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Aos 97 anos continua a trabalhar na terra e pronto para as curvas

Aos 97 anos continua a trabalhar na terra e pronto para as curvas

José Casimiro Sampaio completa 98 anos no próximo sábado mas a idade não lhe tolhe os movimentos nem lhe quebra a vontade de trabalhar a terra, actividade que o ocupou desde menino. Numa tarde de calor a rondar os 40 graus, junto às suas fazendas nos campos da Ribeira de Santarém, o agricultor de Almeirim contou-nos um pouco da sua preenchida vida.

A vida de trabalho de José Casimiro Sampaio sempre foi na agricultura e, aos 97 anos, continua a não abdicar de pegar no seu tractor e ir para o campo. Com destreza senta-se, pega no volante e conduz o Renault 50 cor-de-laranja que há mais de três décadas lhe faz companhia. As suas mãos espelham os anos de labuta e por entre as dobras da camisa preta, sinal de luto pela sua esposa, consegue vislumbrar-se a pele mais clara a contrastar com o queimado do sol.Foi a descansar à sombra, à beira da estrada de campo que liga a Ribeira de Santarém a Vale de Figueira, que O MIRANTE encontrou o almeirinense José Casimiro Sampaio. Com quase um século de vida, José contou-nos algumas das suas vivências e mostrou-se um exemplo de vitalidade e energia. Não tem filhos, mas é com orgulho de pai e emoção que não poupa elogios à afilhada, que criou como se fosse sua filha e que o tem sempre apoiado, apesar de viver em Almada.Com origem numa família modesta, lembra-se de por volta dos cinco anos acompanhar o avô para o campo. O pai, também agricultor, iniciou-o na actividade. Ainda estudou até à quarta classe, uma vitória para a época. Na altura a “quarta classe valia mais do que vale agora o 7º ou 8º”, refere lembrando que ainda sabe a tabuada de cor, coisa que os jovens de hoje descuram.“Fui criado na agricultura e tenho pena de estar velho, de não apanhar esta época de agora, que veio a seguir ao 25 de Abril”, afirma com um brilho no olhar movido pelas lembranças que a juventude passada no campo lhe traz.Desfez-se de grande parte das suas propriedades após o 25 de Abril. Até esse marco histórico teve muita gente a trabalhar para ele, no campo, na vindima e a pisar uvas no seu lagar. Depois acabou por vender grande parte dos hectares de terras que foram o seu sustento. Ficou apenas com três hectares para se entreter. Foi com o suor de muitas horas a trabalhar de sol a sol que conseguiu amealhar “uns patacos” que lhe permitiram viver, ajudar a família e os amigos até aos dias que correm.“Passei uma vida de sacrifício e trabalho, mas também tive sorte que me deu para passear e viver a vida”, confidencia lembrando que há algumas décadas teve a oportunidade de viajar um pouco por todo o mundo. “Aproveitei um bocadinho da vida, não fui escravo do meu trabalho”, contou.Saúde não lhe falta, “só as pernas é que não estão boas, já estão cansadas” afirma com um sorriso, justificando a utilização da bengala para o amparar. O segredo para se manter em forma aos 97 anos, segundo confessa deve-se ao facto de nunca ter sido adepto de bebidas alcoólicas nem ser dado a “almoços e caldeiradas prolongadas”.Quando não vai para o campo fica pelo café. Gosta de se manter activo e a leitura diária dos jornais é imprescindível para estar a par das notícias. “Comparar o dia de hoje com os dias de ontem é como comparar a noite e o dia. Antigamente toda a gente tinha que trabalhar para viver, agora toda a gente vive sem trabalhar”, refere fazendo a comparação entre a sua juventude e a mocidade de hoje em dia.A agricultura também já não é como era. Hoje são as máquinas que trabalham, antes era tudo manual. Apesar dos 97 anos e de estar consciente de que não é comum um homem da sua idade conduzir um tractor até ao campo, José continua também sem se fazer rogado perante uma enxada e ainda se aventura a semear batatas e couves para oferecer a quem o rodeia.Com um sentimento de saudade gaba a inteligência da mulher que perdeu há dois anos e com quem esteve casado durante 72 anos. Relembra que os homens só dão valor às mulheres quando as perdem, e que a vida sem uma mulher ao lado é uma “vida triste”.No sábado, 13 de Julho, José Casimiro completa 98 anos de uma vida que apelida como “romance”. Começou quase do zero mas foi conseguindo construir passo a passo o caminho que lhe foi permitindo ter uma vida desafogada e fazer o bem aos que dele estavam próximos. A festa já está marcada e entre familiares e pessoas chegadas não faltará o amigo António Vital, que o ajuda a amanhar a terra e que estava com ele na tarde em que o termómetro marcou mais de 40 graus. “Sou o peão de brega de José Casimiro Sampaio” disse a brincar.
Aos 97 anos continua a trabalhar na terra e pronto para as curvas

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