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A educadora da Póvoa de Santa Iria que diz ter o melhor trabalho do mundo

A educadora da Póvoa de Santa Iria que diz ter o melhor trabalho do mundo

Ana Isabel Miranda é proprietária do jardim-de-infância “A Quintinha da Piedade”

Gosta do que faz e chegou onde chegou escolhendo ela própria o seu caminho e arriscando com a generosidade própria de quem é jovem e acredita em si. Ana Isabel Miranda é educadora de infância e proprietária do jardim-de-infância “A Quintinha da Piedade”, na Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira. Trabalha para que as crianças se sintam como se estivessem em família. Segundo ela, isso faz toda a diferença num mercado onde os empresários querem ter cada vez mais crianças em vez de privilegiarem a qualidade do serviço prestado. Lamenta que Portugal seja um mau país para os empreendedores e critica a elevada carga fiscal, que impede os negócios de florescer.

A história de Ana Miranda começa há 37 anos , no bairro de Alvalade, onde nasceu. Desde cedo sentiu vontade de ter uma profissão ligada à educação. Chegou a namorar a ideia de ser professora de História mas abandonou-a. Frequentou colégios em Lisboa e na Póvoa de Santa Iria. Quando entrou no Politécnico de Santarém para tirar o curso de educadora de infância mudou-se para a cidade escalabitana. Em 1997, quando acabou o curso, já sabia que tinha o seu primeiro emprego em Moscavide. “Apanhei a fase da paixão pela educação do António Guterres e houve muitas educadoras do privado a abandonar o trabalho para entrarem nas vagas do ensino público. Isso deixou muitas vagas por ocupar no privado e foi aí que entrei, no Centro Social e Paroquial de Moscavide”, recorda.Trabalhou três anos e meio na instituição, lidando com bastantes crianças de diferentes estratos sociais e confessa que já alimentava o desejo de ter um espaço seu, onde pudesse desenvolver as suas ideias e aplicar o que considerava serem as melhores práticas. “Quando acabamos o curso somos muito idealistas e acreditamos que a nossa forma de educar é a melhor. Eu acreditava num espírito mais familiar e pequeno”, recorda.Um dia, enquanto lia o jornal, Ana encontrou um anúncio sobre o trespasse do jardim-de-infância “A Quintinha da Piedade”, que na altura se situava em frente da Quinta Municipal da Piedade. “fui ver o espaço. Estavam a começar. Ainda só tinham um ano e muito poucas crianças. As pessoas estavam cheias de trabalho e a tirar pouco rendimento e por isso quiseram desfazer-se do jardim de infância. Conversei com a minha família e arrisquei”, conta. Corria o ano de 2001 quando Ana Miranda se despediu do emprego seguro em que se encontrava para agarrar o seu sonho. “Os primeiros dias correram muito bem, quando somos novos acreditamos e não vemos as dificuldades, é tudo fácil. Entregamo-nos ao projecto e foi isso que aconteceu. Começou logo a haver muita adesão”, recorda. Com o passar dos anos o projecto evoluiu e abandonou as antigas instalações para se localizar no Tágides Parque, uma zona residencial de classe média/alta da cidade onde a oferta de jardins-de-infância era muito diminuta.Ana Isabel Miranda trabalha hoje 12 horas por dia, “no mínimo”, mas diz que isso pouco importa quando se está a fazer o que se gosta. “A maior parte dos donos de jardins-de-infância não são educadores. São enfermeiros, professores ou gestores. E isso faz toda a diferença”, defende. Para Ana Miranda os jardins-de-infância “não são fábricas” onde se “despejam conteúdos” mas antes locais onde se formam pessoas. “Às vezes é mais importante comprar um brinquedo ou um jogo do que ter o dinheiro numa caixa”, defende.A educadora diz que o que distingue o seu serviço dos restantes é a relação de proximidade. Cada família e cada criança têm um acompanhamento personalizado. Ao todo “A Quintinha da Piedade” tem sete colaboradores e 25 crianças. Já foram mais, mas a crise tem esmagado as carteiras dos clientes. Além de refeitório e recreio o jardim-de-infância tem também duas salas de actividades. Afirma não estar arrependida de ter arriscado mas admite que é difícil ser-se empreendedor em Portugal, por causa da burocracia e da falta de dinâmica económica. “A sobrecarga de impostos também poderia ser diferente e isso daria uma grande ajuda”, refere. Entre os principais problemas que Ana identifica nos pais estão as situações de desemprego involuntário ou inesperado, que os deixa sem possibilidade de recorrer aos serviços dos jardins-de-infância. “Os pais têm muitos problemas por causa das questões económicas. Muitos conseguem ter capacidade para educar um filho mas quando chega o segundo enfrentam graves problemas. Às vezes as pessoas planeiam o segundo filho mas caem no desemprego durante a gestação e as coisas apertam. Nessa altura as crianças deixam de fazer algumas actividades e passeios e as coisas mudam um bocado”, lamenta.
A educadora da Póvoa de Santa Iria que diz ter o melhor trabalho do mundo

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