O Sistema está cansadoRespira em turbinas de ar viciadoRodopia entre fracções beligerantes.Já nada é como antesO vulcão já entrou em erupçãoPara trás, o longo percurso da ignorânciaTransformada em poder sumo - ganância.As fraldas da inocência agitam-se como bandeiras,Risos, gostos, transas sensuais entre dentes,Sorrisos, ciladas, ciganos e bebedeirasQue nos deixam mais ou menos dormentes.Há sempre a tendência para o absurdo,Ou então para o humorPorque sem humor, não é possível dizer verdades...É quase impossível corrigir o Sistema,A sua estrutura de ficção é uma forte algemaUma herança tribal, antiga, familiar.As mentalidades sacodem-se doentias,Impotentes para resistir ao tempo futuro,O Pastor abandonou o rebanho,As ovelhas e os carneirosEstão à mercê dos cães matreirosQue seduzidos pela parte maior,Mordem-se num ritual erótico e perverso.(o tempo sempre soube reconciliarA vontade solidária dos homens)Roger Waters (Pink Floyd), inspirado num texto de Brian Paten, produziu um disco em 1977 intitulado “Animais”, dividindo a Humanidade em três níveis de animalidade:Os cães, para os quais a vida se resume a sobreviver e a conseguir o máximo de segurança a qualquer preço, mesmo que eles próprios se tenham de transformar em robots; são calculistas, agressivos e metem-se a fundo na corrida ao dinheiro e na procura de poder; a sua energia é investida no pragmático, o que é bastante fascinante; as sanções que a si próprios atribuem são terríveis: insatisfação permanente e cancro.Os porcos: abanam a cauda mas são perigosos, reprimem sistematicamente os outros e a si próprios; merecem apenas a piedade; são inteiramente negativos; uma charada é o que eles são.Os Carneiros: São enganados, iludidos e mistificados, mas aceitam a situação com resignação; são capazes de humor e espiritualidade, são no entanto eternamente passivos. Fonte Boa, 25 de Julho de 2013.(texto dedicado à memória de Vítor Fininho fundador da banda rock scalabitana “Sui Generis” recentemente falecido). J. António P. Mendes