas do nosso carinho, de um ombro amigo”, refere.

Natural da Chamusca, Isilda Grilo, 43 anos, iniciou a sua actividade como agente funerária em 2011, após muitos anos a trabalhar na empresa de venda de materiais de construção civil do marido. Actualmente é proprietária da Funerária “José Grilo Unipessoal, Lda.”, que funciona no antigo posto dos CTT do Tramagal. Sem experiência anterior nessa área, ficou surpreendida com o facto de se ter adaptado tão facilmente ao ramo, sendo uma pessoa bastante tranquila e concentrada em tudo o que faz. “Tento sempre fazer o melhor que sei e posso e, no final, habituei-me a pedir desculpa se algo não ficou como deve ser”, exemplifica. Isilda Grilo, que nunca imaginou vir a trabalhar como agente funerária, conta que desde que é agente funerária passou a encarar a morte como algo tão natural como a vida. “Nunca tive medo da morte mas agora acho que é uma coisa natural. Quando nascemos já trazemos o destino traçado”, refere. A sua voz é calma e está sempre nivelada num tom baixo, que se habituou a usar. O primeiro funeral que fez, curiosamente, foi de um familiar. Recorda que ficou meio dormente e só tomou consciência quando o corpo desceu à terra. “Temos que ter muita sensibilidade e, enquanto fazemos o serviço fúnebre, colocar uma espécie de capa e ficar alheados de tudo”, observa. A agente funerária desloca-se todos os dias da Chamusca para o Tramagal. Abre a agência pelas 9h00 da manhã, mantendo-se ali durante todo o dia. Por vezes, na viagem de regresso, o telemóvel, que está sempre ligado, toca e tem que fazer marcha-atrás. Não hesita. Isilda Grilo sabe que a morte não tem hora marcada. “Já me aconteceu estar a estacionar o carro à porta de casa e voltar porque apareceu algum serviço. Temos que esquecer por completo a nossa vida particular. É um dia de cada vez”, explica. Casada, com três filhas e uma neta, a família já se habituou a ter que mudar os planos à última hora. Na agência funerária, é Isilda Grilo que trata de tudo. Após ser contactada pela família do falecido e preencher o contrato de serviço, começa por tratar dos trâmites burocráticos. É também ela que limpa, veste e maquilha o defunto (seja em casa ou no hospital), trata da marcação da missa (caso seja esse o desejo da família) e do funeral com o padre e conduz o carro funerário até ao cemitério. Desloca-se ainda à Conservatória do Registo Civil e Segurança Social para que a família fique liberta destas burocracias e possa fazer o luto em paz. Conta que muitas pessoas ficam surpreendidas quando reparam que é uma jovem senhora que trata destas questões e, por este motivo, é com frequência que lhe dão os pêsames pois pensam que é familiar do falecido. “Acham muito estranho quando digo que sou da agência funerária mas depois sinto que ficam sempre satisfeitas com o meu trabalho”, atesta. A parte mais difícil de ser agente funerária, confessa, é lidar com uma família em luto. “Não há palavras. As pessoas precisam apenas do nosso carinho, de um ombro amigo”, refere, acrescentando que, por vezes, depois destes serviços ficam “grandes amizades”. Isilda Grilo preocupa-se ainda que, durante o velório na capela, não falte café, bolachas e água porque, durante a noite, os cafés fecham. A agente funerária sabe que todos os funerais são diferentes mas em todos mantém sempre a mesma tranquilidade. O funeral que mais lhe custou fazer foi o de uma jovem do Tramagal, portadora de Trissomia 21, que conhecia bem. “Chorei muito. São pessoas muito especiais”, revela. Também já lhe aconteceu fazer funerais a pessoas que, em dias anteriores, estiveram a espreitar os anúncios de necrologia afixados na montra da sua agência e comentavam, em jeito de graça, que não eram eles que estavam na fotografia. “Custa muito porque estamos a preparar o corpo e estou-me a lembrar que, há bem pouco tempo, aquela pessoa estava a brincar com a situação e agora está mesmo morta. É um trabalho complicado porque um agente funerário também tem sentimentos”, revela.
A agente funerária que lida com a morte com muita tranquilidade

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