Que significado tem para si a Festa da Ascensão?É uma festa da Chamusca, uma tradição de há muitos anos de que gosto muito. É um dos principais símbolos do concelho. Nem a Chamusca é sem a Ascensão nem a Ascensão é sem a Chamusca. Todos os anos tento acompanhar a festa do princípio ao fim mas a minha participação é mais como assistente, porque tenho muito medo dos bois (risos). O que é que vive mais nesses dias?Vivo um pouco de tudo, mas sem dúvida que a entrada de toiros de Quinta-Feira de Ascensão é a cereja no topo do bolo. É curioso que todos os anos se juntam milhares de pessoas na Rua Direita para ver passar os toiros. São poucos segundos de emoção, mas no ano seguinte a peregrinação repete-se com a mesma emoção do ano anterior. É qualquer coisa de fantástico. Isto só existe na Chamusca.Já alguma vez foi a Fátima a pé?Já. Não o fiz por promessa e fi-lo por duas etapas. Acompanhei uma pessoa de família. Tenho fé em Nossa Senhora de Fátima e acredito que não é um sacrifício muito grande ir da Chamusca a Fátima a pé.As súbitas mudanças climáticas preocupam-no?Sim, principalmente pelo impacto negativo que têm na agricultura. Sem chuva, nada cresce. Mas com demasiada chuva também é difícil fazer as culturas nos ricos campos da Chamusca. E nos últimos anos não tem havido meios termos, ou é seca ou chuva em abundância.Já está farta de ouvir falar da crise?Não estou farta de ouvir falar da crise. No meu caso sinto que estou um pouco resguardada da crise. Psicologicamente ainda não interiorizei que isto está cada vez pior. Mas consigo ver que há muita gente a passar por grandes dificuldades.Mesmo assim qual é a pior chaga da crise?Sem dúvida o desemprego. Vinte em cada 100 pessoas estão desempregadas, algumas nem têm subsídio de desemprego. Não sei como conseguem sobreviver. Sinto que há pessoas a passar fome. Essa situação tem algo a ver com o aumento dos assaltos?Na minha opinião é uma das causas principais. As pessoas vêem-se sem nada e por isso recorrem a situações que não se enquadravam na sua maneira de ser.Seria capaz de roubar se visse o seu filho com fome?Neste momento direi que não. Mas numa situação extrema não sei qual seria a minha reacção. Faço tudo para o ver feliz, por isso não sei talvez fosse capaz.É uma leitora compulsiva?Não sou uma leitora compulsiva, mas gosto muito de ler. A profissão que tenho parece que foi feita para mim. Adoro livros, adoro ler. Na minha juventude não tinha possibilidades de comprar livros, mas lia tudo o que podia. Sempre que conseguia ter algum livro ou jornal à minha disposição não dispensava a sua leitura. Depois passava muito tempo na biblioteca e levava livros para casa.Os leitores têm aumentado na Chamusca?Têm aumentado. Mas ainda não atingiram o ponto certo. Pelo que vejo aqui na biblioteca, os hábitos de leitura dos chamusquenses estão a aumentar. Com este novo espaço as pessoas vêm mais. Não sei se seriam pessoas que compravam para ler e que com a crise não o podem fazer e vêm à biblioteca, ou se na verdade houve um incremento na leitura.Qual é o seu autor preferido?José Saramago foi um escritor fantástico. As pessoas depreciavam-no devido às suas ideias. Mas a sua escrita é muito profunda. Gosto também muito de Paulo Coelho, são autores diferentes, mas são efectivamente de quem eu gosto muito.Já tomou banho no Rio Tejo?Já sim senhor! Quando era jovem ia com o meu cunhado e a minha irmã para o Tejo, acampávamos numa daquelas ilhas no meio do rio e passávamos lá o fim-de-semana. O meu cunhado era de famílias de pescadores e sabia pescar e arranjar o peixe como ninguém. Passámos ali momentos maravilhosos. O Tejo e a Chamusca vistos do rio são maravilhosos. Gosta mais do rio em tempo de seca ou em tempo de cheias?Sem dúvida que em tempo de cheias. Quando o rio vai cheio é maravilhoso. Quando vai vazio é desolador.Qual é a frase feita que lhe ocorre neste momento?Vive e deixa viver.