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É o sossego que cativa as pessoas na pequena comunidade de São Brás

É o sossego que cativa as pessoas na pequena comunidade de São Brás

A felicidade de morar em São Brás onde só há casas, uma estrada sem saída, uma igreja e o cantar dos pássaros
Na freguesia de Barrosa há uma localidade onde parece que o tempo parou. No lugar de São Brás só há casas de duas dezenas de famílias e uma igreja recuperada recentemente e onde raramente vai alguém. Neste pedaço de terreno do concelho de Benavente onde se chega por uma estrada sem saída não há cafés, mercearias, parques infantis, colectividades. Os moradores não se preocupam com a falta de equipamentos porque têm o que consideram mais importante: o sossego. E é isso que as faz felizes. Armando Sousa Tabacão, 52 anos, está a amanhar uma horta e parece surpreendido por encontrar um forasteiro por aquelas bandas e vai contando que passou grande parte da vida na Barrosa e decidiu nos últimos tempos regressar à casa dos pais, onde nasceu. “Não poderia ter tomado melhor decisão. Já ouviu o chilrear dos pássaros?”. O facto de não haver cafés até é benéfico. “Fica muito caro ir ao café”, conta quem resolveu a questão com a compra de uma máquina para fazer café em casa. As mercearias também não são problema. Quando sai do trabalho passa por um supermercado e compra o que precisa para comer.Ouvem-se pessoas ao longe. Aqui todos se conhecem e até já pelas vozes. “Está a chegar a Fátima e a Maria Gabriela”, avisa Armando. De chinelos nos pés as duas habitantes, juntam-se à conversa que decorre à sombra atrás da pequena igreja restaurada. Regressam de mais um dia de trabalho numa pecuária que existe nas imediações. Fátima Casaco, 41 anos, não esconde o sonho de abrir uma taberna em São Brás. “Vais abrir para quem?”, pergunta o vizinho. Tem esperança que a Igreja restaurada comece a trazer mais gente. Há 19 anos a morar neste local. Fátima aprecia sobretudo a pacatez. O marido diz que só morto é que sai dali. Tem internet e telemóvel em casa. “Não vivemos no fim do mundo”, conta a rir-se. Às vezes a filha mais nova de 13 anos queixa-se de não ter crianças para brincar.O grupo leva a jornalista à casa do engenheiro Pedro Mascarenhas. Está de partida para Angola, onde trabalha, com a esposa e os filhos. Está a arrumar as malas para a viagem. Passa apenas algumas temporadas na sua casa de S. Brás. Natural do Porto Alto, não hesitou em comprar a moradia. “Por não se ver ninguém é que viemos para aqui. É o nosso refúgio. Espero sinceramente que se mantenha assim e não cresça porque gostamos de estar aqui no sossego”, explica. A pessoa mais idosa do pequeno lugar é a sogra de Fátima, com perto de 81 anos. Todos os moradores possuem carro. O alcatrão chega à porta de todos e não existem queixas quanto à recolha do lixo ou limpeza das ruas. Há anos que não se registam assaltos. “Estamos num beco sem saída. Só o tempo que um ladrão demoraria a chegar à estrada principal já lá estaria a polícia para os apanhar”, diz Armando Tabacão. Os cães ajudam a dar o sinal de alarme.É raro aparecer alguém na igreja que abre duas vezes por semanaA pequena igreja, a mais antiga do concelho de Benavente, reabriu no início de Maio depois de investidos 110 mil euros no seu restauro. As obras tinham o objectivo não só de preservar o património mas também atrair visitantes. Até agora o propósito não foi alcançado o que para a pequena população até é bom porque a pacatez de todos os dias continua como querem. José Fernandes é o zelador deste espaço que está aberto às quintas-feiras entre as 9h00 e o 12h00 e as 14h30 e as 19h00; e ao domingo entre as 15h00 às 19h00. “Hoje (domingo) ainda não apareceu ninguém. Na quinta também estive aqui todo o dia e nada”, confessa. Os moradores não são grandes frequentadores da igreja. José Fernandes acredita que é preciso criar um hábito junto da população. “Sem carro é difícil vir para aqui, mas vamos ver se com algumas missas conseguimos ir mobilizando mais a população”, garante. O zelador ocupa o tempo a limpar a igreja, a ler e a dar uns passeios em redor. O terramoto de 1909 que assolou o concelho de Benavente deixou de pé a Igreja de S. Brás, que remonta ao século XV, mas levou grande parte da população a mudar-se para a Barrosa. Hoje, a julgar pelo sentimento dos moradores, não existe terramoto que os faça abalar daquele pequeno monte ermo.
É o sossego que cativa as pessoas na pequena comunidade de São Brás

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