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O segredo para o desenvolvimento do teatro é fazer arte útil

O segredo para o desenvolvimento do teatro é fazer arte útil

Rui Sérgio Dionísio é actor e director artístico do Cegada Grupo de Teatro de Alverca

De Janeiro a Maio o Cegada Grupo de Teatro de Alverca registou um milhar de espectadores nas suas peças, quase o dobro em relação ao mesmo período do ano passado. Para Rui Sérgio Dionísio, director artístico do grupo, os resultados são fruto de muito trabalho e de uma profissionalização constante. Diz que ir ao teatro ainda é muito barato para os custos das produções, elogia o apoio dado pela câmara e queixa-se da cultura no país ser sempre o parente pobre dos Orçamentos de Estado. A entrevista realizou-se na sede do grupo em Alverca. Rui tomou um café antes da conversa e falou de forma descontraída. Atendeu o telefone por duas vezes e diz que um actor tem de estar preparado para trabalhar onde houver trabalho.

O Cegada Grupo de Teatro de Alverca está a atravessar a melhor fase dos seus 27 anos de existência e nem a crise que leva a um desinvestimento em cultura parece prejudicar a dinâmica do grupo, que tem vindo a apostar na profissionalização e melhoria dos métodos de trabalho. Os resultados começam a dar nas vistas com a duplicação do número de espectadores nas peças apresentadas nos últimos cinco meses. “Tivemos entre Janeiro e Maio um milhar de espectadores”, assegura o actor e director artístico do Cegada, Rui Sérgio Dionísio.O grupo tem 40 colaboradores e está a promover um curso de formação ao mesmo tempo que desenvolve os ensaios para a montagem de uma nova peça intitulada “Vertigens”, que retrata um grupo de trabalhadores de uma fábrica que se junta num telhado para fumar. “Não nos identificamos com o teatro amador. Neste momento temos actores com currículo profissional e estamos empenhados em mostrar peças de qualidade”, nota. Para Rui Sérgio Dionísio a dinâmica do Cegada baseia-se numa receita simples: “É fazermos arte útil, teatro que agrade às pessoas, porque hoje em dia a oferta é diversificada”. Rui Sérgio Dionísio diz que é fundamental investir na cultura e na dinamização de peças teatrais. “Estamos a perder dinheiro porque estamos a investir muito. Mas investir em cultura não é perigoso, o que é perigoso é ficar sem fazer nada”. Ir ao teatro ainda é barato na perspectiva do director artístico. Montar uma peça com qualidade não custa menos de cinco mil euros e levá-la ao palco só é possível com apoios de entidades públicas como a câmara municipal. Até porque os bilhetes em média não vão além dos cinco euros. Não fossem os apoios e “ir ao teatro custaria tanto como ir ver uma corrida de Fórmula Um”, lamenta, acrescentando que assistir a uma peça de teatro não é um luxo mas uma questão de prioridades. “Conheço pessoas que também estão com dificuldades económicas e que optam por não jantar fora uma noite no mês para terem dinheiro para irem assistir a uma peça. O teatro é um elemento pedagógico que é complementar à formação de cada individuo”, refere. O concelho de Vila Franca tem condições para a arte teatral mas sofre da proximidade à capital. “As pessoas habituaram-se desde crianças a irem a Lisboa consumir cultura”. Por isso defende que é preciso apostar em espectáculos de qualidade regularmente para cativar as gentes de Vila Franca a consumirem cultura na sua terra. Rui Dionísio diz que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira tem feito um bom trabalho no apoio concedido às associações e ao grupo. Já no que toca à Junta de Freguesia o responsável diz que é “difícil” a gestão de Afonso Costa “dar mais do que aquilo que hoje nos dá”, como a cedência das instalações onde o grupo se encontra. O crescimento do grupo está a alimentar o sonho de uma sede própria, mais espaçosa e com melhores condições. Actualmente o Cegada usa um espaço cedido pela junta de freguesia com a limitação do auditório ter apenas 70 lugares. “Muitas vezes tivemos de fazer mais sessões do que as previstas porque tínhamos a sala cheia e continuávamos a ter pessoas a querer reservar bilhetes”. O director artístico lamenta que a cultura seja o parente pobre do Orçamento de Estado, representando menos de um por cento do Produto Interno Bruto. Auditório municipal na nova biblioteca poderia servir todos os gruposRui Dionísio defende a construção de um grande auditório municipal na nova biblioteca de Vila Franca de Xira para servir os grupos de teatro do concelho. O director artístico do Cegada diz que a literatura e o teatro “estão sempre juntos”. “Seria uma excelente ideia juntar as duas coisas”, vinca. Rui Dionísio salienta, contudo, que mais do que ter um espaço é importante ter os meios humanos que o rentabilizem. “Mais importante do que ter a sala é ter pessoas que façam acontecer teatro nessa sala”, explica.Não é por João de Carvalho ser actor que há mais apoiosPara Rui Dionísio o facto de um político ser actor de profissão não é condição fundamental para que existam mais apoios ao teatro no concelho. O director artístico do Cegada refere-se ao vereador e candidato do PSD à presidência da Câmara de Vila Franca, João de Carvalho. “Há pessoas que nada têm a ver com a cultura que a sabem apoiar. Com uma pessoa ligada às artes parte-se do princípio que tem uma noção das duas plataformas, a da gestão autárquica e a do teatro, mas para que uma coisa funcione não é condição essencial dominar ambas”, defende.Um actor que gosta de andar de metroRui Dionísio nasceu em Vila Franca de Xira e tem 32 anos. É actor e músico e ainda não se considera um encenador porque não levou aos palcos um trabalho da sua autoria. Já trabalhou em companhias como o grupo de teatro de Almada o grupo de teatro dos Aloés, já tendo pisado vários palcos, como o Pavilhão Atlântico. Diz que não tem nenhum palco favorito porque mais importante que o palco é a equipa que o acompanha numa peça. Por motivos profissionais vive em Lisboa mas todos os dias vai a Alverca para coordenar as equipas do Cegada. Entrou no Cegada nos primeiros anos do grupo e começou por ser técnico de som. Estudou em Alverca, passou pela Escola Superior de Gestão de Santarém, Conservatório Regional Silva Marques em Alhandra e ainda tirou um curso numa escola de actores. Diz que gosta de andar de metro e que se diverte ao fazê-lo. Aos jovens que queiram ser actores avisa que é preciso muito trabalho e empenho e confessa que os grupos concelhios são a melhor forma de começar. Lamenta que o concelho de Vila Franca esteja estagnado mas ressalva que o problema é semelhante em toda a Área Metropolitana de Lisboa.
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