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Há cada vez menos alfaiates ao serviço dos ranchos folclóricos

Há cada vez menos alfaiates ao serviço dos ranchos folclóricos

Já não existem muitos alfaiates e costureiras e os mais novos não se interessam por essa actividade.

Os ranchos folclóricos têm cada vez mais dificuldade em encontrar quem faça os trajes típicos representativos de outros tempos e que os seus elementos usam durante as actuações. E se os mais novos não se interessarem pela arte vai ser difícil dar continuidade à tradição de representar a vida nos finais do século XIX e início do século XX. Quem o diz é Ludgero Mendes, um apaixonado pela etnografia e director do Festival Internacional de Folclore Celestino Graça, que se realizou na semana passada em Santarém.O Grupo Académico de Danças Ribatejanas dispõe de três costureiras, todas com mais de 60 anos, do concelho de Santarém, a quem recorre quando pretende fazer um novo traje. O problema é que os mais novos não se interessam por essa profissão e daqui a uns tempos a continuidade pode estar em causa.Também é cada vez mais difícil encontrar tecidos exactamente iguais aos que se usavam há cem anos. “Naquela altura os tecidos eram quase todos naturais. Hoje é muito raro encontrar tecidos que não tenham fibra sintética”, explica Ludgero Mendes. A grave crise financeira que afecta Portugal também se reflecte na compra dos trajes. Os tecidos com mais algodão e linho são mais caros o que leva muitos grupos etnográficos a optarem pelo mais barato, mesmo que não seja o mais recomendável. Os grupos federados têm que seguir as regras. “Quem encomenda os trajes deve saber bem o que pretende, senão sujeita-se a comprar uma coisa que o comerciante lhe quer vender e que pode não ser a mais apropriada”, sublinha o etnógrafo.No Grupo Académico de Danças Ribatejanas existe um fundo de maneio próprio para comprar trajes. Quem quiser pode comprar os seus próprios fatos - que podem custar até 600 euros - mas quem quer dançar folclore não o deixa de fazer só porque não tem dinheiro para comprar o traje. “Quem quer, e tem disponibilidade financeira para o fazer, compra o traje. Quem não tem dinheiro não vai sair do rancho. Temos trajes para toda a gente”, esclarece. Ludgero Mendes explica ainda que o grupo possui trajes muito antigos tendo assim a garantia que os tecidos são mais antigos e os trajes mais fidedignos. Comprar trajes todos os anos, explica, seria uma despesa incomportável e a qualidade dos tecidos diminuiria de ano para ano.Criada Liga dos Amigos do Festival Celestino Graça para manter vivo o eventoDepois de o ano passado ter ficado no ar a dúvida que o Festival Internacional Celestino Graça poderia acabar por falta de apoios, tal não aconteceu. Este ano estiveram presentes grupos da Colômbia, Eslováquia, Espanha, Hungria e Portugal. A organização já garantiu a continuidade do festival até 2014, ano em que se comemora o centenário do nascimento de Celestino Graça. “De costas ou de barriga vamos fazê-lo”, garante Ludgero Mendes.O apoio de 750 euros do município, para uma despesa total na ordem dos 30 mil euros, não é suficiente. Por isso, a organização criou recentemente a Liga de Amigos do Festival Celestino Graça. Para pertencer à liga só tem que preencher uma ficha e pagar 10 euros por ano. O objectivo é conseguir uma rede de amigos que consiga financiar metade dos encargos com o festival. Os dez euros são um valor simbólico e quem quiser dar mais dinheiro pode fazê-lo. Quem quiser ser amigo da Liga dos Amigos do Festival Celestino Graça mas não tiver possibilidades de pagar os dez euros anuais também se pode inscrever. “Qualquer pessoa pode ser membro desta liga de amigos”, explica Ludgero Mendes.Também estão previstas para o ano diversas actividades para assinalar os cem anos do nascimento do fundador do Grupo Académico de Danças Ribatejanas e da Feira do Ribatejo, o que vai ajudar a angariar fundos para patrocinar o festival.
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