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Fernando Jacinto continua aos 80 anos a trabalhar pelo folclore de Benavente

Fernando Jacinto continua aos 80 anos a trabalhar pelo folclore de Benavente

Presidente do grupo Saia Rodada desde 1979 está a escrever a história do folclore local para editar em livro
Fernando Jacinto, 80 anos, dedica-se de corpo e alma ao Rancho Típico Saia Rodada de Benavente. Homem discreto e que é conhecido por andar sempre a assobiar, vai todos os dias para a sede como se tivesse que cumprir um horário de trabalho. Há quatro anos arranjou uma ensaiadora para o substituir porque, diz, já estava a ficar sem a paciência necessária. Mas continua a ser o cérebro do grupo de quatro dezenas de elementos. Agora tem andado ocupado a compilar a história do folclore em Benavente para ser editada em livro. Por volta das 10h00, Fernando Jacinto já está na sede do rancho situada no Largo do Calvário de onde sai só a meio da tarde. Num pequeno escritório tem várias pastas com todos os registos do rancho, desde uma simples saída até às últimas receitas angariadas no bar. Tinha 11 anos quando aprendeu a dançar. Depois de terminar a quarta classe, juntou-se ao pai que era campino. Não esquece as noites em que dormiu em cima de um cavalo coberto por um oleado que o protegia da chuva enquanto guardava o gado. Para comer só tinha couves, bacalhau, feijão e pouco mais. Foi no meio dos ranchos que trabalhavam nos campos que deu os primeiros passos na dança. Desde aí nunca mais parou. Participava nos tradicionais bailaricos que iam acontecendo pelas ruas de Benavente, até começar a ingressar em vários ranchos folclóricos que iam surgindo espontaneamente para abrilhantar alguma festa. Os trabalhadores rurais só se juntavam meia dúzia de vezes para um ensaio geral. Lembra-se das romarias à Senhora de Alcamé, padroeira dos campinos, em Vila Franca de Xira, onde se mostravam as danças ribatejanas e o típico Fandango do Ribatejo. De menino guardador de gado, Fernando Jacinto andou depois a distribuir jornais por Benavente e foi ainda serralheiro e tractorista. Em 1979 criou o Rancho Típico Saia Rodada com mais uns amigos e desde então que se mantém presidente. O nome “Saia Rodada” vem das saias das raparigas que se vestem de campinas e que têm muita roda. Desde o início que o grupo dá destaque à figura do campino e da campina, com a maioria dos elementos a vestirem-se com este traje. Presente está também a figura do Maioral do Gado, Cingeleiro, Feitor Agrícola, Camponesa ou Aguadeira. O grupo apresenta cantares e danças da vila de Benavente ou tipicamente ribatejanos compostos pelos seus sapateados e pelo tradicional fandango. O trabalho no campo, o rio Sorraia, a Lezíria são alguns dos temas representados. O Saia Rodada deve ser dos raros grupos que nunca actuou no estrangeiro, não por falta de convites mas por opção de Fernando Jacinto que considera que as deslocações e sacrifícios não compensam. O rancho sobrevive com cerca de quatro mil euros de subsídios anuais da junta de freguesia e da câmara e com as receitas do bar da sede. Momentos antes de partirem para uma actuação em Mafra, Vítor Silva, de 47 anos, outro dos elementos mais antigos aproveita para dizer que o presidente é o verdadeiro “coração do grupo” e o que move todos os elementos. “Faremos tudo para o grupo um dia continuar, mas todos sabemos que jamais voltaremos a ter um presidente igual”, assume. Fernando Jacinto confessa que o rancho é a sua segunda vida.Benavente deveria estar mais desenvolvidaFernando Jacinto gostava de ver a vila de Benavente mais desenvolvida. Diz que sempre se apostou mais no desporto, em detrimento da cultura. Dá como exemplo a banda da Sociedade Filarmónica Benaventense que apesar de estar agora de regresso, esteve durante muitos anos inactiva. “Benavente era um viveiro de músicos, mas sem o apoio acabou por entrar em decadência”, salienta. Lembra também as danças de salão que estavam muito enraizadas na terra e critica a má distribuição dos subsídios atribuídos pela Câmara de Benavente às várias colectividades.Folclore com dificuldade em atrair jovensFernando Jacinto reconhece que é cada vez mais difícil cativar crianças para o rancho porque existem muitas actividades à disposição. “Durante uma hora ou duas semanais precisam de se concentrar para aprenderem e muitos preferem ir para as discotecas ou estarem no computador”, reconhece. No Saia Rodada as regras são para cumprir e os rapazes não podem ter o cabelo comprido, as raparigas não devem actuar de unhas pintadas e não podem ter tatuagens ou piercings à mostra. Para se dançar num rancho é preciso ter jeito. “Nunca dizemos a alguém que não é capaz, estamos abertos a toda a gente, mas quem não tem jeito mais tarde ou mais cedo acaba por sair”. Beatriz Faria, de 12 anos, e Anabela Semeano, de 9 anos, são algumas das excepções. As duas amigas marcam presença em todos os ensaios e nas actuações. Na escola, os amigos às vezes gozam por andarem no rancho, mas garantem que não se importam.
Fernando Jacinto continua aos 80 anos a trabalhar pelo folclore de Benavente

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