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O agente de execução que tenta sempre deixar as emoções no escritório

O agente de execução que tenta sempre deixar as emoções no escritório

João Mileu tem 45 anos e não lhe falta trabalho na área das penhoras

João Mileu é um agente de execução que adora o seu trabalho e tenta sempre deixar as emoções no escritório quando sai em trabalho. Nunca se sentiu ameaçado apesar de reconhecer a perigosidade da profissão. Queria ter sido piloto de aviões mas o destino cortou-lhe as asas.

Aos 45 anos o agente de execução João António Mileu, de Alverca do Ribatejo, é um homem feliz com a sua profissão. Apesar de reconhecer os riscos do seu trabalho - um colega foi baleado mortalmente na semana passada com um tiro de caçadeira - diz que nunca sentiu medo e que sempre conseguiu trabalhar com normalidade. E trabalho é algo que não tem faltado nos últimos tempos, fruto também da actual crise económica. O seu trabalho começa depois de ser nomeado por um advogado, que intenta uma acção junto do tribunal para pagamento de uma dívida. João Mileu é o agente que vai ao local tratar da entrega do bem ou restituição de posses que permitam saldar o valor em dívida. O que mais tem aparecido na secretária são processos relativos a dívidas de empresas. “Temos pessoas que tiveram azar na vida e outras que fazem isto por hábito e já são reincidentes na situação. Há pessoas que são quase profissionais a contrair dívida. Esses são os mais difíceis de encontrar porque o que hoje está aqui amanhã já não está. Já me aconteceu ter gente que nunca consegui encontrar e que está sempre a fugir, sobretudo empresas”, explica. Por várias vezes já teve de interferir entre o exequente e o executado para evitar que estes começassem à pancadaria. Diz que só em alguns casos pede à polícia para o acompanhar, sobretudo quando a visita envolve o arrombamento da habitação. “No nosso dia-a-dia temos de deixar a parte emocional e o coração de lado. Já fiz um despejo em que havia crianças e a segurança social e a junta de freguesia não puderam ajudar. Eram quatro menores e a mãe em casa, onde havia taças com restos de cereais e leite com moscas, garrafas de leite com beatas lá dentro, tudo me ficou marcado”, lamenta. Quando vai executar uma empresa, João Mileu já tem um valor estimado para cada tipo de bem. Obras de arte e automóveis topo de gama são sempre bens apreciados. João Mileu já chegou a penhorar carros de luxo como da marca Ferrari. “Mas nunca os conduzo, apenas fazemos a retenção da documentação e das chaves, ficamos fiéis depositários até que a dívida seja regularizada”, explica.João Mileu é também solicitador e trata de todas as questões de solicitadoria como partilhas, certidões ou contractos de promessa. Natural do distrito de Portalegre, veio com os pais para o Forte da Casa quando tinha dois anos e desde então não abandonou a região. Tem escritório em Alverca. Quando era pequeno queria ser piloto de aviões e chegou a ser dado como apto nas provas de aptidão mas a chegada de muitos voluntários à Força Aérea impediu-o. O seu primeiro emprego foi no ATL da fundação Cebi, a acompanhar crianças nas idas à praia. Depois trabalhou numa pastelaria, num snack-bar e num restaurante. “Surgiu depois a oportunidade de ficar a trabalhar na Junta de Freguesia do Forte da Casa a dar apoio jurídico à população. Pouco depois acabei por tirar o curso de solicitadoria que era dado pela Câmara dos Solicitadores e entrei nesta área”, explica. Sempre com vontade de aprender mais João Mileu acabou por tirar uma especialização em execução e desde então tem estado dentro dessa área. Diz que gosta do que faz porque lhe permite contactar com várias pessoas de todo o tipo de etnias, desde o muito pobre ao muito rico. Quer continuar na profissão por muitos anos. Para João Mileu a procuradoria ilícita é um “grande problema” que está longe de ser erradicado da sociedade. Diz que esta prática ainda existe graças à conivência das entidades públicas e que é preciso uma fiscalização mais intensa e rigorosa. “A fiscalização devia começar pelos balcões das finanças, notários e conservatórias. Existe muita conivência e continua a existir. Vê-se gente a fazer de tudo, desde angariar clientes a cobrar-lhes dinheiro”, critica.
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