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Um homem dedicado à causa pública que não consegue estar parado

Um homem dedicado à causa pública que não consegue estar parado

O Centro de Acolhimento Temporário de Ribeira do Fárrio, com inauguração marcada para 14 de Abril, é a menina dos olhos de Filipe Janeiro, fundador e presidente do centro social dessa freguesia do concelho de Ourém. Os filhos dizem-lhe para abrandar o ritmo, mas ele não consegue. É a trabalhar em prol da comunidade que se sente bem, afirma o homem que também foi presidente de junta durante 17 anos.

Filipe Janeiro estava à frente da Junta de Ribeira do Fárrio, concelho de Ourém, quando percebeu que seria fundamental para a população criar um Centro Social na freguesia. Homem empreendedor decidiu meter mãos à obra e criar o projecto que nasceu há 17 anos e hoje é a principal obra da freguesia de Ribeira do Fárrio. Na altura, percebeu que a sua terra tinha muitos emigrantes cujos pais ficavam cá sozinhos, sem apoios. “Percebi que os pais dos emigrantes ficariam sozinhos, sem qualquer apoio, e foi o que veio a acontecer. Quando começamos existiam poucos lares no concelho e muitas pessoas de outras freguesias vieram para cá”, explica.O Centro Social da Ribeira do Fárrio (CSRF) dispõe de três valências. Lar de idosos actualmente com 65 utentes (capacidade máxima) e centro de dia, com 20 utentes. A lista de espera é extensa. Também têm o Centro de Acolhimento Temporário (CAT) “Sorrir e Brincar” cujo novo edifício vai ser inaugurado no próximo dia 14 de Abril, num espaço contíguo ao centro social. Esta obra é a menina dos olhos de Filipe Janeiro que garantiu que não deixava a presidência do CSRF sem a obra concluída. E está orgulhoso por cumprir a promessa.O CAT funciona actualmente no primeiro andar do edifício da junta de freguesia. No entanto, o dirigente associativo queria que as crianças tivessem um espaço ao ar livre para brincar. Por isso, avançou com a obra. “Estas crianças têm histórias de vida complicadas e merecem pelo menos ter uma casa com um quintal para brincarem no exterior como eu tive na minha infância. Pode faltar para outras coisas mas estas crianças têm que ter boas condições para viverem enquanto estão na instituição”, afirma. O CAT tem capacidade para acolher 12 crianças até aos dez anos, mas em breve vão assinar um protocolo que lhes permite acolher 15 crianças.Desde a inauguração do CAT que tem havido um aumento de crianças na instituição. Filipe Janeiro diz que isso se deve às precárias condições de vida dos pais. “Muitos não prevêem as responsabilidades que o nascimento de um filho traz, outros não têm condições monetárias para os criarem. Existem famílias desestruturadas. São muitas as razões que levam a que as crianças sejam institucionalizadas”, esclarece.Filipe Janeiro queria deixar a presidência do CSRF depois da inauguração das novas instalações do CAT, mas não o deixaram. As eleições realizaram-se há cerca de dois meses mas como não houve listas candidatas teve que se manter à frente do barco. Apesar de ser um trabalho não remunerado, não se importa, porque gosta do que faz, mas acha que há que dar lugar a outros. “O problema é que as pessoas não se interessam muito pelo associativismo e fogem dos cargos de responsabilidade. Vou ficar mas gostava que fosse o último mandato”, confessa.Depois de inaugurar a casa do CAT diz que a sua missão ainda não está completa. O local onde ainda estão as crianças vai ficar desocupado e existem lá condições para criar outra valência. Janeiro ainda está a estudar o que há-de fazer no local mas gostaria de acolher pessoas com deficiência, que vivam sozinhas e sem apoios. “Os meus filhos costumam dizer-me que já é altura de parar e descansar mas eu não consigo. Não me sinto cansado e não sei estar sem fazer nada. Costumo dizer: Feliz daquele que tem o suficiente para ele e um pouquinho para os outros. É isso que faço”, afirma.Câmara podia ter olhado mais para a obra do CATSó depois de ter ido à reunião pública da Câmara de Ourém é que Filipe Janeiro conseguiu um apoio de 50 mil euros da autarquia para ajudar na construção das novas instalações do CAT. O dirigente associativo diz que todas as ajudas são boas mas defende que o município devia ter olhado um “bocadinho mais” para a obra. “Esta casa custou cerca de 600 mil euros. Demorou até ficar concluída porque foi sendo feita consoante havia dinheiro ou não. Agradecemos o apoio da câmara mas se fosse mais não lhe ficava mal”, diz, acrescentando que se orgulha do facto do CSRF não ter dívidas.Demitiu-se de presidente de junta por se ter sentido desautorizadoFilipe de Jesus Janeiro nasceu a 13 de Março de 1939 na localidade de Ribeira do Fárrio, concelho de Ourém. Estudou até à terceira classe e nessa altura, com nove anos, foi ajudar os pais nas terras que possuíam. No entanto, nunca desistiu do sonho de concluir a quarta classe. O que só veio a acontecer quando esteve no Ultramar. Quando regressou casou e começou a trabalhar como pedreiro. As coisas correram bem e criou uma empresa de construção civil, que ainda mantém, agora nas mãos dos filhos. Tem seis filhos e sete netos.Foi presidente da Junta de Freguesia de Ribeira do Fárrio durante 17 anos, eleito pelo PSD. Demitiu-se em 2006 devido a uma divergência, por causa de um muro, com o presidente do município, David Catarino (PSD). “Alguém construiu um muro na borda da estrada, não respeitando as leis. A câmara prometeu que mandava recuar o muro, como fez noutras situações, mas nunca o fez. Senti-me desautorizado e achei que não havia mais condições para continuar”, justifica. Entretanto, o filho, Pedro Janeiro, sucedeu-lhe na presidência da junta. Diz que não lhe dá conselhos porque o filho não precisa. Enquanto presidente de junta diz que faltou fazer o saneamento. “É uma obra que não dependia de mim”, diz.
Um homem dedicado à causa pública que não consegue estar parado

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