Um advogado sem paixão pelo trabalho é como uma máquina sem alma
Carla Miranda quis ser advogada desde criança e conseguiu alcançar o sonho
Advogada tem escritório na Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira. Exerce a profissão há 13 anos e garante que não está arrependida de ter seguido advocacia.
O segredo para se ser um bom advogado é ter a dose certa de paixão pelo trabalho que se desenvolve. Um advogado demasiado emocional é prejudicial para o cliente, mas a ausência completa de emoções também não favorece a imagem do profissional. Por isso, defende Carla Miranda, tudo é mais fácil quando o advogado exerce a sua profissão com gosto e vive cada caso como se fosse o primeiro, com empenho e um pouco de paixão.Carla Miranda, 39 anos, é advogada de profissão e tem escritório na Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira. Exerce a profissão há 13 anos e garante que não está arrependida por ter seguido advocacia. Desde pequena que queria ser advogada embora admita ser uma mulher com capacidade para seguir outras profissões se necessário. Reconhece que é uma actividade exigente e desgastante, sobretudo nos primeiros anos em que os jovens licenciados são obrigados a encontrar um espaço onde montar escritório e arranjar a sua carteira de clientes.Carla Miranda licenciou-se na Universidade Internacional, apesar de sempre ter sido sua vontade ingressar na Faculdade de Direito. “Acabei por ter excelentes professores, que eram os mesmos da faculdade pública, e fiz grandes amizades”, recorda. Carla Miranda presta serviço em vários ramos do Direito, sobretudo o civil e criminal. É natural de Lisboa, da freguesia de Alvalade. Ainda hoje é lá que reside a maioria da sua família. A sua relação com o concelho de Vila Franca de Xira vem da infância, depois dos avós terem construído uma moradia na vizinha localidade de Santa Iria da Azóia (Loures). Na adolescência foi para o agrupamento de escuteiros da Póvoa, que era o único nas proximidades. Criou laços de amizade com vários moradores da cidade que perduram até aos dias de hoje. Presta serviço na comarca de Vila Franca e garante que a Póvoa é uma boa cidade para trabalhar. “Tem uma característica interessante que é estar num concelho muito diversificado. Na Póvoa há desde pescadores a pessoas que são de empresas médias e grandes, tem um grande misto de actividades e pessoas. E está perto de Lisboa, que é a capital do país. É a cidade do concelho que está mais perto do campus da justiça. Para mim é tão longe ir ao campus em Lisboa como ir a Vila Franca”, explica.Apesar de não ser fácil para Carla desligar-se dos problemas dos clientes no final do dia, admite a O MIRANTE que os anos de profissão “já vão endurecendo” a forma como olha para os vários casos. Os casos envolvendo crianças são os que mais lhe tocam. “Diz-se que um advogado não deve ser demasiado emocional mas eu não concordo. Gerimos muitos sentimentos das pessoas, como sentimentos de raiva, justiça ou amor. Parece-me que tem de haver alguma emoção no meio disto tudo. Se não houver paixão e emoção os códigos ficam esvaziados. Se o advogado não tiver paixão no que faz é uma máquina”, nota. Diz que não tem por hábito recusar processos apesar de admitir que já o fez por várias vezes depois dos clientes não se revelarem pessoas honestas. “Alguns já me deram, para apresentar como prova em tribunal, documentos obtidos de forma ilícita e falsos”, diz. Em tempos ponderou a magistratura mas hoje em dia admite sentir-se confortável com a sua posição. “Torna-se tudo mais fácil quando conseguimos partilhar o escritório com outra pessoa. Esta é uma profissão que permite gerir o meu tempo. Antigamente trabalhava umas 12 horas por dia. Depois de nascer a minha filha não faço mais de sete ou oito horas por dia. Não quero abdicar dos primeiros meses de vida da minha filha”, explica. Para Carla Miranda um dos seus desafios de vida seria participar numa missão humanitária. “Se não precisasse de trabalhar teria como profissão ajudar outras pessoas, como as assistentes sociais, por exemplo”, refere. A causídica admite que a legislação é feita de modo a permitir “mais do que uma interpretação” mas garante que continua a acreditar na justiça. “A justiça é para todos, ricos e pobres. Se não acreditasse nisso fechava a porta. Durante muitos anos fiz apoio judiciário e nunca tratei esses clientes de forma menos digna ou com menor atenção que um cliente particular. Sempre usei as mesmas capas com um apoio judiciário. Cheguei a ir a uma instituição de acolhimento de jovens na fronteira portuguesa em que fiz 400 quilómetros que não me foram pagos. Tudo depende do profissional”, conclui.
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