
Noivas “a fingir” desfilaram na Glória do Ribatejo com fatos de antepassados
Vestido mais velho data de 1888 e o mais recente é dos anos 70
Um grupo de jovens do concelho de Salvaterra de Magos desfilou durante cerca de duas horas na Casa do Povo da Glória do Ribatejo com antigos fatos de noiva glorianos. Mais de 500 pessoas encheram o salão para assistirem ao desfile.
“Os costureiros ainda não descobriram a Glória, mas não vão demorar muito”. Esta é uma das certezas de Rita Pote, da Associação do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Glória do Ribatejo, responsável pela organização do desfile de fatos de noiva da freguesia na noite de quarta-feira, 24 de Abril. As jovens que desfilaram garantem que a tradição dos glorianos de só se casarem entre si já desapareceu, embora se continue a manter a tradição de o casamento durar pelo menos dois dias. Fatos de diversas cores, datados de 1888 até aos anos 1970, saíram dos armários de alguns glorianos para poderem ser apreciados pelo povo. Embora alguns dos fatos já tivessem sido cosidos com máquinas de costura, alguns pequenos pormenores eram feitos à mão. “As mulheres da Glória continuam a ser diferentes. Têm uma sensibilidade artística muito mais apurada que desenvolveram com a prática. Desde os cinco anos que as meninas já andavam com os trapinhos a coser”, explicou Rita Pote, defendendo que alguns dos fatos são peças de alta costura. Foi com muito esforço que Ana Martinho, 25 anos, se conseguiu enfiar no vestido da bisavó datado de 1924. Todos os fatos têm a particularidade de terem cinturas muito estreitas, que variam entre os 54 e 60 centímetros. “As mulheres na altura eram muito mais pequeninas e delicadas do que hoje e tivemos alguma dificuldade em encontrar jovens que coubessem neles”, explica Rita Pote. O desfile demorou perto de dois meses a preparar e umas das maiores dificuldades encontradas prendeu-se com o empréstimo dos fatos por parte das famílias que gostam de preservar a sua intimidade.Tradição do casamento entre glorianos ultrapassadaAlexandra Dias, 28 anos, da Glória, vestiu o fato de noiva mais recente, dos anos 70. “É um vestido leve. Vou casar em breve, mas quero levar o meu próprio vestido para depois também deixar para as gerações vindouras”, revela. Há muito que a tradição de os glorianos se casarem apenas entre si já desapareceu. Alexandra Dias vai casar com um rapaz gloriano, embora garanta que aconteceu por acaso. Patrícia Pote, 26 anos, não encontrou qualquer resistência da família em casar com um rapaz de fora da freguesia. “As pessoas que são de cá ainda gostam que os casamentos sejam entre glorianos, mas a Glória já é uma terra adaptada à realidade, embora ainda mantenha algumas particularidades”, revela. Uma das tradições que se mantém é a de a festa dos casamentos durar mais de um dia. Para além do dia da boda, no dia seguinte a família volta a reunir-se para continuar a celebrar o momento. Existem famílias que ainda se reúnem no terceiro dia, embora seja cada vez mais raro devido aos custos envolvidos.

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