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Adelino Neto

Comerciante, 55 anos, Tomar

“Já pertenci a um partido político e a uma religião e estou vacinado de uma coisa e de outra. A política não me seduz e só é boa para quem gosta de manter as aparências. Eu gosto de dar a minha palavra e cumpri-la. Não consigo prometer uma coisa e não a fazer”“Já fui assaltado cinco vezes. Vêm na mira do tabaco, lotarias e raspadinhas. Ainda há dias levaram-me dois monopólios que tinha em exposição junto à porta”

Qual é o segredo para se aguentar no mercado, neste ramo, há tantos anos em Tomar?Muito trabalho e dedicação. Abri a papelaria há 27 anos. Entro aqui às sete da manhã e nunca saio antes das sete e meia da noite, de segunda a sábado. Aos domingos é das oito à uma. Há dias em que passo aqui a hora de almoço. Tentamos ter de tudo um pouco à disposição e penso que um atendimento personalizado faz a diferença. Desde sempre me habituei a tratar pelo nome a maior parte dos meus clientes.Já aderiu à febre da raspadinha?Não. Só quando me engano e rasgo alguma sem querer é que fico com ela. Nem me entusiasmo quando sai um prémio maior a um cliente. Já demos alguns prémios bons, de 500 ou mil euros. Às vezes até com cem euros ficam contentes. No outro dia, calhou 50 euros na raspadinha a um cliente que agarrou na nota e disse que ia às compras. Notava-se que precisava mesmo do dinheiro para comer. Considera que os movimentos independentes são iguais aos partidos políticos?Já pertenci a um partido político e a uma religião e estou vacinado de uma coisa e de outra. Para mim, nunca são verdadeiramente independentes. É sempre bom ter por detrás uma estrutura. Mas digo já que a política não me seduz e só é boa para quem gosta de manter as aparências. Eu gosto de dar a minha palavra e cumpri-la. Não consigo prometer uma coisa e não a fazer. A demora das obras no Convento de Cristo pode prejudicar o turismo?Penso que sim porque como o trânsito está complicado as pessoas não descem à cidade. Há muito tempo que não vou ao convento mas já me disseram que estão a construir um parque para autocarros e que aquilo está uma lástima. Gostava de ver guardas-nocturnos a vigiar a cidade?Penso que não é isso que resolve o problema da segurança. Lembro-me que há uns anos já houve esse sistema e que eram os comerciantes que pagavam uma taxa mensal para assegurar o serviço. Preferia ver policiamento a pé. Já fui assaltado cinco vezes. Vêm na mira do tabaco, lotarias e raspadinhas. Ainda há dias levaram-me dois monopólios que tinha em exposição junto à porta. Foi ao concerto dos Quinta do Bill na Praça de Toiros?Não, por questões monetárias. Até me quiseram oferecer um bilhete mas, como estou numa situação complicada em termos financeiros, preferi não ir porque podia ser mal interpretado. Estou a trabalhar muito para honrar a minha palavra e não me sentia bem estar num concerto, a divertir-me, com dívidas a terceiros. O último concerto que vi foi no Cine-Teatro Paraíso, da banda “Ashes”, onde toca o meu filho. É uma boa banda que merecia ser mais divulgada e convidada para actuar em festas na região.Concorda que se apaguem candeeiros nas ruas para se poupar dinheiro e energia?Não concordo. Podem poupar noutros lados. É até uma situação perigosa porque há muitas pessoas que trabalham em restaurantes e bares e que saem do trabalho já é noite escura ou que chegam de comboio já de noite. A Várzea Grande, neste momento, está pouco iluminada e há muita gente que atravessa aquela zona com receio do que lhe pode vir a acontecer.Se pudesse emigrar qual era o país de destino?Já me incentivaram a ir trabalhar em Moçambique, no sector da construção civil ou mesmo neste ramo. Dizem-me que com o esforço que estou a fazer em Portugal lá já estava rico, mas não vou enquanto não resolver a minha situação. Sou a cara da empresa e não posso sair sem resolver as responsabilidades. No futuro, logo se vê.Já alguma vez foi burlado ou caiu no conto do vigário?Muitas vezes. Nunca apanhei notas falsas mas já me tentaram vender cartões de telemóvel que nunca usei e, mais tarde, apareceu-me uma factura de 423 euros para pagar de seis meses de assinatura. Tive que resolver a questão em tribunal. Noutra ocasião, comprei um clip metálico por 12 contos - achei engraçado porque tinha o nome da papelaria - que pensava que tinha três metros mas quando mo entregaram à cobrança era bastante mais pequeno. Devolvi-o e estou à espera de receber o dinheiro até hoje.

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