Qual o local ideal para contar uma história de um alquimista que mata jovens mulheres para conseguir fabricar uma essência mágica? O grupo de teatro Fatias de Cá, optou por uma antiga destilaria no meio do campo, num dos limites da aldeia de Brogueira, concelho de Torres Novas. E quem melhor que o artista plástico australiano Sam Abercromby que chegou a Portugal em 1986 guiado por uma série de visões, para compor a música da peça e participar no décor com alguns dos seus quadros? No decorrer do espectáculo, os dez actores que representam a peça “L’odeur”, escrita e encenada por Carlos Carvalheiro, representam nos vários espaços do edifício abandonado, seguidos de perto pelos espectadores, uma técnica utilizada pelo grupo que, desde a sua fundação há trinta e dois anos, já apresentou espectáculos teatrais em lugares como o Castelo de Almourol, o Convento de Cristo ou o Monumento Natural das Pegadas de Dinossauro na Serra d’Aire.Uma destilaria abandonada, onde o figo preto da região, depois de seco, era transformado em álcool, é um lugar com história e o cenário perfeito para representar os crimes de um alquimista. O seu aproveitamento pelo grupo de Teatro de Tomar, que já ali apresentou outras peças de sucesso como “Corto Maltese”, ajuda a preservar memória e património. “Adaptar velhos espaços e aproveitá-los para actividades culturais é muito mais sério e honesto que fazer cineteatros em terras onde não há actividade cultural. Na destilaria da Brogueira fizemos mais de uma centena de espectáculos. Só é pena que o lugar pareça ficar longe da civilização quando está apenas a dez minutos do nó da A1 com a A23 na zona de Zibreira”, refere o director, Carlos Carvalheiro.Os espectáculos realizam-se aos sábados a partir das 18h18. Em Abril realizam-se mais dois, a 20 e a 27. Em Maio são três os que estão agendados. A 4, 11 e 18. No final de cada representação é servido um jantar que permite o convívio entre actores e espectadores. O lema do grupo Fatias de Cá é não resistir a uma ideia nova nem a um vinho velho. Para além de L’Odeur, o grupo tem em cena aos domingos, no Convento de Cristo em Tomar, (domingos às 17h17) “O Nome da Rosa”, baseado no livro de Umberto Eco. O espectáculo foi estreado em Outubro de 2004 e continua a ter público. O facto da história, que envolve as mortes de sete monges numa abadia beneditina onde vão reunir-se uma delegação enviada por João XXII e uma delegação franciscana, decorrer no Convento de Cristo em Tomar e os espectadores terem acesso a zonas do edifício interditas a visitantes a horas pouco habituais, é um dos aliciantes.