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O que faz falta na Póvoa de Santa Iria?

Na altura em que a Póvoa de Santa Iria está em festa, O MIRANTE foi para a rua perguntar aos habitantes da cidade do que sentem falta no seu dia-a-dia. Os mais jovens dizem que gostavam de ter mais espaços de diversão nocturna, uma discoteca por exemplo para não terem que se deslocar a Lisboa. Quem tem mais idade gostava que houvesse mais apoio aos idosos, um espaço de convívio. Outros sentem falta de supermercados perto da zona onde vivem. Mas também há quem lamente a falta de emprego na freguesia.

América Gonçalves, 78 anos, reformadaNão há cinema Com 78 anos, América Gonçalves sente cada vez mais que faz falta um cinema na Póvoa de Santa Iria, revelando que era uma habitual cliente do Cinema Nazaré que encerrou. Vive na cidade desde um ano de idade. Lembra-se das dificuldades de deslocação de antigamente. Tinha que ir a pé para as localidades vizinhas, como Vialonga e Forte da Casa, mas hoje os transportes melhoraram muito. O que piorou foi a economia local e para América Gonçalves há uma grande falta de emprego na zona. Lembra que quando era jovem dava-se ao luxo de trabalhar onde quisesse e de mudar de emprego quando não estivesse satisfeita. Conta que passou pela Eurofil (fábrica já extinta) para uma pastelaria e vice-versa. Concorda que a localidade evoluiu mas só se nota essa diferença na Póvoa nova. “Na Póvoa velha só fizeram uns pequenos arranjos”, diz. Também lamenta que na freguesia só existam “lares para ricos”. Vai todos os anos às festas acompanhada pela família e elege a noite da sardinha assada como a melhor. Luís Pinheiro, 21 anos, operador de caixa num hipermercado Faz falta uma discotecaO que Luís Pinheiro, 21 anos, mais sente falta é de uma discoteca. Os bares e cafés são pontos de encontro dos jovens da Póvoa de Santa Iria, mas para dançar estes têm que ir para Lisboa. Não é que seja longe mas sair da terra envolve sempre alguns riscos como o de acidentes rodoviários. Luís considera ter sido uma sorte conseguir arranjar trabalho na localidade. Se fosse em Lisboa teria que enfrentar o trânsito diariamente ou então andar de transportes públicos perdendo algum tempo nas deslocações. O caixa de supermercado sabe que é uma ideia utópica mas não custa nada sonhar, por isso avança que o ideal era haver uma rede de metro que ligasse o concelho de Vila Franca a Lisboa. Quanto às festas considera que é uma oportunidade para se encontrar com amigos que não vê há muito tempo mas confessa que não é frequentador assíduo porque não gosta do tipo de música. Luís Manuel Granadeiro, 64 anos, reformadoUm espaço para os reformadosLuís Manuel Granadeiro vive na Póvoa há 42 anos e diz que se nota a evolução da cidade ao longo dos anos. As oliveiras e as searas deram lugar a urbanizações como a Quinta da Piedade e o Casal da Serra o que tornaram cada vez mais a localidade num dormitório. No entanto, pensa que houve uma construção excessiva de prédios. Luís mora no bairro da Chepsi e tem 64 anos. Queixa-se do facto de não haver centros de convívio para os idosos e confessa que se aborrece por não ter nada para fazer. No Inverno afirma que é pior pois quase ninguém sai de casa. Dá como exemplo o encerramento da sede da Chepsi e a falta de vida do centro comercial Serra Nova para exprimir a falta de actividade da cidade. “Construíram a frente ribeirinha mas esqueceram-se da parte de cima da Póvoa”, acrescenta. O reformado frisa que os idosos e as pessoas com dificuldades motoras que habitam na zona alta da cidade não conseguem descer até ao parque ribeirinho e voltar a subir porque é bastante cansativo. Os transportes não são uma solução porque são “todos caros”. Apesar de não gostar muito do cartaz das festas, Luís Granadeiro não vai perder as festas em honra de Nossa Senhora da Piedade e as habituais largadas de toiros. Cláudia Martins, 24 anos, funcionária de loja de roupaQuer um emprego como fotógrafa Além de trabalhar numa loja, Cláudia Martins tem a paixão da fotografia e diz que a maior dificuldade que enfrenta no dia-a-dia é o facto de não haver emprego nesta área. “Na Póvoa, os estúdios de fotografia estão preenchidos com as mesmas pessoas há anos e não há tanta procura por causa do digital”, aponta. Em contrapartida, afirma que a cidade está perto de tudo e que tem bons acessos para Lisboa, onde trabalha. Cláudia recorda-se do tempo em que as festas em honra de Nossa Senhora da Piedade era um dos eventos do ano, onde se fazia acompanhar pela sua irmã, dez anos mais velha. “Era a noite onde podia ficar fora de casa até mais tarde”, afirma a jovem de 24 anos. Este ano diz que vai passear por lá mas que já não sente o entusiasmo de antigamente. A Orgulha-se de ter crescido na freguesia e garante que sempre pôde andar livremente na rua porque havia segurança. Hoje teme que já não seja assim. Maria de Lurdes Letra, 55 anos, pescadora Falta um supermercado na Póvoa antiga Maria de Lurdes Letra gostava que houvesse superfícies comerciais na Póvoa antiga. Mora no bairro dos avieiros na Póvoa de Santa Iria e ajuda o marido nas lides da pesca. Para fazer compras para a casa tem que pedir ajuda aos vizinhos que possuam carro já que os supermercados estão longe. Os supermercados mais próximos encontram-se a alguns quilómetros na Póvoa nova, no Forte da Casa e em Santa Iria, o que torna impraticável uma deslocação a pé de algum idoso ou pessoas com dificuldades motoras. Maria afirma que a única solução é esperar pela boa vontade dos amigos que não a têm deixado mal agora que o marido está doente. Costuma ir às festas da freguesia e gosta de ver os barcos avieiros enfeitados, apesar de já não haver decorações festivas no bairro. “Havia bandeiras e balões à volta das árvores e dos prédios e mais actividades. Antes viviam-se as festas com mais alegria” aponta a pescadora.Rui Martins Barai, 24 anos, estudante universitárioFalta investimento na PóvoaOriundo da Guiné-Bissau, Rui Martins Barai instalou-se na Póvoa de Santa Iria com 13 anos. Diz que a comunidade africana está bem integrada na freguesia porque sempre existiu abertura da sociedade povoense para que isso acontecesse. Quanto ao que sente mais falta diz que são os espaços lúdicos e zonas de diversão nocturna. Para o jovem a localidade ainda continua a ser reconhecida como um dormitório de Lisboa porque faltam estruturas essenciais para que se desenvolva. Considera que a criação de um hospital, uma sucursal das finanças ou um centro de emprego são importantes para que a população se sinta bem na freguesia e não tenha problemas de deslocação. Rui é um visitante assíduo das festas da cidade. “É um espaço de divertimento e convívio especialmente para os jovens”, explica. O guineense afirma que a Póvoa é uma das cidades com mais jovens mas que nem por isso há um investimento directo nesta classe etária.

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