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“O nascimento de uma criança é poesia pura”

Fátima Antunes, médica, 63 anos, Santarém

A médica ginecologista/obstetra Fátima Antunes, 63 anos, vive em permanente contacto com a primavera. Há 40 anos que ajuda crianças a nascer. Quando não está no hospital dedica-se à jardinagem e vê brotar estrelícias, orquídeas e jarros. Tem um filho e é casada com um psiquiatra. Divide-se entre Santarém e Lisboa, as duas cidades onde vive e trabalha. Gosta de ler, cozinhar e trabalhar, actividade que considera fundamental para o equilíbrio do ser humano.

Sentir-me-ia muito infeliz se não trabalhasse. Percebo muito bem como é que as pessoas desempregadas se sentem. O trabalho é fundamental para o equilíbrio do ser humano. Vou exercer a minha profissão até poder. Dá-me muito prazer trabalhar.Aos três anos de idade o meu filho já tinha a certeza que não queria ser médico. Acho que foi um bocado traumatizado pela nossa vida profissional. O meu marido é médico psiquiatra. De manhã a primeira coisa que perguntava era: quem é que vem hoje dormir a casa? Foi um pouco complicado conciliar a carreira com a família por causa das urgências. Felizmente tive sempre boas empregadas que sempre me ajudaram imenso. Vivo e trabalho em duas cidades. Vou alternando entre a casa que tenho em Santarém e o apartamento de Lisboa. Estou quase tanto tempo num sítio como noutro. Nasci em Castelo Branco. A minha avó era a matriarca da família e tudo corria ali como ela desejava. Aos 12 anos mudámo-nos para Lisboa. O meu pai era militar e foi trabalhar para a GNR. A mãe era doméstica. Circulávamos entre o Liceu Rainha D. Amélia, na Junqueira, e o apartamento junto ao quartel, na Ajuda, e acabávamos por viver quase em ambiente de aldeia. A postura em relação ao parto mudou desde que sou médica. Sobretudo no que diz respeito ao acompanhamento dos maridos. Os homens hoje acompanham muito mais as mulheres e participam muito mais na gravidez e parto. Isso fomenta a união da família. Houve grandes mudanças. Tínhamos uma mortalidade infantil impressionante e neste momento estamos ao nível dos melhores da europa. Foi a minha geração que conseguiu isso o que é muito gratificante. O nascimento de uma criança é poesia pura. É provavelmente o mais perfeito dos poemas. As reacções emocionais da família são de uma riqueza excepcional. Já sou médica há 40 anos mas esse momento é sempre gratificante. Sobretudo quando tudo corre bem. Tive uma situação de uma grávida que ajudei a nascer e que me procurou para que ajudasse a nascer o filho. Há coisas que ou se fazem na altura certa ou já não se fazem. Gostava muito de equitação mas por ser menina a família nunca me deixou experimentar. Nas férias andava de burro e cavalo na terra do meu pai. Depois já não houve oportunidade de aprender. Em Lisboa eu e os meus irmãos íamos ao cinema, dávamos passeios e frequentávamos os bailes em casa dos amigos. Nas horas vagas dedico-me à jardinagem. Tenho um quintal em Santarém e canteiros em Lisboa. Gosto de ver crescer as estrelícias, tenho orquídeas lindíssimas e estou à espera que apareçam os jarros. Tenho uma jardineira para fazer a manutenção dos espaços. Era impossível fazer tudo sozinha.Faço arroz doce muito bem como aprendi com a minha avó. Dá-me prazer ir para a cozinha e organizar uma refeição. No dia a dia opto por fazer pratos simples, como sopa, peixe cozido, carne grelhada e legumes.Só vou às compras por obrigação. Detesto ir ao supermercado. Só compro uns sapatos ou uma peça de roupa por necessidade. Não sou minimamente consumista. Só à livraria vou com prazer porque gosto muito de ler. Romances históricos e ensaios. Gosto de reler os clássicos de Eça de Queirós, por exemplo. Adorei “Memórias de Adriano” de Marguerite Yourcenar. Também gosto de decoração. Já fiz ginástica mas tive que parar por razões de saúde. Agora limito-me a ir passear o cão. Não planeio detalhadamente as viagens. São feitas normalmente com alguma dose de improviso. Somos incapazes de programar cada um dos sítios que vamos visitar. Gosto de países tropicais. Tinha uma certa relutância em ir ao Brasil e desde que lá fui fiquei completamente apaixonada. É uma maravilha o clima, as praias, as ilhas... Habituei-me a começar o dia muito cedo. Acordo às sete da manhã mas tenho que dormir as minhas horas. Também não passo sem o meu café. Geralmente bebo dois, excepcionalmente três.Ana Santiago

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