“É preciso olhar para a vida com optimismo e pensar proactivamente”
João Potier, 48 anos, director geral da Mundiarroz, Coruche
O director geral das arrozeiras Mundiarroz viveu os primeiros anos da sua vida em Coruche. João Potier mantém ainda algumas amizades dessa altura e de todas as fases da sua vida. Mudou várias vezes de residência e de escola, sem traumas. Tirou o curso de Direito e durante dez anos exerceu advocacia. Gosta de motas, de golfe e de cozinhar. Na juventude pertenceu a grupos de forcados.
Tive um AVC aos 28 anos. Foi um ponto chave na minha vida. Estava a jantar quando me começou a doer a cabeça. Entrei no hospital e só saí de lá cerca de 100 dias depois. Estive nos cuidados intensivos, tive uma operação que correu mal e da qual só acordei 15 dias depois. Fiquei paralisado do lado esquerdo do corpo, mas com a fisioterapia consegui ultrapassar. Fiquei com algumas sequelas, mas são mínimas. A partir dessa data comecei a aproveitar melhor todos os momentos da vida. Moldou-me o carácter. Só não podíamos ir para a ribeira ou sair à hora do calor. De resto, tínhamos uma liberdade de movimentos em Coruche que hoje em dia é impensável. Estava quase sempre na rua onde criei amizades que ainda se mantêm. Lembro-me de andar a chatear os vizinhos quando apanhávamos uvas e figos. Nunca dei grandes problemas aos meus pais. Sou o mais velho de quatro irmãos. Mudei algumas vezes de residência e de escola. Depois de terminar a quarta classe fui para Luanda onde o meu pai estava a cumprir serviço militar. Tínhamos lá família. Guardo imagens das paisagens que vi e nunca mais me esqueci. Espero um dia poder regressar. Estudei também em Vila Viçosa e depois em Lisboa. Mudar de escola nunca representou um problema. Escolhi o curso de Direito porque tinha melhores notas nas letras. Tinha uma certa inclinação para engenharia, mas acabei por desistir. Tinha também familiares ligados à advocacia. Um advogado era visto como uma pessoa respeitada. A vida faz-se de atalhos. No dia em que acabei o curso fiquei com a sensação que poderia ter feito melhor. Saturei-me das deslocações e troquei a advocacia. Depois de dez anos a trabalhar como advogado, convidaram-me em 2001 a regressar à Mundiarroz, onde já tinha trabalhado nas férias e num pequeno estágio. Resolvi aceitar porque estava cansado das deslocações. Tinha escritório em Lisboa e Coruche, mas vivia em Montemor. Tinha sempre uma mala no carro porque não sabia onde iria dormir. Não abandonei totalmente a advocacia porque tinha processos pendentes que ainda se arrastam até aos dias de hoje.O golfe obriga-nos a mostrar o que temos de melhor e pior. Há oito anos que pratico golfe. Nem sempre o caminho recto é o melhor para vencer. Às vezes mais vale seguir um caminho sinuoso. É um jogo de auto-regulação. Baseia-se muito na confiança e princípios. Mostra-nos algo sobre o nosso temperamento. Despistei-me de moto e entrei num campo de trigo. Não se registaram vítimas. Foi o meu único percalço. Sou um apaixonado por motos desde os 16 anos. Quando ia comprar uma mais potente tive um problema de saúde que me impediu durante muitos anos de andar de moto. Há três anos resolvi que ia conseguir e voltei a andar de moto. Tenho amizades de todas as fases da minha vida. Gosto de criar riqueza por onde passo. De vez em quando convido os amigos para uns jantares em casa. Gosto de cozinhar. Um dos meus pratos preferidos é a paella (prato típico espanhol). Desde novo que saí de casa para estudar e tive de aprender a fazer de tudo. Se temos um problema e tem solução então não temos problema. Se não tem solução, também não existe problema. Temos de ser optimistas e pensar proactivamente. Sempre que vou assistir a um jogo da selecção acredito que vamos ganhar. Mesmo se estivermos a perder por dez a zero não saio. Irrita-me muito a concorrência desleal, quando alguém tenta tirar vantagens com determinados esquemas. Não existe muito quem me desiluda nos relacionamentos pessoais porque são escolhidos. Gosto de me deitar com os problemas resolvidos. Os forcados ensinaram-me a encarar o medo. Pertenci aos Forcados de Coruche e depois dos de Lisboa. Levei algumas pancadinhas, mas nada de especial. Uma das maiores lições que retirei foi o de aprender o que é o medo e como o ultrapassar. Temos de o encarar senão é terrível. Eduarda Sousa
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