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Alexandre Cebrian Valente é um catalisador na pele de realizador

Alexandre Cebrian Valente é um catalisador na pele de realizador

Uma comédia irónica em Santarém com o título “Eclipse em Portugal”
Alexandre Cebrian Valente chega pouco depois das seis da tarde ao local das filmagens, junto às escadas que descem para a calçada de Santa Clara, em Santarém. “Ó canalha!!”, chama. A equipa, constituída por gente muito jovem, junta-se em grupo à sua frente. Depois de explicar de forma resumida e de ter dado algumas indicações sobre o que vai ser filmado termina. “Vamos ter que ser muito rápidos”. Quem sabe o que é ser rápido em cinema que faça as contas. Três horas depois, quando O MIRANTE abandonou o local, tinha sido filmada uma única cena, um carro com dois actores a descer a calçada.O realizador diz que não é realizador. É um catalisador. Vai falando com os jornalistas mas está atento a tudo. De vez em quando interrompe para perguntar se o carro está todo artilhado ou para mandar afastar uns dos outros, os cabos que serpenteiam pelo chão. “Não quero cabos encostados a cabos, ou por cima de cabos. Se um arde, arde tudo”. O actor José Eduardo está junto de Alexandre. Não vai filmar naquela noite mas está ali. Chega uma senhora de muletas com a filha. A rapariga pede um autógrafo. A progenitora fala. “Gostamos muito de si. Dê cumprimentos à senhora doutora. E ao seu filho”. Não se percebe se ela está a falar da família do actor ou da família de alguma telenovela em que José Eduardo participou. Quando o jornalista olha para trás de si já há equipamento montado por todo o lado. Suportes com holofotes, câmaras de filmar nos tripés. O motor a diesel do gerador que está em cima de uma carrinha de caixa aberta começa a ronronar. O responsável pelo som, Paulo Abelho, está a colocar um último microfone debaixo do Porsche de cor escura que vai ser usado pelos actores que ainda não estão no local. Não há sinais de stress nem tensão. Não há sinais de molenguice ou desatenção. Quando alguém diz que o carro tem o depósito na reserva o realizador sorri. “Ainda bem. Assim não há o risco de alguém ir para muito longe com ele”.Alexandre Cebrian Valente e José Eduardo reflectem sobre os jovens actores que aparecem e desaparecem. Caras bonitas que são usadas e descartadas. “Os sorrisos são todos iguais. As mamas são todas iguais. A expressão é a mesma qualquer que seja a cena”. Não é uma conversa de bota-abaixo. Nem do tipo, no meu tempo é que era bom. Se a Fernanda Serrano, que faz parte do elenco do Eclipse (faz de beata religiosa, mãe da namorada do jovem que mata os pais), ler esta reportagem, pode confirmar o que provavelmente já sabe. Tem ali dois admiradores. Está frio e o actor José Eduardo começa a ficar com o pingo no nariz, mas não arreda pé, limitando-se a apertar o blusão até ao pescoço. O realizador faz o mesmo. Recordam o frio que raparam em Montalegre e Boticas, no nordeste transmontano em 1995 quando ambos estavam a filmar com Fonseca e Costa, “Cinco dias e cinco noites”. Aventuras e desventuras. Fala-se também dos trabalhos que têm feito. O actor já participou em duas séries e três filmes em 2013. “O Eclipse em Portugal” é mais um.Dois carros com algum pessoal desaparecem do local em direcção às traseiras do liceu. Hora de uma bebida quente e de acertar pormenores. Hora também de comer uma bucha que o jantar vai ser bem tarde. Quando volta ao local das filmagens Alexandre Cebrian Valente conversa com o proprietário do Porsche para lhe explicar que têm que tirar o capot do carro para filmarem uma cena de um acidente. Nas carrinhas brancas está inscrita a frase “Jorge Cordeiro - Comércio Automóvel apoia o cinema português” mas o empresário é irredutível. Não podem tirar o capot do Porsche. “Ok. Inventamos outra coisa”.O realizador/catalisador não se exalta, não se enerva e não se impacienta. Mas é exigente e tem um tom de voz firme que, nos momentos decisivos, faz mexer tudo e todos. “Ó miúda” diz quando se dirige à actriz Sofia Ribeiro que faz o papel de Anita, a namorada do Tó-Quim. Às 19h30 Alexandre Cebrian eleva a voz: “Quero filmar, car...! Vamos começar. Vamos lá começar. Ó Rock’n’Roll onde estás?! Vamos lá começar o dia”. A noite já caiu e a fachada lateral do Convento está iluminada. As sombras das árvores naquela semi-luminosidade dão um ar fantasmagórico ao local por onde há-de passar o carro. O Rock and Roll é o apresentador do programa 5 para a meia-noite, Pedro Fernandes, que se estreia no cinema como Tó-Quim. O MIRANTE descobre-o no banco traseiro de um carro a olhar para o ecrã iluminado do iphone, provavelmente a ler alguns dos diálogos. A seu lado, o veterano José Eduardo parece dormitar.Passa uma assistente com um gato numa caixa própria para transporte de animais. “Não temos um gato. Temos dois. Um que tratamos muito bem e outro que tratamos muito mal”, diz Alexandre Cebrian Valente com um cutelo na mão. Ao ver as caras de espanto ri-se. “É mentira!!”. Depois senta-se ao volante do Porsche com a actriz a seu lado e desce a ladeira. Faz duas vezes o percurso para lhe mostrar o que pretende. Quando sai do carro há mais um contratempo. O gerador falhou. Mais um dos inúmeros telefonemas e passado pouco tempo chega pessoal da câmara municipal que resolve o problema. “Luzes, som, câmaras”, Alexandre empurra ligeiramente o caixote onde está poisado o monitor com um pé, coloca os auscultadores. “Cena 102 mais 101....onde está o gato?”, ainda pergunta. Depois alerta a actriz que está ao volante. “Liga os máximos. Arranca”. E lá vai o Porsche ladeira abaixo com a câmara em picado a acompanhar do cimo das escadas. O carro volta para cima e o realizador parece satisfeito. “Correu bem” diz para o operador de câmara. “Quando eu tiver dinheiro faço um filme contigo”.
Alexandre Cebrian Valente é um catalisador na pele de realizador

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