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Novo acordo ortográfico passa ao lado de muitos portugueses

O novo acordo ortográfico entrou em vigor em Janeiro de 2009 (até 2015 decorre um período de transição onde se pode utilizar a grafia antiga) mas há muita gente que continua a preferir escrever e ler tal como aprendeu nos bancos da escola. E encaram com algumas dúvidas a verdadeira utilidade desta medida que visa reforçar o papel da língua portuguesa como língua de comunicação internacional e garantir uma maior harmonização ortográfica entre os oito países que fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Pelo menos essa é a opinião dos nossos seis inquiridos, tomarenses de várias idades, profissões e estratos sociais.

António Reis, 75 anos, reformado“Novo acordo ortográfico serve os interesses de alguém”António Reis estava a ler O MIRANTE quando o abordámos. Sabe que o jornal não adoptou o novo acordo ortográfico porque não encontra “palavras que lhe parecem diferentes ou às quais faltam letras”. Na sua opinião, o novo acordo ortográfico nunca devia ter sido implementado e acrescenta que, se o foi, certamente é para servir interesses económicos de alguém. “Acredito que há alguém a ganhar com isto, embora não saiba quem”, refere. Todos os dias lê jornais e considera que a informação é uma arma para combater a ignorância e ficar menos exposto à manipulação, especialmente dos políticos. “Se as pessoas lessem mais e vissem menos reality-shows talvez este país não estivesse na situação em que se encontra”, opina. Susana Matos, 31 anos, desempregada“Não noto grandes diferenças na leitura”Na piscina municipal de Tomar, Susana Matos estava a ler um livro quando foi abordada e refere, com sinceridade, que não consegue perceber se o mesmo está ou não escrito com as regras do novo acordo ortográfico. “Para mim, está tudo igual. Em algumas palavras, como por exemplo, a letra c deixou de se escrever mas lê-se igual e por isso não noto diferenças”, refere a tomarense que está desempregada há seis anos. Na sua opinião, devia existir apenas um acordo em vigor, dado que esta dualidade pode gerar confusões. “É sempre confusa porque nuns lados está escrito de uma maneira e em outros de outra mas estão os dois correctos”, refere Susana. Com o 6.º ano de escolaridade, o que gostava de ler, fosse com a nova ou a velha ortografia, eram anúncios de emprego. Anabela Soares, 41 anos, costureira“Continuo a escrever como aprendi”De volta de uma revista de viagens, Anabela Soares não consegue distinguir se a mesma está escrita de acordo com as regras do novo acordo ortográfico ou não. “Não noto se as palavras estão escritas de forma diferente e penso que é o que sucede com a maioria das pessoas”, responde a costureira que se sente mais confortável com as linhas e agulhas do que com letras. Anabela não vê grande utilidade no novo acordo ortográfico, considerando que a adaptação é mais fácil para os mais jovens do que para as pessoas da sua geração, que aprenderam a escrever e a ler de outra maneira. Também não concorda com o facto de estarem em vigor duas formas de escrita. “Continuo a escrever como aprendi na escola”, assevera.Rui Ramos, 45 anos, comercial“Penso que nunca irei escrever com o novo acordo ortográfico”Rui Ramos consegue perceber que O MIRANTE ainda não adoptou a grafia do novo acordo ortográfico pois as palavras estão escritas na língua portuguesa que aprendeu nos bancos da escola. “Apercebo-me, através da leitura de outras revistas ou jornais, que algumas palavras começaram a aparecer escritas de forma diferente mas leio sem qualquer tipo de dificuldade”, garante, acrescentando que pensa que nunca irá escrever usando o novo acordo ortográfico. “A minha escola foi há muitos anos. Aprendi assim e, em caso de dúvida, vou optar sempre pela anterior ortografia. Se, por razões profissionais, tiver mesmo que ser irei adaptar-me”, refere. O comercial diz que esta atitude não é por uma questão de resistência mas antes de formação. O facto de se poderem usar, até 2015, duas grafias em simultâneo é, em sua opinião, benéfico para que a mudança possa ser assimilada. “Não se pode dizer às pessoas, de um momento para o outro, que agora têm que escrever de outra maneira. Tem que existir uma reaprendizagem”, atesta.“O acordo ortográfico não faz sentido nenhum”João Sousa, 47 anos, desempregadoJoão Sousa estava a ler um jornal desportivo quando fomos ao encontro da sua opinião. De um modo global, consegue perceber se o que está a ler já adoptou ou não o novo acordo ortográfico. “Pelo modo como as palavras se encontram escritas consigo aperceber-me mas não me causa estranheza a nova grafia”, refere o nosso interlocutor. Para João Sousa, o novo acordo ortográfico não faz sentido nenhum. “O que deve imperar é o princípio do respeito pela liberdade de expressão dentro dos vários países que falam a língua portuguesa”. Como exemplo, os brasileiros escrevem registrado enquanto os portugueses escrevem registado e ambas deviam ser respeitadas. “Eu entendo continuar a escrever como aprendi, mas se as diferenças implantadas vêm melhorar a comunicabilidade entre os povos então que venham porque só enriquecem a língua portuguesa”, atesta. “Não vejo nenhuma utilidade no novo acordo ortográfico”Pedro de Castro, 60 anos, alfarrabistaHabituado a viver no mundo dos livros desde muito jovem, o alfarrabista Pedro de Castro consegue facilmente aperceber-se que o livro que estava a ler no momento em que o abordámos, com edição em 1982, não obedece ao novo acordo ortográfico. “Identifico imediatamente e já li algumas obras que obedecem às novas regras do acordo ortográfico mas gosto mais do outro”, atesta. Pedro de Castro refere que a nova grafia adaptada lhe causa alguma estranheza até porque não vê nenhuma utilidade no novo acordo ortográfico. “Acho que nós, portugueses, falamos e escrevemos de uma maneira que acaba por identificar a personalidade de um povo e de uma cultura. Não há necessidade de perdermos esta identidade”, refere o nosso interlocutor, acrescentando que não há uma razão suficientemente forte para “alinhar” nesta intenção. “Sei da rejeição de alguns países de expressão portuguesa em relação ao novo acordo ortográfico, quando a ideia era que os mesmos tomassem parte, pelo que não foi suficientemente pensado. Soube ainda, por fontes fidedignas, que haveria alguns interesses económicos por detrás do novo acordo ortográfico o que, por si, é mau”, sublinha.

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