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Do fato de treino ao fato e gravata vai um pequeno passo

O homem forte da Viver Santarém diz que não foi difícil trocar a ginástica e os trampolins pela administração da empresa municipal

Luís Arrais, professor de Educação Física e treinador de ginástica e trampolins, é o administrador executivo da super empresa municipal Viver Santarém. Por ele passam muitas das decisões em sectores estratégicos como o turismo, o desporto, a cultura e a reabilitação urbana. Mas não se considera um homem poderoso e diz não ter ambição de chegar à vereação camarária, pelo menos para já. Considera que a cidade tem de se saber vender melhor em termos turísticos e confessa-se amigo de Moita Flores, admitindo que enfrentou um sentimento de perda com a sua partida.

Luís Arrais nasceu em Torres Novas no dia 12 de Março de 1959 mas foi residir com a família para Santarém quando tinha seis anos. Desde aí tem feito a sua vida na capital de distrito e diz que Santarém é efectivamente a sua terra, embora goste da cidade natal. “Só aceitava sair de Santarém para o país das maravilhas”, dizPai de uma rapariga e de dois rapazes todos estudantes e bons alunos, Luís Arrais é benfiquista ferrenho. Licenciado em Educação Física, é professor dessa disciplina e treinador encartado de ginástica e trampolins, cargos que suspendeu quando entrou ao serviço da empresa municipal Scalabisport. Foi fundador do Gimno Clube de Santarém e ocupa a vice-presidência da Federação Portuguesa de Ginástica. Militante do PSD, foi presidente da Junta de Freguesia de São Nicolau, em Santarém, entre 2002 e 2010.Há quem lhe chame o décimo vereador da Câmara de Santarém, devido aos poderes que tem como administrador executivo de uma empresa municipal que gere áreas tão significativas como o desporto, a cultura, o turismo e a reabilitação urbana. Como lida com o peso dessa responsabilidade?Encaro este desafio com o profissionalismo que costumo colocar em tudo o que faço. É mais um desafio, que me está a dar um gozo muito grande. Acho que devemos fazer coisas interessantes em prol da cidade e dos nossos cidadãos. Porque Santarém merece ter um lugar de destaque em termos nacionais. É uma cidade fantástica, com seis mil anos de história. Teve um peso imenso em Portugal. Foi durante muito tempo base da nossa monarquia. Tivemos um azar na História que foi a morte de um filho de D. João II e isso tornou a cidade quase proscrita. Mas continua a ter importância e peso.Há quem diga que não. Que Santarém tem vindo a perder importância no contexto nacional e regional. Tanto que Moita Flores, quando se apresentou ao eleitorado, disse que uma das suas intenções era afirmar a capitalidade de Santarém na região.Sim, mas isso é devido à própria evolução dos tempos. As coisas vão-se modificando graças a uma multiplicidade de factores. As cidades são assim mesmo. Há períodos de grande mudança a que se seguem plataformas de estagnação. Acho que estamos num desses períodos de mudança e não sabemos onde é que isto vai dar. Mas acredito que há-de levar a alguma coisa boa. Acha que a capitalidade de Santarém foi reforçada nestes últimos oito anos?Penso que estamos no bom caminho. Conseguimos afirmar-nos nalgumas áreas e dar relevo a alguns acontecimentos e iniciativas que tivemos cá. Mas temos de nos afirmar mais pelo nosso peso histórico, que é fantástico, aproveitando também a localização central que temos no país.A importância dada ao peso histórico e monumental da cidade não parece corresponder a essas ambições. Há monumentos fechados, outros a necessitar de obras, os horários não parecem adequados.Em termos turísticos temos vendido pouco, no bom sentido, a nossa cidade. E de facto há muitos problemas que têm contribuído para que essa imagem não passe. Temos que arranjar estratégias para fazer conseguir passar essa imagem de Santarém. Como se faz isso sem dinheiro?Inventando, que é uma das coisas em que nós portugueses somos bons. Temos em preparação um projecto que passa pela recriação das cortes que existiram em Santarém. Serão espectáculos no espaço público, que terão toda a envolvência de época como mercado, jogos, música. Queremos que sejam um marco da cidade que envolva o resto do concelho. Mas isso só não chega para tornar Santarém um destino turístico de excelência.É verdade. Há muita coisa a mudar, como os horários dos monumentos, a capacidade de manter a nossa cidade limpa, o que não passa só pelos serviços camarários, passa também pela cidadania. Há uma série de factores que têm de se conjugar. Um amigo meu que trabalha em marketing diz que a grande dificuldade em Santarém é saber por onde pegar, dada a riqueza da cidade em termos de história e de monumentalidade. As suas decisões são transversais a várias áreas da sociedade e afectam directa ou indirectamente milhares de pessoas. É um facto, mas não faço a leitura de que essa seja uma manifestação de poder. Penso é nas melhorias que uma determinada decisão pode trazer. E tenho consciência que lido com dinheiros públicos. Por vezes até sou acusado de ser demasiado forreta, mas tem de ser. Também tenho tido a sorte de contar com colaboradores fantásticos nos cargos por onde passei. Às vezes a ideia que se tem do funcionário público é altamente depreciativa e isso não é verdade. Há muitas pessoas que dão o máximo. É um homem do desporto, da actividade física, num cargo de administração e gestão. Foi fácil trocar o fato de treino pelo fato e gravata?Não foi difícil. Era professor e treinador de alta competição, onde, tal como na área da gestão, a liderança é importantíssima. A gestão passa muito pela liderança de equipas. E tenho orgulho em dizer que a empresa, nestes últimos dois anos, tem apresentado resultados líquidos positivos, o que é importante.Complexo aquático é uma importante fonte de rendimento e de divulgação da cidadeSe tivesse que decidir na altura, tinha optado por construir este complexo aquático municipal onde estamos a conversar e que custou à época mais de 6 milhões de euros?Temos de nos colocar no contexto. Se tivesse de decidir nessa altura, sinceramente não sei o que faria. Mas hoje sei que o complexo aquático é uma grande mais-valia e uma fantástica fonte de rendimento e de divulgação da cidade. Nos últimos três anos viemos sempre em crescendo em termos de afluência e, naturalmente, de receitas. Este ano vamos tentar continuar a crescer. Ainda bem que se fez essa aposta.O relatório e contas da Viver Santarém referente a 2012 diz que o Teatro Sá da Bandeira tem perdido espectáculos e espectadores por não haver dinheiro para programação. Há perspectiva que essa situação possa mudar.O Teatro Sá da Bandeira é um bocado como o país. Não temos dinheiro para investir mas também não podemos deixar as coisas parar. Para rentabilizar um espaço que foi feito com o nosso dinheiro, temos de o abrir mais às nossas colectividades e associações. Não temos dinheiro para fazer actividades, pelo que temos de incentivar a sociedade civil a vir ter connosco. Ainda no campo da vossa actividade. Santarém vai finalmente ter em breve um campo para a prática do râguebi, no complexo da antiga Escola Prática de Cavalaria.Mais uma vez com uma ajuda grande da sociedade civil, no caso o Rugby Clube de Santarém. Na próxima época estarão lá a jogar.E quando é que a equipa de futebol sénior dos Empregados do Comércio, que vai disputar a primeira divisão distrital, terá campo para jogar em Santarém?Já falei com eles sobre isso. As coisas são simples. O clube, enquanto entidade privada, pode fazer aquilo que quiser. Imagine que eu queria fazer uma equipa de hóquei no gelo. Não podia, porque não há campo nem há dinheiro. E a câmara também não os tem. Se quero fazer uma equipa de futebol também tenho de pensar onde vou jogar e treinar. Mas há campos de futebol em Santarém.Sim, mas a Académica ocupa o campo da Escola Agrária praticamente o tempo todo e está a fazer um excelente trabalho. Temos ainda o campo Chã das Padeiras, onde a dinâmica da União está em crescendo e ocupa também praticamente o tempo todo. A pergunta é: onde vamos pôr os Empregados do Comércio? E qual é a solução?Temos uma proposta concreta para apresentar aos Empregados do Comércio para a próxima época. Será para jogarem no concelho de Santarém. Mas a questão é esta: eu tenho a liberdade de criar aquilo que quiser, não me posso é impor aqueles que já cá estão e estão a fazer um bom trabalho. “Um lugar de vereador não é um desafio”Já foi presidente de junta e por inerência membro da assembleia municipal. Actualmente é administrador numa empresa municipal. A próxima etapa é chegar ao executivo camarário?Não vejo os objectivos dessa maneira. Não tem ambições políticas para além dos cargos que já ocupou? Não gostava de ser vereador da Câmara de Santarém?Neste momento não. Já nas últimas eleições autárquicas o presidente Moita Flores me convidou para um lugar na vereação e eu preferi um lugar na empresa municipal Scalabisport. Não são os cargos que me movem, mas sim os desafios. Se me apresentarem um desafio interessante em determinada área, onde entenda que consigo fazer o meu melhor, sou homem para pensar nisso. Acho que um lugar de vereador não é um desafio. Para mim não conta o lugar mas aquilo que ele contém. Seja ele de vereador, de presidente de junta ou outro qualquer. Neste momento a minha meta não passa por aí.Moita Flores abriu-lhe as portas da Câmara de Santarém quando o contratou para coordenar os serviços de Higiene e Limpeza do município e posteriormente o convidou para a empresa municipal Scalabisport. O que sentiu quando ele decidiu renunciar ao mandato?Devo dizer que tenho uma ligação de amizade muito forte com ele. Obviamente, ele já nos tinha anunciado que este era o último mandato, mas mesmo assim foi duro. Não há mágoa, porque nós sabíamos, mas há um sentimento de perda. Moita Flores é um líder muito carismático. Quer se goste quer não, transformou Santarém. O que me parece é que as pessoas sentem-se um bocadinho abandonadas. O que só joga a favor dele, porque a ligação que criou com a população foi muito forte. E quando se vê partir um ente querido custa sempre. Mas rei morto, rei posto, como se costuma dizer. Não terá havido precipitação da parte de Moita Flores no anúncio de determinados projectos que ficaram pelo caminho, tendo em conta a situação económica e financeira dos últimos anos?Na altura pensava-se ser o melhor caminho e pelo menos houve a audácia de tentar trazer para cá alguns projectos. Outros envolviam muita gente, muitas instituições... Mas Moita Flores fez um trabalho extraordinário em Santarém e eu como cidadão tenho orgulho nisso. Ele tem um defeito muito grande: é ser do Sporting (risos). A história há-de fazer-lhe justiça.Há também o problema da dívida, que é bem real…A minha posição é igual à do PSD nessa matéria. O montante da dívida não é aquele que a oposição quer fazer passar, mas sim o que o presidente Ricardo tem referido nas reuniões de câmara. Além disso, tal como a dívida do país não foi feita só por um Governo, também a dívida da câmara não foi feita só pelo PSD. Há muito trabalho feito e Santarém mudou para muito melhor.A candidatura de Moita Flores à Câmara de Oeiras indicia que Santarém foi uma espécie de trampolim político para outros voos. É um juízo precipitado?Acho que sim. O dr. Moita Flores enquanto aqui esteve deu tudo. Se ele quis fazer outra coisa da vida tenho muita pena, porque sou de cá e acho que ele deveria ter feito um terceiro mandato em Santarém porque faz a diferença. Mas a vida é dele. Acredita que o PSD tem condições para manter a Câmara de Santarém?Acredito. Não vai ser fácil, temos que trabalhar muito. Porque há factores que não dominamos, como a situação do país e as medidas impopulares que estão a ser tomadas pelo Governo.As saudades da Feira da Agricultura “cá em cima”A Feira Nacional de Agricultura/Feira do Ribatejo começa sábado, 8 de Junho, e é daqueles momentos marcantes do calendário festivo de Santarém que Luís Arrais não costuma perder. Mesmo depois da mudança do Campo Infante da Câmara, no centro da cidade, para o complexo do Centro Nacional de Exposições.“Tenho muitas saudades de ver a feira cá em cima. Gosto muito das tradições, dos valores que Santarém tem e a feira cá em cima tinha outro enquadramento. Mas também sei que ali estava a ficar apertadíssima. Foi lá para baixo e tornou-se mais nacional. Acho que estão a tentar recuperar um bocado essa tradição. A dimensão da feira tem que ser nacional e internacional, mas não quer dizer que não tenhamos lá também a nossa tradição. Porque é isso que faz a diferença”. Visitante assíduo da feira e espectador habitual das picarias, Luís Arrais recorda que, quando a feira se realizava no Campo Infante da Câmara, gostava de visitar o recinto na noite anterior à inauguração, quando se faziam os últimos preparativos e onde se encontrava muita gente conhecida e se iam bebendo uns copos em jeito de prólogo para a semana de festa que se seguia.Parada e respostaTourada ou futebol?Futebol. De touradas percebo muito pouco, mas adoro as pegas. É algo que faz parte da nossa cultura ribatejana. Mexe comigo. Deliro com as pegas. O futebol é emoção.Cerveja ou vinho?Nem uma coisa nem outra. É mais água. Mas se tivesse de beber optava pelo vinho, que é um produto característico da nossa região. Fato de treino ou fato e gravata?Depende das ocasiões.Cão ou gato?Cão. O meu filho tem um agora e eu também já tive.Cinema ou teatro?Adoro cinema.Fataça ou porco no espeto?Fataça. Gosto mais de peixe do que de carne.

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