Na Ribeira de Santarém toda a gente conhece o “Zé Toino” das bicicletas ou das motas. José António da Silva, 65 anos, desde os 15 que é mecânico e um apaixonado pelos veículos de duas rodas. O pai fazia carros de bois e foi com o irmão que acabou por aprender a profissão. Em tempos dedicou-se de corpo e alma ao ofício, na altura em que o negócio rendia. Hoje, apenas faz uns biscates para os amigos, para passar o tempo e manter-se activo. No seu recanto guarda as memórias dos tempos áureos da profissão. Na parede destaca-se o diploma, que recebeu por concluir o curso de mecânica na Casal. No tecto estão penduradas peças, oxidadas pelo tempo, muitas delas difíceis de encontrar hoje em dia, caso de um selim original de uma Pasteleira. As caixas de madeira, organizadas, preenchem as paredes do espaço onde ocupa os dias e nas gavetas guarda fotografias de família. As memórias fotográficas do filho, que morreu há uma década, com 34 anos, enchem-no de orgulho. Tem mais duas filhas e são sobretudo os netos que lhe alegram os dias, principalmente quando querem ir ajudá-lo a arranjar bicicletas.Para além da paixão pelas bicicletas também é aficionado. Quando era jovem não falhava uma picaria. Chegou a partir um pé e na perna esquerda ainda guarda algumas mazelas, nomeadamente um músculo deslocado.Casado desde 1970, confessa que ao acordar o seu primeiro impulso passa por colocar o braço para o lado e confirmar que a esposa está lá e que tem mais um dia para aproveitar a sua presença. O tumor nos intestinos da mulher foi mais um “balde de água fria”, mas agora a situação está mais estável.Uma vida de trabalho e de muita luta, espelhada nas memórias do recanto do “Zé Toino”, onde os amigos passam e apitam, seja de carro ou de bicicleta, para o saudarem logo pela manhã. Andreia Montez