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Historiador diz que autor de Dom Quixote esteve em Tomar

Historiador diz que autor de Dom Quixote esteve em Tomar

O professor e investigador José Valle de Figueiredo foi descobrir, através da leitura de documentos e da biografia de Miguel Cervantes que o autor de Dom Quixote passou por Tomar há 432 anos, quando D. Filipe II estava reunido nas Cortes. José Valle Figueiredo foi o convidado da última “Sala de Estudos”, um jantar-tertúlia dinamizado pela companhia teatral “Fatias de Cá” que tem lugar sempre na primeira quinta-feira de cada mês, e que desta feita foi dedicado ao tema “Queixotices”. A iniciativa costuma-se realizar no Convento de Cristo mas desta vez aconteceu na Quinta “Casal das Freiras”, do conhecido produtor de vinhos José Vidal, no Marmeleiro, Paialvo, uma vez que o monumento estava ocupado com outra iniciativa. O tradutor Miguel Serras Pereira, que em 2008 foi distinguido com o prémio Personalidade do Ano por O MIRANTE, (ver caixa), também estava presente no jantar-tertúlia que reuniu à mesa cerca de vinte comensais. José Valle de Figueiredo começou por dizer que está convencido que muito pouco sabe sobre a obra de Dom Quixote, embora agora, graças à tradução da obra por Miguel Serras Pereira, seja mais fácil chegar até ele. O professor e historiador consultou a biografia de Miguel Cervantes (1547-1616) e chegou à conclusão de que ele tinha estado em Tomar. “A pátria de Dom Quixote é sempre onde ele estiver. O lugar onde esteve o pai do cavaleiro da triste figura também é o nosso”, atestou. O professor referiu que se sustenta em documentação encontrada de onde se infere que, após ter participado em duras batalhas, regressa a Espanha para encontrar estabilidade e uma ocupação. “Lembra-se de ir até às ilhas espanholas na América. Para o conseguir, tem que vir a Portugal, em 1581, pedir ao Rei D. Filipe II, que estava a entronizar-se como Filipe I em Portugal, precisamente nas cortes que estavam reunidas em Tomar”. O historiador acha que foi para a cidade do Nabão que Miguel Cervantes se dirigiu e esteve nos meses de Abril e Maio desse ano. Terá sido também aí que se enamorou de Ana Franca, romance do qual nasce uma filha, Isabel de Saavedra, embora se venha a casar com Catalina Salazar. É inspirado em Ana Franca, a pastora silena, que escreve a novela “La Galatea” em 1585.A possibilidade de Miguel Cervantes ter passado por Tomar, como defende o historiador convidado, levou a questionar os presentes se o mesmo não devia ser aproveitado como uma mais-valia, assinalando-se anualmente a presença de Cervantes na região. “Vocês têm aqui um diamante por lapidar”, considerou mesmo José Valle Figueiredo, usando e abusando de cenários fantasiosos. Carlos Carvalheiro, director do “Fatias de Cá”, confessou que se “há obras que são incontornáveis no teatro, a de D. Quixote é uma delas”, embora admita que já foi representada tantas vezes que seria uma redundância querer voltar a fazê-la. “Temos que reflectir como é que um cavaleiro como D. Quixote, um velho gagá, é importante para o público”, disse. O director artístico recorda que se a companhia já conseguiu conjugar Gil Vicente com o vinho (espectáculo “A Menina Inês Pereira”, de promoção do vinho do Ribatejo Norte, promovido pela ADIRN em Parceria com o Fatias de Cá e produtores de vinhos das sub-regiões de Tomar e Encostas D’Aire) talvez se pudesse recuperar D. Quixote não só com vinho mas também gastronomia, ciclos de estadia e partir para um projecto maior em Tomar, que pudesse mostrar ao público quem era o D. Quixote.O interessante desafio de traduzir Dom Quixote de la ManchaMiguel Serras Pereira continua a dedicar-se intensamente às traduções. Neste momento está a traduzir um ensaio sobre propaganda, do autor francês Jacques Ellul. Já não mora na pacata aldeia de Barca da Amieira, em Mação, tendo-se mudado para o Pombalinho, aldeia vizinha da Golegã que fica mais próxima da capital, onde a esposa, Teresa, dá aulas. Traduziu Dom Quixote de Cervantes em 2005 e refere que, após uma hesitação inicial, aceitou embarcar no desafio. Fez a tradução lentamente, evitando usar expressões e termos que não existiam em Portugal nessa época.“Verifiquei que o castelhano do século XVII e o português são muito mais próximos que o actual castelhano, que evoluiu sobretudo nas formas gramaticais. No fundo, tentei fazer uma tradução também no tempo”, explicou, desafiado por Paula Malheiro a contar se sentiu que foi um problema traduzir Cervantes. Para Miguel Serras Pereira, só D. Juan se equipara à figura de D. Quixote, que acaba por marcar toda a literatura europeia. “Cervantes apresenta um D. Quixote que tem uma indefinição permanente. Cervantes é como nós. É um herói problemático. Só no fim sabemos se é bom ou mau. Foi um desafio muito interessante pegar no Dom Quixote. É, de facto, uma obra única de grande imaginação”, referiu.
Historiador diz que autor de Dom Quixote esteve em Tomar

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