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A polivalência como ingrediente para fazer crescer um negócio de família

A polivalência como ingrediente para fazer crescer um negócio de família

“Para se mandar fazer temos que saber fazer”, defende o empresário tomarense Armindo Ferreira Gomes

Todos os conhecimentos que Armindo Gomes reúne foram-lhe dados pelo curso da vida. O empresário tenta ler alguns livros e acompanha a legislação. Os investimentos foram sempre feitos com muita ponderação para não ficarem reféns da banca.

Armindo Ferreira Gomes, 53 anos, natural de Carvalhal Grande, Madalena, em Tomar, começou a trabalhar no alambique e lagar de azeite do pai (já herdado do avô) a convite do mesmo, com 21 anos e soube agarrar a oportunidade. Hoje, a “Ferreira Gomes e Filhos” Lda, que se dedica ao fabrico de álcool, aguardente vínica, bagaceira, azeite bem como ao comércio de ácido tartárico e mosto concentrado (entre outros sub-produtos) ocupa um terreno de 6,5 hectares em Vale Florido, São Pedro, e dá emprego a 18 pessoas, sinal de que soube crescer graças à facilidade com que se adaptou às exigências do mercado e à polivalência dos seus dirigentes e colaboradores. Apesar de ser o rosto da empresa, que alcançou em 2012 o prémio PME Excelência, Armindo Gomes tem como sócios o pai e os sobrinhos, filhos do irmão João Alberto (falecido há sete anos).A história desta empresa tomarense começou quando o seu pai, José Ferreira Gomes, fundou a empresa, em nome individual, em 1972. Não existiam empregados fixos, apenas temporários. “Mais tarde, em 1993, passou a sociedade por quotas e o meu pai deu a sociedade aos dois filhos”, conta Armindo Gomes que, entre os 15 e 19 anos trabalhou na empresa João Salvador. Foi nessa altura que o pai, que tinha muito trabalho em casa por conta do alambique, lhe disse que “evitava de andar a trabalhar por conta dos outros”. Armindo Gomes aceitou o repto com naturalidade. Na empresa habituou-se a fazer de tudo um pouco, de “administrador a telefonista” conservando até hoje esta polivalência uma vez que defende a máxima: “para se mandar fazer, temos que saber fazer”. Em criança, Armindo Gomes queria ser engenheiro agrónomo mas ficou pelo curso de administração e comércio na Escola Industrial de Tomar. “O meu filho cumpriu este desejo pois acabou por licenciar-se em engenharia agrícola. Como o grupo tem uma área agrícola, encontra-se a trabalhar connosco nessa área”, explica. A família é o eixo desta empresa. Um dos sobrinhos é licenciado em engenharia mecânica e outro em engenharia informática, tendo estas áreas sob sua responsabilidade. Armindo Gomes confessa que prefere a parte da produção. “Quem me quiser ver bem é na fábrica, a acompanhar os trabalhos”, atesta embora, desde o falecimento do irmão, acumulasse esta vertente com área administrativa.Armindo Gomes sempre soube que, para crescerem, tinham que produzir consoante as necessidades do mercado e a mudança para as amplas instalações, há dez anos, ajudou no processo. “O nosso objectivo foi sempre o de crescer para tentar ajudar o concelho a desenvolver-se”, uma vez que tanto em Tomar como em Torres Novas existiam condições propícias à laboração de destilarias, porque existiam muitos figueirais. “O meu pai começou em 1972 com um pequeno alambique para destilar figos, produzindo aguardente. Fomos melhorando a produção mas o figo começa a ter um revés porque as pessoas começaram a abandonar os figueirais quando acabou a intervenção do estado na compra do figo através da AGA - Administração Geral do Álcool”, explica. Perante este cenário, a empresa começou a diversificar a actividade, trabalhando com outra matéria prima. Nos anos 90 começaram a fazer aguardente de produtos vínicos, a partir da casca da uva, borras do vinho e do próprio vinho, que compram de Trás-os-Montes ao Algarve. A partir de 1993 começam a fazer álcool dos sub-produtos do vinho para entregar ao Estado, ao abrigo de programas comunitários mas estes só se prolongam até 2010. Mais uma vez a empresa teve que se reinventar e alterar o processo de fabrico. Começou então a produzir álcool rectificado (álcool das farmácias) que vende a granel. Fabricam ainda sub-produtos tais como grainha de uva (feitos a partir da grainha da uva) para fabrico de óleo alimentar que em Portugal ainda não tem muita expressão mas é apreciado em muitos países e tartaráto de cálcio (feito a partir do sarro do vinho, cristais que se agarram aos depósitos) e que serve para regular o nível de acidez.Todos os conhecimentos que Armindo Gomes reúne foram-lhe dados pelo curso da vida. O empresário tenta ler alguns livros e acompanha a legislação. Os investimentos foram sempre feitos com muita ponderação para não ficarem reféns da banca. Sem horário de trabalho fixo, como qualquer empresário, faz questão de acompanhar os trabalhadores que fazem parte dos três turnos por isso entra às oito da manhã na empresa e raramente sai antes das oito da noite. “Tenho dias inteiros que não saio daqui mas como também tenho que fazer de comercial, tanto em compras como em vendas, passo muito tempo fora”, refere. As férias nunca são muito longas mas tem um escape do qual não abdica todas as sextas-feiras para recarregar baterias: uma jantarada com amigos onde não se fala de trabalho. O pai, seu mentor, a caminho dos 81 anos, dá-lhe apoio moral. “Só a presença dele conta. Com a idade que tem continua a ser muito dinâmico. É o nosso relações-públicas no lagar”, conta sorridente.
A polivalência como ingrediente para fazer crescer um negócio de família

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