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A guerra colonial como inspiração para a arte

Sandro Ferreira é finalista do Prémio EDP Novos Artistas, tendo escolhido como temática central dos seus trabalhos artísticos a chamada guerra do Ultramar. Os materiais com que o diplomado do Politécnico de Tomar trabalha são variados e contemplam, por exemplo, o desenho, a fotografia, a instalação e vídeo.

Sandro Ferreira, 37 anos, natural de Tomar, formado em Artes Plásticas, Pintura e Intermédia pelo Instituto Politécnico de Tomar (IPT) já tinha concorrido ao Prémio EDP Novos Artistas em anos anteriores e o facto de nunca ter sido seleccionado não o desmotivou. A boa nova acabou por chegar em Junho deste ano quando soube, através de um telefonema da Fundação EDP, que era um dos nove finalistas da edição de 2013, a 10.º que se realiza, tendo o seu portfólio sido seleccionado entre 567 candidaturas. Estava a trabalhar no Departamento de Artes Gráficas do IPT quando recebeu a notícia com o aviso de que não poderia divulgar o feito uma vez que o anúncio oficial ainda não tinha sido feito. “Durante dois dias não pude falar. Foi como se me tivesse saído o euromilhões e não poder contar a ninguém”, recorda a O MIRANTE. Os materiais com que trabalha são variados e contemplam, por exemplo, o desenho, a fotografia, a instalação e vídeo. O portfólio seleccionado foi o mesmo com o qual já tinha tentado a sua sorte, embora este ano tenha acrescentado mais dois ou três trabalhos que incidem em redor da mesma temática: as memórias da Guerra Colonial (1961-1974). Um tema que escolheu porque, como explica, nunca o viveu de perto. “É uma temática pouco explorada a nível artístico e talvez a tenha escolhido porque a guerra colonial nunca me entrou dentro de casa”, conta Sandro Ferreira sublinhando o facto dos seus professores sempre o terem incentivado, tal como aos colegas, a concorrer a concursos, a integrar exposições e tudo o que pudesse ser uma rampa de lançamento. A escolha da temática deu-se quando visitou uma exposição de Walid Raad na Culturgest sobre a guerra civil no Líbano. “Achei aquilo bastante interessante e pensei na Guerra Colonial porque é algo muito próximo a pessoas que hoje têm mais de 60 anos. Tinha um primo da minha mãe que tinha sido comando em Moçambique e comecei por perguntar-lhe”, explica. Foi uma forma de ficar a conhecer melhor a história de Portugal, da Guerra do Ultramar e das pessoas que o rodeiam. Não parou mais de pesquisar, encontrou fotografias em feiras de velharias e uma amiga ofereceu-lhe uma mala com as cartas e outros pertences que o pai trouxe de Angola. Sandro Ferreira encontra-se actualmente a preparar a exposição que vai ter lugar em Dezembro, na Galeria da Fundação EDP no Porto e que vai ser avaliada por um júri internacional que vai escolher o vencedor. O valor do prémio é de 15 mil euros e, caso vença, deverá ser aplicado no prosseguimento ou aprofundamento dos seus estudos ou na concretização de um projecto artístico. “É um desafio pegar num documento histórico - como um diário - e transformá-lo numa peça de arte. Gosto muito de trabalhar com a memória escrita e visual da guerra (que é sempre distorcida) e trabalhar nas suas distorções”, conta. Os trabalhos que pretende apresentar na exposição “Novos Artistas Edp” vão ao encontro da G3, arma que era transversal a todos os soldados. “Há mais vida nestas vidas do que nós pensamos e essa memória, com o passar do tempo, vai-se desvanecendo. Quero explorar esta temática até ao dia em que já não consigo espremer mais.”, sintetiza.Quem é Sandro Ferreira? Sandro Miguel Ferreira nasceu em Tomar em 1975 e tem raízes na Linhaceira. As suas referências artísticas vão desde Monty Python a Samuel Beckett, de John Zorn a Slayer e de José Vilhena a Walid Raad. Actualmente está a desenvolver vários trabalhos no âmbito da memória escrita e visual da Guerra Colonial e participa, em simultâneo, num colectivo teatral de nome “Espaço Zero”. Dada a temática que explora, se pudesse expunha os seus trabalhos em museus militares, etnográficos ou espaços não convencionais. “Para mim, ter sido seleccionado já é uma vitória. Se ganhasse era ouro sobre azul porque me permitia fazer o que me dá prazer”, atesta.

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